Capítulo-01- Primeiro Contato.

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Olá! Prontas(os) para conhecer o futuro presidente dos EUA?

Boa leitura!!

Denovan

Em dezesseis anos de vida pública já presenciei todo tipo de situação, no entanto não estou preparado para a cena de total miséria a minha frente. A garota miúda e suja, mas de uma beleza rara, prendeu minha atenção como nada antes. Estou entediado com a campanha e entrar naquele beco sujo das ruas de Los Angeles me causou repulsa. Porém ao cruzar meus olhos com os verdes da menina, algo me prendeu. Acho que seu semblante de conformismo.

Um sentimento de superioridade tomou-me, me fazendo sentir feliz por ter dinheiro e viver no luxo. Encarei-a sem me importar de estar sendo inconveniente. Ela devolve meu olhar com atrevimento. Repórteres e a população solicitam minha atenção, mas estou absurdamente focado na garota de roupas gastas.

A ideia de tirar jovens da rua e dar-lhes um local digno e os integrar a sociedade, foi de meu pai. Meu partido foi de total apoio à ideia, então partimos para ação. Selecionamos esses jovens por todo o país. Virou uma espécie de reality. A mídia sempre acompanha, e já batizou de: "Cruzada da solidariedade", pois não nos prendíamos a um único lugar. Nosso intento é envolver todo o país. Já recolhemos das ruas e remanejamos para casas de apoio de seus respectivos estados, por volta de noventa e nove jovens. Tudo supervisionado por meu pai: O'Neill Tomazine. Ele está crente que essa atitude "solidária" me fará ocupar o cargo mais desejado da América. A presidência!

Tenho experiência e competência de sobra para ocupar a cadeira presidencial. Minha vida pública teve inicio ainda no colegial. Sempre era o primeiro a me candidatar para representante do grêmio estudantil. Depois de formado em direito civil e criminalístico, assumi meu primeiro cargo de presença notória no país, como prefeito de LA. Fui duas vezes senador, sendo que na primeira vez fui eleito o mais jovem candidato. Meus adversários me chamam de Falcão Branco por ter o mesmo estilo implacável de meu avô paterno. Sebastian Falcão é uma lenda politica. Assim como meu pai. Agora é minha vez de fazer história.

Meu governo será visionário. Sonho em ser presidente desde que meu pai assumiu o alto posto dos EUA há oito anos. Homem respeitado e admirado, mas que está em cheque devido a um escândalo de desvio de verba pública de um de seus ministros e braço direito:Jay Corey. Esse caso quase pôs minha candidatura em risco. O partido se recusava a me deixar participar, e fomos para a votação, pela pequena diferença de apenas três votos fui aprovado como candidato legitimo. A repercussão entre a população foi significativa. Tenho grandes chances de vencer meu opositor republicano Daniel Hader.

Entretanto tudo se deve ao fato de ser o bom samaritano. E agora me encontrou diante dessa... Criança, que não deve ter mais que treze anos. Ela me desafia com seu olhar firme ao segurar um filhote de cachorro entre as mãos sujas. Seus companheiros de vida precária também me fitam com ar desconfiado, mas eles não me interessam. Apenas ela.

Os flashes disparam sem pausa, registrando o momento de minha abordagem.

- Quer sair das ruas, menina? - Perguntei sério, sem desviar meus olhos dos seus.

- Está falando comigo? - Perguntou xucra.

- Sim. - Respondi firme.

O burburinho das vozes ao nosso redor, e a música de minha campanha me incomoda sobremaneira. Atrapalhava nosso diálogo.

- Está brincando? - indagou fitando-me desconfiada.

- Não. - respondi prático.

- E porque o tio quer me tirar da rua? - ela ostenta um sorriso zombeteiro.

- Porque sinto que você tem potencial. - Disse o que realmente penso. Com um bom trato e aulas, ela poderá ter uma vida normal. Mas o que estou pensando? É jogo político. - lembre-se idiota. - recriminei-me.

- Não sei que palavra é essa, e também não gosto do seu jeito de falar emproado, tio. - falou atrevida.

Ela é bem selvagem. - analisei sua postura defensiva. Tento pensar em uma maneira de convencê-la a aceitar a minha "ajuda".

- Não quer ter roupas limpas? E comida quente? - Perguntei direto.

- Eu...

A menina vacilou e vislumbrei uma brecha.

- Se você aceitar minha ajuda, terá tudo isso. - Insisti.

- Não confio em você, tio. - Disse com ar atrevido.

Retruquei sem demora:

- Não precisa confiar apenas aceite.

- Se eu aceitar, meu cachorrinho pode ir junto? - perguntou-me ainda com ar suspeito.

Respondi com um sorriso condescendente.

- Acho que não terá problemas.

- Vou ter comida todos os dias?

- Todos os dias, assim como também roupas limpas e poderá estudar.

Os olhos verdes brilharam pela primeira vez desde que os fitei. Sim, a pequena deseja ser alguém. Bom para mim!

- Então? Aceita?

Ela me sorri de lado ao responder:

- Vou aceitar tio.

- Tomazine, a menina será a escolhida ou não?

O tom impessoal e enojado foi murmurado pelo meu assessor pessoal Ashton Smith. Ele não parece estar gostando de se misturar com a ralé. - suas palavras ao intitular as pessoas menos favorecidas. - Com voz baixa confirmei:

- Sim. Ela foi escolhida.

Então sem esperar minha ordem Ashton confirmou para a imprensa que a menina foi escolhida para o projeto. Dois de meus seguranças apareceram do meu lado, e a garota me fitou com receio. Disse em tom baixo:

- Não precisa ter medo.

Tenho que fazer minha parte no show, então segurei o braço da menina, que me lanço um olhar assustado, mas não dei importância e comecei minha encenação, tentando me fazer ouvir através ruído gritei:

- Essa menina será levada para uma instituição onde terá comida, roupas limpas, e o mais importante! Uma vida digna de agora em diante! Então eu digo! Querem que todos tenham esse mesmo destino?

- Sim!

A confirmação foi pronunciada aos gritos por todos os presentes. Continuei minha manipulação:

-- A voz do povo é a voz de Deus! Mas preciso que confirmem essa promessa nas urnas! Com seus votos! Peço que votem no partido democrata! Votem em quem verdadeiramente trabalha!

Ashton gritou:

- Votem em Denovan Tomazine! Votem no homem que mudará nossa nação!

A população gritou em aprovação, e agradeci e ergui a mão que segura a mão da menina, enquanto distribuo sorrisos falsos.

A fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia social.

Gustave Flaubert!

Falcão BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora