|No conforto da ausência

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Durante muito tempo, convenci-me da minha própria irrelevância. Não que fosse uma tarefa difícil, claro. Mas também me conveneci do meu próprio esquecimento.

Um dia aleatório, quando ainda era brotinho de árvore, me veio a ideia dos famosos superpoderes. Daqueles onde se podia voar até o infinito e além, deixando para trás tudo aqui que se prendia ao chão, daqueles de dobrar metais valiosos somente com o movimento do mindinho. De correr feito légua na corrida ou até mesmo de voltar para era onde dinossauros ainda andavam sobre a Terra.

Mas o meu favorito com toda certeza era o mais maravilhoso poder de sumir quando deseja-se. 

No momento era apenas uma brincadeira. Me convencer e convencer aos outros galhos de que aquele broto esquisito e desajeitado não passava de de um ser invisível, que não existia e que sequer uma fez já estivera ali. No começo foi difícil aos outros entrarem na brincadeira. Me olhavam torto até mesmo me zombavam pelas costas apenas por um pouco de imaginação a mais.

Então, em uma esperança de arrancar-lhes sorrisos ao invés de zombaria, pegava garrafas, zanzava por aí com elas em mãos e dava urros fantasmagóricos.

Oh...quem poderia estar levitando esses objetos? Fujam! Fujam!

Falava de jeito tão sério, agia como se absolutamente ninguém pudesse ver um pequeno broto se balangando para frente e para trás com xícaras na mão.

No começo era divertido, era infantil, dócil e inocente. Era algo que recorria quando sentia que me faltava atenção, quando a necessidade de sentir-me mais especial do que realmente era acabava sendo mais fácil do que a aceitação.

Varinhas não existem sem um bruxo, varinhas são apenas gravetos sem sentido que ficam a espera de que algum dia alguém seja digno o suficiente para empunha-las. E quando as segurassem em mãos firmes, finalmente saberiam que estavam completas.

Muitas amigas varinhas me diziam isso antes de selecionarem seu mago. Parecia suficientemente simples, eu diria.
Aparecia um bruxinho ou bruxinha, entrava na loja. Experimentava diferentes varas, umas mais longas, umas mais finas, outras mais espessas, algumas mais ásperas e no fim, quando estivesse prestes a desistir, ali estava a varinha que tanto procurou.Ali estava o bruxo que tanto esperou.

A partir daí, Olivaras encarava o bruxo ou bruxa com tédio. Pegava a varinha, a botava em uma caixa de madeira, embalava com um laço de sua preferência e voilá! Lá estava a dupla inseparável.

Como eu disse, me parecia simples. Tão simples que eu não fazia nada quando entrava um bruxo por simplesmente me ter a ideia na cabeça de que se ele me for digno então assim será.  Ouvia a campainha tocar e sequer olhava a porta para saber quem era. Não me interessava como parecia, como agia, com quem ou como falava.

Afinal, para que me dar o trabalho de me interessar se provavelmente não seria este e sim o próximo? Então chegava o próximo, e eu esperava pelo seguinte. Nunca agindo, sempre esperando.

Até que certa vez, em uma tarde, uma pessoa nova apareceu. Eu tinha acabado de sair debaixo das bancadas onde gostava de me esconder nas horas vagas, quando escutei o sino da porta.

Por ali, entrou um garoto de mais ou menos 11 anos. Tinha cabelos frisados, olhos de amêndoas recém plantadas e carregava com si uma gaiola, onde havia uma coruja pálida de olhos cintilantes.

Era bonito realmente. Iria comentar isso com as outras varinhas mais tarde, mas boa parte delas já haviam sido vendidas
Me restavam agora apenas as encomendadas, - que eram as mais engomadinhas -e moscas varejeiras para tagarelar.

Procuro a varinha que vi na vitrine outro dia!” Exclamou animado para o Senhor Olivaras.

Que varinha?” Rebateu com cara de defunto.

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⏰ Última atualização: Jul 09 ⏰

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