one

100 15 1
                                    


Minha visão estava turva. Eu não sabia se estava no caminho certo, mas ninguém havia ousado me parar. A sensação de traição e luto se misturavam e doíam, de uma forma que chegava a ser física. Minha cabeça ardia, e meu rosto estava alagado pelas lágrimas. Por um momento, eu simplesmente explodi. Nunca fui alguém transparente em minhas frustrações, nunca havia levantado a voz, mas agora gritei. Gritaria até perder a voz se não tivesse sido arrastada por um guarda da fortaleza até algum lugar desconhecido. Quando ele me soltou, senti o chão frio chocar contra meu corpo e continuei lá, com o rosto vermelho e os olhos inchados, chorando como um recém-nascido faminto.

— Bom, aqui está a copeira, meu rei — disse uma voz que não reconheci.

— Lady Alarra, meus pêsames pela sua perda. Não imagino como seria perder tantos parentes de forma tão repentina, especialmente quando se é tão jovem — disse a voz da Rainha Mãe.

—Estamos em guerra. Ele havia prometido que cuidaria de mim, então por que me deixou assim? Eu quero voltar para casa com meu irmão— disse, tentando secar minhas lágrimas com dificuldade.

— Por favor, tirem isso de mim. Entendo as consequências, mas esse bebê é um Blackwood. Não vou ter um filho de um assassino. Sua família matou pessoas do meu sangue, e isso acontece há milhares de anos. Antes da conquista, eles já nos atacavam, e agora nos chamam de traidores por termos abandonado seus falsos deuses e recusado nos curvarmos a uma assassina de bebês. Fui tola.

—Essa criatura não estaria em meu ventre se eu tivesse escutado meus pais. Seu pai matou meu irmão, e agora o tio dele matou meus primos. Se continuar assim, ele irá me matar, e eu não quero morrer sendo uma Blackwood. Quero ir embora desse mundo com o nome que vim, quero morrer como uma Bracken que não se curvou para algo em que não acreditava. Quero ser livre e ter minha inocência de volta.

— Entendemos suas frustrações, Lady Alarra. Porém, pelo que sabemos, seu casamento não envolveu nenhuma obrigação além das testemunhas. Portanto, é impossível desfazer essa união pelos Sete. O bebê que você carrega já está grande, e você é muito jovem. Não será possível interromper a gravidez sem deixar consequências irreversíveis, podendo levá-la à morte — disse o meistre da fortaleza, fazendo-me abaixar a cabeça.

— Larra, como Rei, prometo a você que seus parentes serão vingados. A coroa está em dívida com sua casa por terem ajudado nesta guerra.—

— Eu quero a cabeça deles. Quero todos os Blackwood com suas cabeças empaladas e expostas. Quero que suas vacas sejam dadas como comida para os seus dragões — disse, meus olhos repletos de ódio e minha voz carregada de veneno.

— Você terá isso. Pelo seu tempo como dama de companhia de minha esposa, cuidadora de meus filhos e copeira, seu desejo será atendido. Agora vá até Helaena para procurarem insetos. Você pode estar grávida, mas ainda é uma criança. —

— Obrigada, Egg —, respondi, curvando-me antes de sair e seguir até os aposentos da consorte.

Após ser anunciada, entrei no novo quarto da Rainha e encontrei as outras damas de companhia sentadas em uma mesa, conversando. Helaena estava deitada no chão, brincando com uma aranha em seu braço, e os gêmeos brincavam com os dragões de madeira na cama.

— Larra, chegou uma carta para você — disse Ellyne, pegando a carta e estendendo-a para mim. O brasão no selo era inconfundível, e meu coração apertou de raiva. Como ele ousava me enviar uma carta após dizimar minha família?

Com mãos trêmulas, quebrantei o lacre e abri o pergaminho. As palavras escritas ali eram como punhais em meu peito. Ele não tinha vergonha, não sentia remorso. Apenas frieza e indiferença.

"Minha querida Alarra,

Sei que nossos caminhos se separaram de maneira trágica e dolorosa. As circunstâncias da guerra nos forçaram a escolhas difíceis, e eu não posso mudar o passado. Mas, mesmo assim, não posso deixar de pensar em você.

Nossas memórias juntos são como fios de seda, delicados e preciosos. Lembro-me dos nossos risos nos jardins, das promessas sussurradas sob a lua. Você era minha luz, minha esperança em tempos sombrios.

Agora, com um filho crescendo em seu ventre, sei que nossa ligação é eterna. Ele carrega o sangue dos Blackwood e dos Bracken, e talvez, apenas talvez, possa ser a ponte entre nossas casas divididas.
Peço que considere minhas palavras. Não como um pedido de perdão, mas como uma súplica por compreensão. O mundo é implacável, mas o amor transcende as barreiras. Seja forte, minha Alarra, e saiba que meu coração está com você.

Com saudade, Benjicot Blackwood"
As lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu relia a carta. Era verdade que nosso filho carregava a herança de duas famílias em conflito. Mas como poderia eu perdoar o homem que havia destruído tudo o que eu amava?

Alarra guardou a carta no peito, sentindo o peso das palavras de Cedric Blackwood. Ela sabia que precisava tomar decisões difíceis, mas antes disso, queria compartilhar suas angústias com aqueles que a rodeavam.

Helaena, a Rainha, estava deitada no chão, brincando com a aranha. Alarra se aproximou dela, sentindo o calor da conexão que tinham. Helaena era mais do que uma consorte real; era uma amiga, uma confidente. Alarra se ajoelhou ao lado dela e tocou sua mão.

— Helaena — sussurrou Alarra, — a carta é dele. Ben ainda acredita que há esperança para nós, para nosso filho."

Helaena olhou para Alarra com olhos sábios. — O amor é uma teia complexa, Alarra. Às vezes, ele nos prende em nós inquebráveis. Mas também pode ser a chave para a paz.

— Você acha que podemos encontrar um caminho? — perguntou Alarra, sentindo-se vulnerável.

Helaena acariciou seu cabelo. —Talvez. Mas lembre-se, Alarra, você não está sozinha. Temos os gêmeos.

Os gêmeos, Jaehaerys e Jaehaera, brincavam na cama com os dragões de madeira. Jaehaerys, o menino, tinha olhos curiosos e um sorriso travesso. Ele adorava Alarra e a seguia como um filhote de cachorro.

— Alarra! — Jaehaerys correu até ela, abraçando suas pernas. — Você vai ficar conosco, não vai?

Alarra sorriu, pegando-o no colo. — Sempre, meu pequeno dragão. Sempre.

Jaehaera, a menina, era mais reservada. Ela observava Alarra com olhos grandes e inteligentes. Alarra se sentou na cama, puxando Jaehaera para o seu lado.

— Jaehaera, meu amor — disse Alarra, — você sabe que pode confiar em mim, não é?

Jaehaera assentiu. — Você é como uma irmã mais velha. Eu gosto de você. —

As palavras de Jaehaera tocaram o coração de Alarra. Ela tinha uma família aqui, mesmo que não fosse sangue. Eles eram sua força, sua âncora.

— Prometo que farei o que for preciso para proteger todos você — disse Alarra, olhando para Helaena, Jaehaerys e Jaehaera.

Helaena apertou sua mão. — Você não está sozinha, Alarra. Somos uma família.








1140 palavras

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 22 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

WRECKAGE OF WAR - b. blackwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora