Capítulo 1 - Salva pelo gongo

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Manicômio Estadual de Danvers, 1934

Lá estava ela novamente, sentada em uma sala um pouco mais ventilada do que o quarto sujo em que ficava a maior parte do tempo - dias, noites, semanas.

Senhor Danvers queria conversar com ela, mais uma vez, à respeito daquela tarde, - tarde esta que Mandleth não gostaria de recordar, já que fora por causa dela que viera parar ali - mas não adiantava o número de sessões, Mandleth parecia indiferente ao que fizera, como se tivesse esmagado um inseto com a sola dos sapatos.

-Escute, Mandleth... Já se passaram sete anos, você deve colaborar, para que eu possa colaborar com você.

E ele falava isso com um sorriso torto nos lábios, sorriso este que deixava aquela garota de apenas quatorze anos atormentada e atônita. Mas, mesmo assim, sua cabeça movimentou-se da esquerda para à direita, mostrando que ela nada mais falaria. Que escolha fizera!

O sorriso torto se desfez enquanto, com o dedo, o doutor Danvers chamava um de seus subordinados - médico falido que fora despedido por incompetência.

-Por favor...

Mandleth retorceu-se na cadeira, mas não conseguiu arrancar nada mais do que um suspiro dos lábios daquele homem. O enfermeiro a segurava com firmeza, arrastando-a para fora da sala. Por breves instantes em que estava à debater-se, a garota fechou e abriu constantemente os olhos, e ela teve um vislumbre de Bolgerhay, parte remota do reino de Melfortin. Ver àquela floresta era realmente assustador, ainda mais na parte em que se encontrava, onde as sombras se reunião. Mas não fora isso que chamara sua atenção: lá estava o senhor Danvers, com uma aparência mais velha e a regata branca manchada de algo avermelhado, em suas mãos encontrava-se um machado, mas ao chão não se encontrava nada mais do que algumas toras de madeira.

Mas tal visão não durou muito. Ao passar pela porta, agora imóvel, Mandleth começou a ver novamente o muno real. "Outra alucinação, garotinha?" falou o homem com um tom absurdo de sarcasmo em sua voz. "Depois da lavagem você irá se sentir melhor" ele riu, enquanto ela, errônea e ingenuamente, tentou ataca-lo com os cotovelos.

Enquanto passavam pelo corredor avistaram um enorme homem sendo preso na cela ao lado da da garota. Mandleth ficou com medo, à princípio, e relutou mais uma vez para não ter que passar por ele - mas era inevitável. De súbito o que ela temia aconteceu: o homem conseguiu desprender um de seus braços e avançou para cima do enfermeiro que segurava Mandleth e ela própria. Ela fechou os olhos enquanto prendeu a respiração, receosa de abri-los e se deparar com o pior.

Sentiu em seu rosto uma brisa suave, mas um rugido estrondoso deixava tal momento assustador. Seria o homem que estava fazendo aquilo? Não queria saber. Foi então que ouviu a voz de Danvers. Ele estava atrás deles esse tempo todo? Não havia percebido.

Por fim uma mão segurou firmemente seu ombro, e ela se sentiu obrigada à abrir os olhos e ver quem a estava segurando.

Um estalo rompeu os urros estranhos e o homem desconhecido caiu inconsciente no chão, atrás dele restando apenas um dos guardas do local com uma arma de choque.

Atônita, Mandleth virou o rosto para o lado, seguindo a extensão do braço que a segurava e se deparando com Danvers, sorrindo. Todo aquele momento fora tão desconcertante que nem percebera que o enfermeiro à havia soltado.

-Bem, Mandleth, você está liberada por hoje. Parece que teremos de cuidar de algo maior...

Seus olhos estavam fixos nos dela e ela não conseguiu desviar. O senhor Danvers sorriu acolhedoramente, mas sua mão grande e ágil permaneceu sombre o ombro delgado da jovem.

-Obrigada... -disse, finalmente, ao notar que o homem não a deixaria ir sem que dissesse alguma coisa.

Ela regressou em silêncio para sua cela, pensativa sobre o que havia acontecido instantes atrás. Atrás de si, o barulho da porta se fechando foi a única coisa que tornou à ouvir - até mesmo os sussurros dos guardas e enfermeiros cessaram.

Foi então que, isolada, caiu de joelhos no chão,gritando internamente pela dor de cabeça que sentira naquele exato momento, dor esta que saia da fonte motriz e percorria suas veias, como um liquido grosso, difícil de se locomover em espaços pequenos.

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⏰ Última atualização: Jul 09, 2015 ⏰

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