Capítulo 1.

105 15 32
                                    

⚽Jungkook⚽

— Na cintura a glock 45, senta na 45, sarra na ponta do bico. – Cantava enquanto descia a ladeira de todo dia. Ainda era cedo, mas o pagodão já tocava alto em algumas casas. Afinal, precisava ser um bom dia.

— Opa. – acenei para a dona Valdeci, uma senhora que morava no mesmo bairro que eu. Ela era gente boa, me deixava ir direto pegar acerola no quintal dela, pena que era fofoqueira que só a desgraça.

Só de lembrar de tudo que ela já espalhou de mim, a vontade era de dar uma rasteira naquela 'véia, mas como isso é errado, apenas continuei meu caminho.

Afinal bairro humilde é assim, todo mundo se conhece, todo mundo fala mal um do outro e depois 'ta andando junto, então um balançar de cabeça é a opção mais rápida e educada na maioria das vezes, principalmente quando se 'ta atrasado para o trabalho.

Hoje é sexta e já era de se esperar que meu chefe me xingasse pela demora.

Eu trabalho numa barbearia, ela é pequenininha, mas bem famosa entre os caras do morro. O dono dela é o seu Antônio, um coroa gente boa, de uns 170 anos de vida.

Se brincar essa desgraça fez até o cabelo de Dom Pedro.

Adoro perturbar com a cara dele, só não posso deixar ele saber o quão importante é pra mim.

Quando nascemos pobres, nos tornamos crianças muito sonhadoras, pensamos que depois da escola, faremos uma faculdade, depois vem o emprego e daí, ganharemos dinheiro suficiente para ter carros chiques, morar em uma casa grandona, igual às que vemos nos filmes, e dar dinheiro aos nossos pais.

Mas aí a gente cresce e percebe que estudar também é um privilégio para os que têm que trabalhar assim que terminam a escola, isso sem citar aqueles que começam na infância.

Graças a Deus, eu tenho meus pais, que sempre batalharam muito para não deixar faltar na nossa mesa, mainha tem que aguentar 'pagação de gente estressado no caixa do supermercado todo dia, já painho que largou tudo na Coreia do Sul pra ficar com a baiana lindona, se vira agora consertando bicicleta dos pivetes.

Queria muito tirá-los dessa vida, mas sabem como é, né? Federal é barril demais e particular, sem condições.

No início até tentei estudar, mas logo decidi correr atrás de um emprego que pelo menos desse para os ajudar nas contas de casa. A vida não para pra gente.

Foi aí que o seu Tonho me ajudou.

Ele estava meio perdido nessas "tendências de jovens", então me chamou para trabalhar. Agora, vivo fazendo risquinhos nas sobrancelhas e uns desenhos safados nos cabelos dos pivetes. Com o dinheiro que ganho, consigo pagar minhas saideiras.

— Joãokook, demorou hoje por quê, 'ein? Ficou comendo água até o dia amanhecer? Vou descontar do seu salário, moleque. – Tonho falou depois de rumar um pano em mim.

— Já falei pra o senhor me chamar de JK. E sim, eu bebi ontem, mas foi pouco, teve um paredão, aí eu, o Rafinha e o Gui fomos dar uma olhada, demorei a chegar porque a coroa 'tava zoadando. 'Tava igual ao senhor, todo estressada. Sabe o que é isso? Falta de sexo. – Eu real tinha dúvida de com qual idade as pessoas param de transar.

— A desculpinha é essa né, Joãobook? Seu moleque boca suja da desgraça.

— É Jungkook!!!

— Ninguém mandou seu pai colocar nome difícil, agora vai trabalhar. – o dinossauro mandou, e eu obedeci, chamando o próximo cliente. Trabalho aqui há três anos e as sextas eram sempre mais cheias, porque o pessoal se arrumava para o fim de semana.

Deixa queimarOnde histórias criam vida. Descubra agora