Xeque Mate

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Era uma vez, um vilarejo muito distante cujas terras desérticas eram castigadas pelo sol dia após dia. A colheita era fraca devido à secura do solo e o povo sofria com sede, no entanto, ainda que lhes faltava o básico e não se podia viver do plantio, os deuses decidiram os agraciar com grande fortuna em suas minas de prata, pedra preciosa e cobre.

Vendendo seus minérios, a riqueza aumentou e pouco a pouco aquele tornou-se um grande território, protegido e agradável de se viver. Foi assim que Rezzu no Okoku, o reino vermelho, nasceu.

Contudo, onde há prosperidade, também surge a ganância e com ela se foram os tempos de paz. 

Ao reino cujo nome deveria honrar os preciosos rubis que lhe garantiram saciar a sede e fome, o tom de vermelho mudou tornando-se escuro e frio como o mar de sangue que banhou seus desertos.

Fora um longo período de dor e sofrimento que os destruiu lentamente, até a batalha engolir seus melhores soldados, tios, pais, mães, filhos… e porventura tomar também a vida de seu glorioso rei e esplendorosa rainha, que deixariam para trás seu reino sem homens para defendê-lo e o jovem príncipe de tenros seis anos de idade, a aguardá-los incansavelmente dentro das paredes frias do palácio.

Tempos difíceis se iniciaram, sem um comandante para guiar os aldeões. Era uma tarde especialmente quente e silenciosa quando o mensageiro de botas surradas e roupas castigadas chegara ao castelo para anunciar o fim da guerra, mas não da maneira como gostariam.

O pequeno príncipe estava ao lado de alguns homens da corte quando houve o anúncio da morte dos monarcas. Todos preocuparam-se com o reino, suas riquezas e o futuro, debatendo o que fariam a seguir… E ninguém se importou em acalentar o garotinho assustado no fundo da sala.

Mas Sasori era um Akasuna, o herdeiro do trono, o príncipe da areia vermelha.

O futuro rei não podia chorar.

Então ficou quieto, não havia expressão alguma em seu rosto, apenas esperou ao canto, escutando atentamente a conversa entre duques, marqueses e condes até o momento em que o assunto direcionou-se a futura liderança, o clima se densificou e os olhares se voltaram ao garotinho ruivo de orbes castanhas vazias.

Logo o peso da coroa penderia sobre sua cabeça.

A notícia se espalhou rapidamente aos quatro cantos do reino, afligindo boa parte da população. Em decreto real, mensageiros do palácio vermelho informaram aos aldeões que em conferência na corte, chegou-se a importante decisão, o príncipe teria seu treinamento intensificado para assumir o trono em seu décimo sexto aniversário.

Até lá, a mão do rei precedente assumiria a regência, cuidando com afinco do valioso reino que seu precioso rei deixara tão precocemente.

O povo todo comemorou.

Ao invés de chorar a grande perda, houve festa no reino durante todo aquele dia.

A mão do rei era um velho amigo de seu pai, um representante do clero, o bispo sucessor de Reto e Shamon, terceiro no cargo, seus cabelos eram negros e espalhavam-se despenteados ao redor de sua face, tinha olhos dourados gentis e um sorriso encantador.

Todos o amavam e confiavam.

Sasori se tornaria sua pequena sombra a partir daquele dia. 

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