Aron,
A primeira coisa que faço ao finalizar o banho é pegar o celular.
Eu tô com essa porra atravessada na garganta.
Mas o que eu poderia fazer?
Porra, muito bagulho, papo só. Eu poderia ter impedido desde que soube que ela foi na Três Marias comprar roupa.
Mas ainda teve um encontro com a Noêmia... ela precisava desencanar um pouco de tudo isso.
Mas como é as paradas, né? Já tô arrependido de não ter mandado enquadrar o Uber que veio buscar as duas ai na entrada.
Alanzin diz: Tão na fila, tirando foto, chefe. Tô de cantin do outro lado da rua, dixavadão no ponto de ônibus.
Digito rápido:
Chefe diz: Tá com um traje pá hora? Acha que consegue entrar? Levou grana?
Alanzin: Separei um carvãozinho, paizão. Kit tá abusado. Fica tranquilo que vou imbicar logo que elas duas entrarem, pra não ser visto. Td palmeado, chefe. Passa nada. (emoji de continencia e uma carinha nervosa)
Menorzin é violento. Sorte a dele que me agrada.
Chefe diz: Vai me passando a visão de tudo, hein. Não perde ela de vista, moleque. Depois chego junto contigo nessa meta ai (emoji de joinha)
A porta do quarto se abre. Ainda estou parado no meio do comodo com a toalha em volta da cintura quando Noêmia entra exasperada.
Eu subo só o olhar para ela. Não é possível que ela veio de caô logo agora que tô puto e bolado.
- Se te conheço bem, já sabe que hoje vi sua dondoca.
- Mais respeito, demorou? - eu digo direto, num esguicho rápido.
Termino de ler o que Alanzin mandou enquanto ouço mais ou menos o que Noemia diz, algo sobre a Lia ter afrontado ela e a ter feito passar mal na loja, de fraqueza e pressão baixa.
Alanzin diz: Entraram agora. Tô indo pra fila.
Chefe diz: Assim que entrar me avisa.
- Eu não posso estar passando por essas situações tão humilhantes, Aron!
Eu tô ligado que Noêmia é dramática, então respiro fundo e lembro a mim mesmo que eu não posso cobrar ela por ter ido falar com a Lia. Pelo que foi me passado foi um mero acaso e não resultou em nada grave. Não conheço o conteúdo da conversa entre elas, mas acabo de descobrir através de uma das interlocutoras.
- Ela me disse que passaram a noite juntos! É verdade?
Lia não devia ter dado esse papo, mané... se essa porra bate na Helena...
Caralho, quanto mais eu fujo, mas o problema me acha, parceiro.
- Noêmia... - digo, controlando meu estresse no tom - Acho que não preciso te lembrar que eu não te devo satisfação da minha vida. Mas se quer saber, não. Não é verdade.
Não queria desmentir a Talia. Porra, quem dera poder assumir pro mundo que não sai do lado dela a noite toda. Mas sabe qual é... bagulho tá ossada!
Ela tenta não sorrir, mas vejo sua felicidade estampada no olhar iluminado de repente.
- Tá tudo bem? - pergunta, fiscalizando o celular em minhas mãos.
- Não. Não tá nada bem. Tu pode se adiantar ai, todo respeito? - indico a porta, notando que ela encara a toalha no meu corpo.
- Hurum... se precisar de qualquer coisa, tô no meu quarto. - seus olhos sobem vagarosamente, o cantinho da boca insinuando um sorrisinho sagaz. - Continua bem forte, né? Mó muscoloso... - finge limpar o canto do lábio suavemente com o polegar.