— Pare de tremer. — A voz de Leo me fez pular. Eu estava, de fato, tremendo e não tinha nenhuma relação com o vento frio que soprava meu rosto. Era a monstruosa construção à minha frente que me deixava bamba. — Nós conversamos sobre isso, pode me ligar caso esteja em apuros.
Eu quase sorri. Ivydale ficava há duas horas de carro do Blade & Blood. O colégio não ficava em território de nenhum reino, era um lugar completamente livre das leis dos monarcas, possuindo suas próprias regras. Todos os reinos enviavam seus melhores jovens quando eram selecionados, e quando recebiam uma negativa frequentavam os colégios de seus lares.
Minhas esperanças haviam sido frustradas há dois meses, ao receber a aprovação no colégio. Eu já sabia, Leo já sabia, mas tinha sido um tapa seco em nossa cara. Mesmo assim, eu havia fechado o notebook, levantado-me e proposto uma macarronada para o jantar. Leo comprou cerveja e nós ficamos levemente embriagados após isso.
Ele saiu de casa algumas horas depois, provavelmente indo encontrar diversão ou alívio. E eu me sentei no parapeito da janela, terminando o maço de cigarro que estava na gaveta da mesa de cabeceira. Nem a nicotina havia me ajudado, por isso roubei um dos comprimidos de Leo para dormir e apaguei, fugindo finalmente dos meus temores.
Agora estava ali, no pátio do colégio, segurando uma mochila preta velha, cheia de bottons ridículos e uma mala de rodinhas. Consegui colocar quase tudo nas minhas bagagens, eu não tinha muita coisa, mas abandonei os livros em casa.
— Isso pode dar tão errado. — Murmurei, expressando minha preocupação.
— Fique longe de problemas, não chame atenção para si, e estará segura. — Ele apertou meu braço, fazendo-me olhá-lo. Aquele seria o mais próximo de um abraço que Leo poderia me oferecer. — Estarei em Ivydale de olho em tudo, qualquer tipo de ameaça que surgir me trará até aqui e iremos embora.
— Você sabe que não conseguiríamos fugir uma segunda vez.
— Mas tentaríamos. — Ele apertou os lábios. — Se cuida, Kai. Sua mãe estaria orgulhosa da mulher que você se tornou.
Merda. Aquele era o tipo de mentira que doía como uma adaga perfurando meu peito. Minha mãe me odiaria se me visse. Eu era uma confusão rebelde e patética. Tinha mais defeitos do que poderia contar, nenhuma habilidade extraordinária e hábitos inapropriados para uma princesa.
Mas ela te amaria.
Amor. Humpf. Quase me bati pelo pensamento, originado da menininha abandonada que habitava em mim, mas preferi agarrar com mais firmeza a mala e me despedir de Leo com um sorriso forçado.
O colégio era um castelo, uma construção exagerada e nada sofisticada, por ser extremamente antigo. Erguia-se em muros gigantescos e torres ainda maiores, dando um ar de imponência que me fez estremecer enquanto andava na direção dos portões.
Olhei em volta, analisando as dezenas de pessoas espalhadas pelo pátio externo. Haviam diversos jovens. Uma menina passou correndo por mim, ela possuía pele pálida e um cabelo azulado, além de cortes no pescoço e membranas entre os dedos da mão. A garota carregava uma caixa de papelão e gritava o nome de alguém. Possivelmente era uma ninfa da água, mas meus conhecimentos sobre as espécies era limitado aos poucos que eu havia conhecido em Windy e aos livros que havia pegado na biblioteca, nada muito aprofundado.
Um garoto se exibia para uma plateia, usando a água de uma fonte para criar formas no ar, arrancando um suspiro impressionado de uma admiradora. Refleti, ele poderia ser um demônio, ou um elfo da água. Balancei a cabeça e foquei nos portões altos de madeira, eu não estava ali para rotular as pessoas, muito menos para brincar de adivinhação.
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Flores e Trevas
FantasyPor dezenove anos eu vivi na sombras de uma pequena cidade no Reino de iale. Eu continuaria assim, guardando o maior segredo de minha história, se eu não tivesse sido convocada para o Colégio Blade & Blood. Agora eu precisava sobreviver ao maior col...