Chapter - I

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Desde jovem, me sentia obrigada a buscar um propósito maior, algo que transcendesse as rotinas e convenções que moldavam meu cotidiano.

Às vezes, nas horas tranquilas da madrugada, quando todos ao meu redor mergulhavam no sono, as dúvidas se intensificavam. Eu revisitava os momentos marcantes de minha vida, os sorrisos compartilhados, as lágrimas derramadas, e aquele fatídico dia... Cada experiência, cada encontro, deixava uma marca inapagável em minha alma, mas também aumentava minha perplexidade diante do panorama vasto e imprevisível que era a vida.

Quais expectativas que a sociedade impunha, nos padrões de sucesso e felicidade que pareciam tão distantes da própria definição de contentamento. Será que estamos destinados a seguir um roteiro preestabelecido? Ou será que eu estava preso em um labirinto, à procura de aprovação ou na negação de um destino determinado?

Refletia sobre o tempo, aquele recurso precioso e escasso que todos compartilhamos. As horas que se desvaneciam sem aviso prévio, os dias que se transformavam em anos diante dos meus olhos. Como podemos aproveitar ao máximo o tempo que nos é dado? Isso era uma questão que me assombrava constantemente...

Mas em meio às incertezas, havia momentos de clareza. Momentos em que o sol se filtrava pelas cortinas da manhã e eu me via inundada por um sentimento de gratidão. Talvez o sentido da vida esteja nas pequenas coisas.

As respostas não viriam facilmente, talvez nunca completamente. Mas enquanto eu continuasse a questionar, a explorar, a abraçar cada experiência como parte do meu aprendizado, eu poderia encontrar um brilho de paz. E nessa jornada de autodescoberta, descobriria que, às vezes, as perguntas são tão valiosas quanto as respostas que procuramos.

Então, minha pergunta. Por que esse loop sem fim?

Me sinto perdida em meio à sala de estar, cercada por lembranças que parecem desenhadas em um sonho. Cada detalhe da antiga casa se revela diante de mim, como se o tempo tivesse parado desde que deixei aquele lugar. O doce perfume das flores do jardim, cuidadosamente cultivadas pela minha mãe, paira no ar, misturando-se com a sensação de ordem e luminosidade que meu pai sempre mantinha. A nostalgia me envolve enquanto observo cada cantinho conhecido.

De repente, o chamado dos meus pais interrompem o silêncio, me tirando da minha contemplação. Suas vozes ecoam pela casa, preenchendo cada espaço vazio e fazendo meu coração acelerar descontroladamente. A angústia se instala e eu me vejo lançando-me numa busca frenética por eles, percorrendo os cômodos em desespero, à procura de seus rostos familiares.

Mas a cada passo, os chamados se intensificam, aumentando a pressão em meu peito até me sufocar. "Mia!", suas vozes imploram por mim, agora num tom de urgência, até que, de repente, um silêncio se instala. Parada diante da porta de saída, sinto a presença opressiva das batidas fortes ecoando pelo ambiente, como se quisessem romper a barreira entre nós.

O grito desesperado dos meus pais se intensifica em meus ouvidos, pedindo socorro, enquanto minhas mãos tremem ao tocar a maçaneta. As lágrimas inundam meus olhos, me impedindo de enxergar claramente, mas tento, com toda a força que tenho, abrir a porta. Por mais que me esforce, ela permanece trancada, como se algo impedisse que ela fosse aberta.

Ajoelhada no chão, encolhida em desamparo, abraço os joelhos contra o meu peito, tentando abafar os gritos angustiantes que passam pela minha mente. "Desculpa, desculpa, desculpa...", sussurro repetidamente, num lamento abafado pela culpa e pelo medo que me consomem por inteira.
NÃO ME DEIXEM!..

Com um sobressalto, desperto daquele pesadelo avassalador que mais uma vez me capturou em seus tentáculos. Sinto meu corpo todo encharcado de suor, a respiração acelerada com o pânico que ainda me domina. É como se as sombras do sonho ainda estivessem ao meu redor, desafiando a realidade da tranquilidade da minha própria cama. Sacudo a cabeça, tentando afastar os resquícios do pesadelo que teimam em grudar na minha mente, enquanto busco desesperadamente me acalmar.

Em meio ao pânico crescente, meu coração batia descontrolado, e o mundo ao meu redor parecia se desintegrar em sombras e ruídos indistintos. Foi então que senti um peso leve sobre o meu peito. Levantei a cabeça o suficiente para ver Cristal, minha pequena e fiel furão, me observando de perto. Seus olhos escondidos, quase como duas pequenas estrelas no escuro, estavam fixos em mim, cheios de uma curiosidade misturada com uma ternura silenciosa. O turbilhão de emoções que tomou conta de mim, era como se, naquele instante, Cristal estivesse me tentando, à sua própria maneira, dizer que eu não estava sozinha, que ela estava ali, sentindo cada momento ao meu lado.

A presença de Cristal começou a trazer uma calma sutil ao meu corpo. Aos poucos, a pressão esmagadora em meu peito parecia diminuir. Sua patinha macia roçou de leve meu rosto, e um calor suave invadiu meu peito, esquentando o medo e a ansiedade que não tem fim. Inspirando fundo, senti o ar entrar em meus pulmões de maneira mais plena e clara do que antes. Não era uma cura completa, mas, naquele momento, a presença dela era o conforto de que eu precisava. Cristal, de alguma forma, sabia exatamente como estar ali por mim. Como todas as outras vezes...

Caio sobre o travesseiro, olhando ao redor de meu quarto, ainda um pouco desnorteada. Me viro em minha cama, em direção ao meu despertador na cômoda da cabeceira, cujos números vermelhos brilhavam intensamente, marcando exatamente 3 horas da manhã. A luz do luar entrava pela janela de meu quarto, iluminando minha cama.

— Não vou conseguir dormir agora... — Reviro os olhos e me levanto precipitadamente, fazendo Cristal descer de meu peito, enquanto eu sentia a urgência de respirar ar fresco.

Saio do quarto em direção à cozinha, descendo as escadas cuidadosamente, os degraus rangendo baixinho sob meus pés descalços, cobertos apenas por minhas meias brancas, já Cristal, me seguia pela casa, me fazendo companhia. Ao adentrar ao cômodo, noto a luz fraca da lua que entrava pela janela semi aberta e iluminava os vãos do vidro, as cortinas balançavam levemente, a brisa que entrava, me causava um leve arrepio. Me dirijo até a pia e encho um copo de água, sentindo o líquido refrescante descer pela minha garganta, enquanto minhas mãos tremiam ainda.

Parando por um momento, pensativa com tudo aquilo que aconteceu no pesadelo, sem conseguir esquecer nada, termino de beber água e volto para meu quarto, passando pela penumbra da casa junto da minha furão.

Ladies Of The MidnightOnde histórias criam vida. Descubra agora