1- AURORA

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Já faziam horas que eu estava sentindo contrações , mas não falei nada para minha mãe e disfarcei o máximo que pude. Felizmente deu certo, pois ela resolveu sair para fazer as compras do mês e não me fez nenhuma pergunta.
Logo eu estava sozinha tendo que lidar com dores de parto e com o medo de que tudo desse errado para mim. Eu nunca quis engravidar, mas os abusos que sofri por parte do meu padrasto me levaram a ter que enfrentar aquela situação. O pior de tudo era que minha mãe colocava a culpa em mim. Ela dizia que seduzi o marido dela, como se uma criança de nove anos fosse capaz de seduzir alguém.
Eu tinha nove anos quando os abusos começaram , e agora com 17 eu ia dar a luz ao fruto de todos os abusos que sofri.
...

Minha mãe me levou para aquele fim de mundo com a intenção de me matar , pois segundo ela eu era culpada pela morte do meu padrasto. O desgracado havia morrido há meses atrás em um acidente de carro. Ele estava bêbado e acabou batendo em um caminhão, eu dei pulos de alegria quando a notícia chegou.
Para ter direito a toda herança dele , minha mãe registraria meu bebê como sendo dos dois. Mas eu não estava disposta a permitir que isso acontecesse e lutaria pela minha sobrevivência e a do meu filho.
...

Mesmo com dores caminhei até o quarto da minha mãe e comecei a procurar meus documentos. Logo encontrei minha identidade e algum dinheiro.
Antes de descer as escadas peguei alguns cobertores, toalhas e uma tesoura. De repente, veio outra contração e bem mais forte que as outras.

__ Espera só mais um pouquinho, bebê. __ pedi acariciando minha barriga. __ Eu preciso que me ajude para que possa tirar a gente daqui... Ai! __ senti uma dor forte.

Mesmo assim, desci rapidamente as escadas e cheguei na sala. Peguei alguns travesseiros e arrumei no tapete , em seguida me deitei ali para esperar a chegada do bebê. Eu sabia que era a hora, os nove meses com aquele ser dentro da minha barriga foram suficientes para criarmos uma conexão.
Em poucos minutos senti que ele estava vindo , e fiz mais força. Então me preparei para segurar a cabecinha.

__ Pode vir , meu amor...__ falei , sentindo uma felicidade inexplicável. __ Você é bem vindo!

E ele veio , sem me fazer sofrer , veio rápido e chorando alto como alguém disposto a lutar pela vida. Aquela criaturinha toda suja de sangue já era o amor da minha vida.
Meu coração bateu mais forte quando o abracei e olhei nos seus olhinhos azuis. Depois do abraço, olhei o sexo e vi que era uma menininha. Agora mais do que nunca eu lutaria para nos tirar dali.

__ Seja bem vinda, minha filhinha...__ falei , enquanto cortava o cordão umbilical , e limpava o sangue do seu rostinho.__ Eu prometo  que vou lutar para manter você segura.

A bebê ficou aninhada nos meus braços até que eliminei a placenta naturalmente , e mesmo com dificuldade levantei. Eu não podia ficar ali esperando me recompor do parto, pois minha mãe  chegaria a qualquer momento, então envolvi a bebê em um cobertor , peguei a pequena bolsa com meus documentos e o dinheiro, e fui depressa até a cozinha.
  Perto da pia havia uma janela , mas era alta. Se eu pulasse com a bebê poderia machuca-la , e eu não iria embora sem ela. De repente, lembrei que tinha uma escada perto da dispensa e corri para pegar.

...

Senti um pouco de alívio quando finalmente consegui sair da casa , principalmente por não ter ninguém me vigiando. Mas agora eu tinha outro problema para resolver, estávamos no meio do nada e eu não sabia para onde ir ou para quem pedir ajuda.
  Quando saí da fazenda encontrei uma estrada de terra. Como eu sempre olhava da janela para onde minha mãe ia todo mês, sabia que a cidade ficava à direita , sendo assim fui pela esquerda. Eu não podia correr o risco de ser pega.
   Caminhei por um bom tempo e não vi nenhum carro , carroça , animal ou ser humano passando. O sol já estava se pondo ,  e logo iria anoitecer. A bebê não parava de chorar, talvez querendo o peito que eu não tive tempo de oferecer, mas não dava para parar.
  Eu já estava exausta quando vi um carro se aproximando, era uma caminhonete preta. Nem pensei duas vezes e comecei a fazer sinal com a mão , pedindo ajuda. Por sorte a caminhonete parou , mentalmente pedi ao universo que não fosse um maníaco sexual ou um assassino serial killer.
  Logo uma mulher alta de camisa social branca e calça jeans lavada desceu do carro. Ela era muito branca e tinha o cabelo preto liso solto, que batia no ombro.

BABY ( Simoraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora