As músicas que eu não te dediquei

Capítulo 1

Miyagi, 2013

Era noite, o treino acabou mais tarde do que nos outros dias. Todos estavam animados pela volta do campeonato intercolegial, esse é um dos motivos para eles estarem treinando até tão tarde . Agora que o Karasuno tinha novos jogadores, eles precisavam de mais preparo, não tinham mais os antigos terceiranistas com eles.

Mas o time continuava bem, Shoyo estava cheio de esperanças para esse ano, ele quer ir aos nacionais de novo, ir mais longe do que na última vez, quem sabe até ganhar. Enquanto varria o chão, ele olhava nada discretamente para Tobio, que estava colocando as bolas de volta no carrinho. Ele também parecia ansioso, mesmo que não demonstrasse bem.

— Você não se sente estranho? — Shoyo ouve a voz do levantador.— Estamos no segundo ano agora, logo estaremos no terceiro.

Essas palavras mexeram com Shoyo, seu companheiro não era de demonstrar esse tipo de preocupação. Tobio sempre foi fechado a tudo, era como se ele só pensasse em vôlei (talvez ele realmente só pensasse em vôlei). Quando estava com Shoyo, ele parecia se abrir mais, mas ainda não era o suficiente. Ele queria saber tudo que Tobio sentia, queria fazer parte dele.

— Um pouco, mas não é um estranho ruim. Estou animado para os desafios desse ano, a minha vontade de vencer ainda não se esgotou. — O ruivo segurava o cabo da vassoura com força enquanto falava, como se estivesse palestrando. — Ei, é melhor você não amarelar agora, viu? Eu quero te vencer, mas não vai ter graça se você simplesmente desistir.

Kageyama fez uma careta, desistir? Ele não era louco de desistir, a aposta ainda estava de pé e ele iria ganhar!

— Eu vou te fazer comer poeira, idiota.

A quadra já estava organizada, os dois fecharam o local e seguiram o mesmo caminho de sempre. Na próxima rua, os dois iriam se despedir como sempre, com o simples “Até amanhã”. Essas voltas costumavam ser quietas, mas hoje não, Tobio estava bem inquieto, e isso era um meio estranho, mas Shoyo não reclamou, ele não via problema nisso

— Hinata, eu tenho que te falar uma coisa.. — Os passos dos dois pararam ao mesmo tempo, como se estivessem conectados. — Eu tenho algo para te mostrar, mas você tem que me prometer que não vai rir.

— Você sabe que eu não me controlo, né? — Merda, Shoyo já estava rindo e Tobio já se arrependeu de querer mostrar algo a ele. O levantador o olhou irritado, repensando se realmente se arriscaria a aquilo. — Mas vou tentar meu melhor, eu juro. Agora mostra o que você quer mostrar porque eu já tô curioso.

— Idiota, eu juro que se você rir eu acabo com você.. — Ele agarrou sua bolsa nas mãos, tirando seu celular lá de dentro. Shoyo pensava no que o mais alto queria mostrar, talvez uma foto vergonhosa? Ou uma fofoca super secreta que Kageyama não poderia contar para ninguém?

Mas, para a infelicidade dos dois, o celular não ligou, estava sem bateria.

— Eu… Esqueci de botar o celular no carregador enquanto a gente jogava, merda. — Kageyama resmungou, com vontade de jogar essa merda retangular para longe.  — Amanhã eu te mostro, Hinata.

— EI! Eu vou explodir de curiosidade se eu tiver que esperar até amanhã, Bakayama. — Realmente, Hinata ficaria a noite inteira pensando no que Kageyama quer mostrar, com certeza não vai dormir.

— Tá bom. Quando eu chegar em casa, eu coloco o meu celular para carregar e quando ele estiver com bateria eu te mando o negócio, pode ser? — Ótimo, agora não seria tanto tempo de espera, mas Hinata faria questão de lotar o chat de Kageyama com mensagens, até que o levantador respondesse.

— Certo! Preciso ir agora, tô cheio de frio. Até amanhã, Kageyama!

— Até amanhã, Hinata.

—    •    —

POV Hinata

Eu olho o telefone por talvez a vigésima vez só essa noite, nada ainda. Droga, eu não deveria ter acreditado no idiota do Kageyama, é óbvio que ele chegaria em casa e iria direto pra cama. Mas amanhã ele vai ver, eu vou arrancar o celular da mão dele e ver essa coisa que ele tem pra mostrar, aliás eu já sei a senha dele, não vai ser difícil.

Não consigo dormir, esse assunto me deixou muito ansioso. Ele parecia tão envergonhado enquanto pegava o celular, estava fofo..
Droga, Hinata Shoyo! Não comece com essa sua paixonite boba no levantador idiota, é perda de tempo, uma bobagem total. Kageyama com certeza não gosta de mim do jeito que eu gosto dele, ele é 100% vôlei, nunca deve ter gostado de alguém.

E nós dois nem faríamos um bom casal, eu acho. Ele é esquentadinho demais, se já brigamos sendo amigos, imagina se fôssemos namorados? Eu não aguentaria um dia na mesma casa que ele! Acabaríamos matando um ao outro. Se bem que, não seria tão ruim, só nós dois, juntos.

Mas que inferno, por que eu fui me apaixonar logo pela pessoa que eu prometi derrotar? Não deveria ser assim.

Não quero mais pensar nisso, só quero dormir. Kageyama não está nem recebendo minhas mensagens, o que significa que seu celular está desligado. Já são onze horas da noite e amanhã eu tenho que treinar, tenho que dar meu melhor.

—   •   —

“Até amanhã, Hinata.” Ouvi a voz dele dizer, e era tão diferente dessa vez, parecia tão suave. Isso era uma lembrança ou um sonho? Estava de noite, estávamos usando a mesma roupa de sempre, mas era diferente, ele estava triste dessa vez, ele não estava triste ontem.

Ele começou a chorar, Tobio nunca chorou na sua frente antes. Por que? Por que seu corpo parecia tão distante do meu, mesmo quando estávamos tão perto?

Eu abro os olhos, estou em casa. Isso foi um sonho, e com certeza um sonho bem estranho, eu nunca sonhei com o Kageyama antes, não imaginei que meu primeiro sonho com ele fosse ser assim.
Enfim, hoje é o nosso último treino da semana, é só mais um dia normal.

Me levanto da cama e pego meu celular, e esse foi meu maior erro. O que são todas essas ligações perdidas? DE TODOS DO TIME? Eu nem estou atrasado!
Abro no meu chat com o Kageyama, ele foi o único que não me ligou, e ainda não recebeu minhas mensagens, idiota. Se ele não aparecer com essa merda de celular hoje, eu acabo com ele.

Não demorei muito para me arrumar e sair de casa, todas essas ligações me deixaram muito nervoso para ficar enrolando na cama. Quero chegar no colégio logo, quero saber do que estão falando, preciso falar com Kageyama.

E de repente, eu cheguei, e logo eu estava na frente da quadra. As portas estavam abertas, mas não tinha quase nenhum barulho saindo de lá, nem o das bolas de vôlei caindo no chão. O que será que aconteceu?

Senti meu corpo tremer, algo estava estranho, esse não era mais um dia normal. Eu entrei na quadra, por que os ex-terceiranistas estão aqui? Por que todos parecem tão tristes?

— Gente? O que aconteceu? — Perguntei. Droga, minha voz saiu trêmula. Todos estavam olhando para mim, isso é angustiante. E o pior, onde está Kageyama? Todos estão aqui, menos ele.

— Hinata. — Ouvi a voz do treinador Ukai, ele parecia tão diferente do Ukai que eu estou acostumado, que porra é essa? — O Kageyama, ele…

— Ele sofreu um acidente e acabou falecendo, Hinata.