Reconsiliações e Perdas - Heather Miller

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  Como você olha para alguém que você acha ser uma pessoa ruim? Especificamente o seu próprio pai. Você simplesmente ignora as coisas ruins que ele pode ou não ter feito?


  A primeira pessoa para quem contei minha descoberta, foi o Simon. Ele não chegou a me dizer como eu agiria com meu pai depois disso, mas ofereceu sua ajuda e a de seus amigos, o problema é que ele me deu mais problemas, convidando o Axell para ajudar, vai ser difícil olhar para a cara dele depois de tudo. Simon também me deu alguns conselhos, mas nada que prestasse pessoalmente para mim.


  Ele tinha falado para não contar para ninguém, mas eu contei para meu irmão e também para o Stuart. Meu irmão ficou tão perplexo quanto eu, deu para ver em seus olhos lacrimados, sua face paralisada numa expressão desconfortável e confusa. Ele agarrou minha mão com força e me perguntou se o que eu estava pronunciando era de fato real. Ele sabia que eu não era de mentir, então acreditou em mim. Só falou para eu me afastar do papai por enquanto, e não agir de maneira suspeita, que ele também investigaria.


  Stuart também acreditou em mim, e foi até o mais compreensível de todos. Porque foi o único que me perguntou o que eu estava sentindo. E foi até minha casa escondido só para conversar. Não soube o que responder a ele. Ele me perguntou se eu realmente sabia quem era por trás do que o meu pai diz ser. Ele me fez pensar: meu pai é um criminoso? Um sequestrador? Um... assassino?


  Mas se tem uma ajuda que eu não esperava, era a do Axell. Quando estava dando quase a hora da saída, Axell veio até mim perguntando se eu queria que ele me acompanhasse. Eu disse que não precisava, mas ele insistiu, e eu aceitei.


  Nos primeiros minutos foi um enorme e vazio silêncio, como não seria, afinal depois de tudo. Aí finalmente aconteceu, eu pedi desculpas por tudo. Foi do nada, só para quebrar o clima. Mas ai ele questionou o motivo de eu ter mentido.


  Eu acho... eu acho... que depois da minha doença, todo mundo começou a se afastar de mim, meu irmão começou a usar drogas, minha mãe começou a se viciar no trabalho, e meu pai... Bom, aí eu tive medo de que você também se afastasse de mim, que você me abandonasse, que você me esquecesse. Foi por isso que eu menti. Acha que pode me perdoar? Acha que podemos voltar a ser amigos? “acho que já somos amigos"


  Foi isso o que eu disse para Ele, e foi isso o que ele respondeu. E isso me deixou feliz, eu consegui me reconciliar com Ele, depois de tanto tempo, tantas brigas, tanto caos. As risadas voltaram, a confiança voltou, eu... voltei. Mas ainda tinha algo para resolver, tinha que dá um fim nisso, dá um fim nesse boato do meu pai que eu mesma criei.


  Ia se agora, eu estava assustada, mas ao lembrar de um velho hábito que Axell costumava fazer, me tirou algumas risadas. Estamos na época do Halloween, e quando eu e Axell éramos crianças, ele tinha um medo absurdo de palhaços, seus rostos esbranquiçados, os narizes vermelhos, cabelos malucos e sorriso sinistro, o assustava muito. Aí nós vimos uma pessoa fantasiada de palhaço, ele deu um grito enorme. Eu ri tanto, ele até me disse pra dar uma pesquisada na história do John Wayne Gacy ou do Coringa.


  Me deixou mais relaxada, mas não ao ponto que me desse forças para o que estava por vir.


  Finalmente cheguei em casa. Félix e minha mãe estavam fora, parecia uma coincidência do destino, eu tinha que conversar com meu pai, que estava no escritório dele. Eu o chamei para ir para sala, e conversar.


- quer alguma coisa querida? – era a hora, a hora de eu descobrir a verdade.

- Bom, eu queria saber... se você... – estava com as unhas cravadas na palma da minha mão. Meu pai estava com um rosto tão inocente, mas são com esses rostos que conseguem enganar qualquer pessoa.

- Heather, filha, você sabe que pode me contar qualquer coisa né?

- queria que você também soubesse...

- o que?

- tá Bom pai, vou direto ao ponto! Você tem alguma coisa a ver com o desaparecimento de Luke Smith? Você sequestrou Ele? Você matou Ele? – deu para ver em seu olhar que ele se espantou, parecia que sabia de alguma coisa.

- quem te contou...

- é verdade? É só isso que eu quero saber! Por favor pai, me conta!

- filha, tudo que eu fiz foi pro seu bem...

- bem? Bem? Como que sequestrar crianças é pro meu bem...

  Nossa conversa foi interrompida por sons de sirene. Félix e Simon ligaram pra polícia, estavam na moita atrás de casa. E eu estava com uma escuta na blusa. Meu pai fugiu, lá pra cima, e quando a polícia  chegou, ele não estava mais em casa. Certamente tinha culpa.


  Ele me olhou com uma cara de decepção, sabe aquela cara que os pais costumam olhar quando você faz alguma coisa errada, então foi essa a cara.


  Anoiteceu, carros e carros de polícia em volta da minha casa. Minha mãe... estava perplexa, estava tentando acalmar a mim e meu irmão, mas nem ela estava calma. Meu irmão... deu para ver ele como sempre usando drogas para fugir da realidade. Stuart, Lexy, Simon e Axell também estavam lá para me apoiar. E meu pai ainda não foi encontrado.


  Aí o pior aconteceu, Alisson e Vincent vieram. A xerife entregou a jaqueta pra eles. Foi difícil de olhar, eles chorando com o casaco em suas mãos, eu tentei pedir desculpas pelo meu pai, mas nada podia ser perdoado, ou consertado.


  Mas algo ainda não está certo, por que meu pai faria aquilo? E as outras crianças? Também foram culpa dele? E o maior dos mistérios, quem está por traz da máscara? Quem está matando todo mundo?

Insanidade demoníacaOnde histórias criam vida. Descubra agora