01 - Nevermore

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Wednesday Addams
Point of View;

Vejo pelo vidro do carro passarmos pela floresta densa que rodeia o local, após um momento escuto o som do rangido que o grande portão de entrada em Nevermore faz, anunciando nossa chegada.

Por um momento nenhum barulho é escutado, para após o silêncio conseguirmos ouvir vozes de várias pessoas e carros estacionando. Olhei tudo aquilo com tédio, significava que mais um ano colegial iria se iniciar em Nevermore.
No carro havia Tropeço, que estava dirigindo, e meus pais presos em sua bolha romântica. Era detestável o barulho de duas bocas encostando uma na outra, e o ecoar de salivas se misturando.

Como eles conseguem fazer isso em público?

Penso, fazendo uma careta em desgosto. Suspiro alto, os atrapalhando e dando a entender que não estava nada confortável com aquela cena deplorável.

― Oh, querida. Não seja tão crua conosco. ― diz Mortiça, suavemente sorrindo. Sentando-se corretamente no banco de couro e colocando as duas mãos em cima do colo.

― Futuramente estará, assim como nós, demonstrando todo seu amor por alguém. ― disse Gomez, sorrindo alegremente e apoiando as duas mãos no joelho. ― Tenho certeza que irá encontrar alguém que desbloqueie sua paixão. ― continuou. ― Talvez… até mesmo em Nevermore, assim como eu encontrei sua mãe. ― Suspirou apaixonado, puxando uma das mãos de Mortiça e beijando-a. ― Pai, por favor  repita essa história novamente. Será a vigésima vez que a conta por miseráveis dezessete anos. ― digo, mantendo a feição neutra.

Um tempo se passou até que finalmente o carro parasse. Fui a primeira a sair e depois Gomez, abrindo a porta para Mortiça sair do carro. Os dois estavam com as mãos juntas novamente.

― Tropeço, por gentileza, leve as coisas da Wednesday para o dormitório dela. ― Minha mãe manda. Rapidamente o homem pega todas as malas nas duas mãos e entra pela porta principal, seguindo o corredor.

― Minha chuvinha ácida, dói tanto não poder mais a ver em nossa casa, seja torturando seu irmão ou tocando seu violoncelo. Irei sentir sua falta, minha pequena. ― diz Gomes, praticamente com lágrimas nos olhos e chegando mais perto para depois me abraçar forte. Não recuso nem aceito, apenas fico parada esperando que passasse.

Vejo-o recuar para depois minha mãe chegar perto em uma distância considerável, diferente de meu pai e irmão, ela sabia minhas preferências sobre distância e preferia cumpri-las.

―  Irei sentir saudades, querida. Cuide-se muito bem e não se envolva em problemas. A não ser que arranjem com você. ― diz, segurando meu queixo e suavemente passando a mão pela lateral do meu rosto, para depois baixar sua mão e colocar de volta junto com a outra.

―  Irei me cuidar. Mãe, pai. ―  Acenei com a cabeça para os dois à minha frente. ― Tenho que me recolher, os verei em breve. E diga para Pugsley que ele sobreviva por meses até as férias de verão. ―  digo, vendo eles também acenarem, com um sorriso acolhedor em ambas faces. Viro de costas e sigo pelo corredor, até meu dormitório.
Estranhamente recebendo olhares e cochichos, mas isso já era um normal.

Chegando em frente a porta do dormitório aberta, vejo Tropeço terminar de colocar as malas em um devido canto. O grande homem sai do quarto, tendo que se abaixar para seu corpo conseguir sair.

―  Pode ir, eles já estão à sua espera. ―  digo. Apenas escutando um grunhido como resposta e vendo ele caminhar pelos corredores até desaparecer de minha visão. Entro no quarto tão familiar e fecho a porta atrás de mim.
Ela já chegou.

Romance | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora