Se passava das duas da manhã e eu ainda não havia dormido. A noite com Emory havia sido ótima, mas assim como o conto da Cinderela, a magia teve seu horário contado.
A discussão veio, tão natural como a chuva que caía encharcando meu cabelo enquanto eu caminhava com apenas um destino em mente, o qual não incluía a casa de minha família.
O som do líquido na garrafa em minha mão se misturando ao som dos pingos de chuva enquanto eu chorava, me aproximando do lugar dela.
Seu gazebo.
Adentrei sem pestanejar. Sorri ao observar o quanto ela era talentosa com suas coisas, ela havia construído tudo aquilo sozinha. Apenas para provar que podia. Para mostrar a todos de Thunder Bay o quão capaz ela era.
Abri a garrafa de uma bebida nova que havia encontrado num mercado de itens estrangeiros, o cheiro de álcool preencheu minhas narinas e me senti zonzo. "Velho Barreiro" estava escrito no rótulo e eu sequer fazia ideia do que significava aquele nome, só me atentei à estar na sessão de bebidas alcoólicas.
Dei um gole generoso, ignorando o sabor amargo, afinal as dores de meu relacionamento fadado ao fracasso me fazia sentir doloridamente amargo.
Pego o celular, meus dedos buscando pelo número de D, cogitando pedir a ele para me ajudar a aliviar.
Eu constantemente tentava, tentava e tentava ao meu máximo investir em nós como um casal. Eu a via. Percebia a sua presença, via eu seus olhos que havia algo errado, mesmo que ela me obrigasse a enxergá-la e não me permitia ver tudo.
Ela me transformava em um perfeito bobo da corte, deixava ela me tratar bem no cair da noite e chutar a minha bunda pela manhã. Me permitia ser pisado, chamado de fraco por ela.
Era como se ela fosse uma figura da realeza e quanto mais eu tentasse ser o pretendente digno para si, jamais cumpriria todos os requisitos de sua lista. Ela não me permitiria entrar no centro de seu castelo, conhecê-lo.
Uma tragédia Shakespeareana das quais ela detestava e detestava ainda mais viver uma comigo.
Entre goles e mais goles, a dor sufocante em meu peito se dissolvia e eu a engolia com o álcool amargo, me inebriando. Ciente de que não poderia permanecer dessa forma.
Eu precisava superar.
- Só vou pedir desculpas!
O nosso pra sempre acabou
E um novo amor veio com tudo
Meu erro pesou na balança
E não vamos mais ficar juntos
PORQUE EU ESTRAGUEI TUDOOOO!
Vou ter que superar... - Cantarolei, as lágrimas nublando a minha visão e molhando o piso da obra quase finalizada de Scott.Essa seria minha última lembrança para ela, as minhas lágrimas no piso de sua tão amada construção.
- Vou ter que superar, que a gente não vai mais voltar...
Não poderia permitir ela se aproximar apenas ao cair da noite e continuar me destruindo. Por conta disso, me levantei cambaleando com o álcool em mãos, celular e a chave de minha SUV rumando a casa do Torrance.
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Bobo da Corte.
FanfictionApós levar mais um dos inúmeros foras de Emory Scott, Will se encontra na companhia de uma garrafa de bebida alcoólica brasileira, chorando no gazebo da dona de seu coração que o tanto maltratava.