Era uma vez, há milênios, os seres humanos da Terra e os habitantes de Celestivale viviam em uma harmoniosa coexistência. Naqueles tempos imemoriais, era comum que os Cupidos descessem ao mundo dos homens, trazendo consigo a magia e o esplendor de seu reino celeste. Em um desses encontros, Valerius Stormborn, o rei dos Cupidos, apaixonou-se profundamente por uma mortal de rara beleza e bondade.
Dia após dia, Valerius visitava sua amada, trazendo-lhe flores encantadas e outras maravilhas que não existiam no mundo humano. Contudo, a crescente maldade nos corações dos homens tornou-se um pesadelo inevitável. Valerius, consumido pelo desejo de proteger sua amada, tentou levá-la para o Reino de Cherubim, onde os Cupidos viviam em paz e serenidade. Mas, à medida que o ódio dos humanos pelos seres celestiais crescia, uma tragédia ocorreu: sua amada foi cruelmente assassinada.
Tomado por uma dor insuportável e consumido pelo ódio, Valerius decretou que, em Celestivale, nenhum Cupido poderia mais ter contato com os humanos. Aquele que desobedecesse seria punido severamente por toda a eternidade. Com um poderoso feitiço, Valerius fez com que os humanos esquecessem completamente a existência dos Cupidos, encerrando assim aquela dolorosa história.
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Romênia, Bucareste, 07:30 (Ano 1990).
Naquela fria manhã de outono, uma jovem conhecida por todos como "a zangada" preparava-se para mais um dia de colégio. Seu rosto refletia o habitual mau humor enquanto vestia apressadamente o uniforme escolar: uma saia xadrez de cores preta e verde-claro, acompanhada de uma blusa social branca. Movendo-se desajeitadamente, saiu correndo de casa, tentando não se atrasar novamente.
As ruas de Bucareste estavam cobertas por uma fina camada de neblina, e as folhas secas faziam um leve ruído sob os pés da jovem enquanto ela corria. Ao chegar à escola, já ofegante, foi recebida pela voz firme de sua professora.
- Atrasada de novo, Elara? - a professora a encarou com um olhar severo.
- Desculpe, professora, o sono estava tão bom que eu perdi a hora - respondeu, tentando esconder o desconforto. Seus colegas riram, achando que era uma piada, mas para ela não havia graça nenhuma.
- Sente-se. Na próxima vez que chegar atrasada, não assistirá à aula e irá diretamente para a diretoria, entendeu, senhorita? - A professora advertiu, e a jovem, relutante, assentiu com a cabeça.
Elara apelidara sua professora de "bigoduda" por causa da verruga no canto da boca, da qual cresciam pelos semelhantes a um bigode. Durante a aula, observava um de seus colegas, que discretamente entregava uma barra de chocolate à namorada. Para ela, o amor não passava de uma invenção humana, um conceito tão fictício quanto as mitologias gregas.
Nunca entendia por que as pessoas se importavam tanto com o amor, namorar, ou se apaixonar. Para ela, "paixão" era uma palavra risível, uma comédia criada pela imaginação fértil dos homens.
- Está viajando para a lua, Elara? - a professora chamou sua atenção, cruzando os braços com impaciência.
- Se me der dinheiro, eu fujo até do planeta Terra - murmurou baixinho, mas a professora ouviu.
- Para a diretoria, agora! - a professora exigiu, anotando rapidamente a detenção em um pedaço de papel.
- Ok - respondeu a garota com desdém, entregando o papel na diretoria e dirigindo-se à sala de castigo.
Ao entrar, encontrou seu melhor amigo já sentado. Ambos riram da situação.
- O que você aprontou desta vez? - perguntou, sentando-se ao lado dele.
- Cheguei atrasado. E você? - ele respondeu, com um sorriso.
- A bigoduda ouviu o que eu murmurei e me deu detenção. - suspirou. - Que coisa, né? - Ambos riram novamente, partilhando o infortúnio.
Com o passar das horas, Elara guardou suas coisas na bolsa. Diferente dos outros alunos, que corriam desesperadamente para pegar o ônibus, a jovem preferia caminhar até em casa. Apreciava a tranquilidade da natureza ao longo do caminho, o canto dos pássaros, a beleza das folhas que caíam suavemente das árvores, e o silêncio reconfortante.
Despediu-se de seu amigo e, enquanto caminhava tranquilamente, assobiando uma melodia qualquer, algo inesperado aconteceu. Uma flecha dourada caiu sobre sua cabeça, fazendo-a exclamar de dor.
- Ai! - massageou a cabeça dolorida. - O que é isso? - Abaixou-se e pegou a flecha, notando que a ponta estava amassada.
- Droga!
Assustada, viu um rapaz de cabelos castanhos e longos, com olhos puxados, emergir das sombras. Sem hesitar, deu-lhe um golpe e o prendeu, utilizando as técnicas de autodefesa que aprendera quando mais jovem.
- Quem é você? - perguntou, confusa e apertando o rapaz com mais força.
- Eu acho que você está me matando - ele respondeu com dificuldade. - Se você me deixasse explicar... - Ele se debatia, tentando se soltar.
- Claro, vou deixar! - Elara começa a negar com a cabeça - Você tentou me matar com essa flecha! - reclamou, ainda mais confusa.
- Deixe eu explicar - o rapaz implorou, quase sem ar. Percebendo isso, finalmente o soltou. Ele recuperou o fôlego e disse: - Prazer, meu nome é Ethan e...
Antes que pudesse terminar, Ethan abriu suas enormes asas brancas e fugiu rapidamente. Elara, paralisada de surpresa, perguntava-se se aquilo era real ou apenas fruto de sua imaginação.
Isso é só um início da história, espero que gostem! Até a próxima.
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As Crônicas de Cherubim: O Feitiço do Rei
RomanceEm um mundo onde a magia e a realidade se entrelaçam, conheça Elara, uma jovem cética e decidida de Bucareste, cujo coração é tão frio quanto um outono romeno. Conhecida por sua aversão ao amor e sua língua afiada, Elara vê o romance como uma farsa...