Uma doce melodía tomava conta do casarão do Comendador Almeida. Todos os escravos e capatazes rondavam os pastos cumprindo seus afazeres normais daquele final de tarde. No salão da casa, apenas uma alma solitária podia-se ser encontrada lamentando no piano. Dalí era de onde vinha a sonata triste que qualquer pessoa diria ser obra de um artista em angustiante sofrimento.
Porém quando se davam conta do mais belo ser jovial na qual tocava com maestria aquele instrumento, não viam motivos para tal tristeza e dó. Porém por dentro de seu coração a mesma agonia dos outros de sua classe era a mesma.
Toda a pena que se explorava naquele piano pertencia simplesmente a um pobre cativo, a maior peça rara já encontrada desse tipo. Isaac já era rapaz e tinha na vida somente o pai que ainda era vivo. Ao contrário da mãe que já estava morta, que pelo menos devia estar descansando em paz.
- Isaac, chega! - disse Sinhá Malina, senhora da casa adentrando ao salão - Não aguento mais ouvi-lo tocar essa macabra canção de funeral. Parece que estou em um cemitério a tarde inteira. Toque-me algo mais alegre.
- Mil perdões, Senhora - Disse Isaac encarando o teclado do instrumento velho - Mas como quer que lhe toque algo feliz sendo que sou um simples escravo?
Malina fechou o leque que tinha em mãos e franziu a sobrancelha, o calor deste dia junto com a paz da casa quase que a estavam enlouquecendo.
- Estás a se reclamar de sua situação, Isaac?
O jovem correu os olhos por todos os cantos do salão. De cima abaixo, ele jamais ousaria reclamar do lugar que tantos de sua classe matariam para ter. Mas isaac por mais que fosse prendado com uma boa educação, lhe dada com deveras carinho por sua falecida senhora, ainda era nada mais que um escravo. Somente um escravo. Não tinha destino, nem sonho a liberdade, e isso era o pior de tudo.
- Oh não, não, sinhá - ele apertou o crucifixo que prendia ao pescoço. - Só lhe digo que uma alma artística deve-se expressar de fato como se sente, sendo assim eu estou sendo fiél aos meus sentimentos e não posso ignorá-los.
Mesmo que sentado, a postura ereta e bem rigida de Isaac podia ser notada de longe. Ver o mestiço rapaz que ainda que com vestes simplórias, que tinha em seu rosto um ar de cavalheiro - há quem diga um rosto de príncipe de contos de fadas. Mas ele nunca acreditou nisso. - era de confundir qualquer um.
- Olhe lá Isaac, sabes que León estás para voltar de viagem. Um problema justo com vós mece seria o pior dos castigos.
Ele se manteve quieto e ouvindo calmamente o que sua senhora tinha a dizer. Os dedos esbranquiçados dos cativo tamborilando nervosos pelo cruxifico no peito.
- Olhe para você, não tens do que reclamar, eres dotato tão qual qualquer homem da corte. E o melhor, ninguém jamais diria que em suas veias corre um pingo de sangue africano. Logo logo tenho certeza que o comendador há de te dar a liberdade e tú poderas encontrar uma excelente moça para se casar.
Não era o destino de Isaac se casar, muito menos se fosse essa sua vontade. Sua antiga senhora, que descanse em paz, lhe havia prometido a liberdade, entretanto já era tarde demais.
Aparentemente agora era um sonho perdido, tão perdido quanto encontrar alguém que o amasse.
- A Senhora sabes quando Senhor León volta? - perguntou desviando o assunto.
Malina não respondeu. Estava tão entretida admirando alguma coisa do lado fora que não se importou em olhar para onde Isaac estava no salão.
"Senhor León em breve vai estar de volta" Pensou isaac. Aquela não era a primeira vez que ele lembrava do filho de seu senhor, e nem precisaria perguntar quando voltaria, a espera de León ainda era uma pontada no coração de Isaac. E também um aconchego.
Só de lembrar dele, de seu jeito sagaz e persuasivo, algo em Isaac mudava. O jeito bruto que ele lhe punha os castigos misteriosos quando por algum motivo precisava. De vez em quando Isaac se pegava sentindo falta do Senhor León nesses tempos que ficara longe.
O cativo ainda lembrava um pouco dele, na adolescência e até o dia de sua partida. Mas ele passara muitos anos fora e agora estava noivo de Malina, concertaza os novos ares da capital lhe fizeram bem.
Como seriam as coisas quando ele voltasse? "Oh minha Sinhá velha, sinto tanto a sua falta". - rogou Isaac baixinho olhando para a janela onde se via Malina distraída.
Daquela vez não tinha como não saber o que iria acontecer. Foi uma vez, a primeira de muitas.
- Obedeça ao seu senhor - O escravo se lembro disso - León tinha um jeito de o forçar a fazer o que queria. Seu escravo favorito, seu brinquedo predileto.
Mas seria muito pavoroso um escravo sentir falta de suas punições. Porém aquilo que o escravo Isaac sentia era um tido de dolor diferente. Não era como se punisse um dos negros, a sensação que surgia em seu peito quando León lhe fazia sofrer era a melhor que havia presenciado.
O peito de Isaac arfou só de lembrar de um desses castigos. Podia não ser León tão mal assim com ele? Ou será que tudo que Isaac sentia era recíproco por seu Senhorzinho?
Naquele dia os dois estavam isolados do mundo. Foi lá que sem saber o cativo recebeu sua primeira e maravilhosa punição.
- León... - Isaac sibilou ao pegar na parte baixa de sua calça.
Mesmo gostando, Isaac sabia que estava sendo castigado e que não deveria reclamar de maneira alguma. Quando as coisas aconteceram de novo, podia Isaac sorrir ao sentir tamanha dor? Depois que León fora embora a falta infinita que seu escravo sentia de ser punido daquele jeito era tão cruel, que Isaac era capaz de fugir para satisfazer seu desejo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Escravo Isaac
RomanceNesta releitura do clássico A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, um escravo mestiço sofre nas garras de seu senhor e vive desventuras para viver um amor na liberdade.