XXII

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Jeito de Olhar

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Jeito de Olhar.
🌴🇧🇷🌊

— Tudo pronto? — o homem do outro lado do vidro pergunta e, segurando o fone de ouvido eu concordo com a cabeça.

A semana tinha passado mais devagar do que eu queria. Todo dia de manhã eu acordava ansioso pra caralho esperando por sábado, na real, era difícil eu dormir.

Mas trampar de uber fazia eu esquecer bastante dessa ansiedade, me rendia altas risadas e muita paciência pra lidar com gente inconveniente.

Olha, não é possível, o cara me manda mensagem perguntando se podia cinco. Porra, como que vai cinco na porra de um Kwid? Só se um fosse no meu colo dirigindo, faz favor né.

Vale lembrar que eu sou um homem comprometido, e outra pessoa além do meu namorado no meu colo era impensável!

Uns dias era isso, outros dias eram umas senhorinhas bem ricaças me olhando feio pelo retrovisor por conta das tatuagens. Porra, se tem dinheiro por que tá vindo aqui encher meu saco, pedindo uber? Vai contratar um motorista, poupa estresse meu e delas.

Eu usava tudo isso como desculpas pra me distrair, pra não ficar encucado com o análise de perfil e a gravação da minha primeira música no sábado. Eu tava tão ansioso que nem música eu tava conseguindo escrever, e olha que escrever era a única coisa que fazia eu me acalmar.

Eu nunca comecei a escrever pra ter fama. Esse sonho de virar cantor sempre existiu, desde quando eu era pivete e dava fuga na minha mãe pra colar nas batalhas escondido. Acho que eu sempre tive isso de escrever, tocar, eu lembro de quando eu ganhei meu violão, que até hoje eu tenho guardado. Essas coisas sempre foram muito caras, era óbvio que eu nunca ia pedir uma coisa dessas pra minha mãe quando ela tinha que se preocupar em por comida na mesa, mas no meu aniversário de 13 anos, um amigo da família, o canarinho – que me ensinou a tocar violão - me deu um violão preto. Porra, eu fiquei tão feliz!

Sabe aqueles desejos de criança, que você passa uma eternidade querendo e quando ganha é a pessoa mais feliz do mundo? Foi exatamente assim que eu me senti quando ganhei aquele violão.

Não sei quando essa minha paixão por música começou. Aqui na quebrada era normal eu ver escola de samba, música sempre que tinha baile, e até no restaurante quando algum grupo de samba resolvia almoçar por aqui, talvez eu sempre tenha sido influenciado, ou talvez eu só tenha nascido pra fazer isso.

Depois da escola, quando eu ainda era menor e não conseguia ajudar a coroa na cozinha, o Canarinho ficava comigo direto. Não sei se ele gostava de mim ou da minha mãe, mas hoje em dia tenho um carinho enorme por ele por ter nos ajudado quando precisávamos. Ele tinha um par de instrumentos, ukulele, pandeiro, cuica, cavaquinho, banjo, violão. Eu não sabia o porquê dele ter tanta coisa assim, ele nunca me contou que era músico ou algo assim, eu nem sabia se ele sabia tocar tudo aquilo de instrumento, mas ele me ensinou com gosto a tocar violão.

Te Pego Quando?Onde histórias criam vida. Descubra agora