FATAL CHARM

chapter 01 | mission

KATHERINE MEYER.

Minhas pernas estão doloridas, mal sinto meus dedos, e o suor escorrendo pelo meu corpo está me incomodando. Estou há mais de uma hora treinando boxe; a falta de ar e a tontura estão me fazendo perder a força para golpear o saco de pancadas. Cada soco parece menos eficaz do que o anterior, e minha visão começa a embaçar nas bordas..

- Giovanni Bianchi está querendo sua presença no escritório dele, senhorita Meyer. - Ouço a voz grave e levemente rouca de um de seus capangas me chamando, tirando-me do transe.

Olho para o homem mais velho, que está apenas a alguns passos de distância de mim, e aceno com a cabeça em concordância. O capanga, com seu terno escuro bem ajustado e olhar impenetrável, mantém a postura firme, esperando meu movimento. Retiro as luvas de couro preto e coloco-as cuidadosamente sobre a mesa ao meu lado. Pego minha garrafinha de água, sentindo o metal frio contra a pele.

A água gelada desce, refrescando minha garganta e me satisfazendo. Sinto um calafrio percorrer meu corpo enquanto tomo mais um gole, preparando-me mentalmente para o encontro com Giovanni Bianchi. Ajusto a postura, endireitando os ombros e soltando um suspiro discreto. Caminho em direção ao escritório, sentindo o olhar atento do capanga me seguindo.

Chego à porta e, antes de entrar, dou uma última olhada para trás. O capanga continua me observando, impassível. Respiro fundo e giro a maçaneta, entrando no escritório onde Bianchi me espera.

Encontro-o sentado no mesmo lugar de sempre, nada de diferente, tudo exatamente no mesmo lugar desde que estive aqui há duas semanas para um trabalho. E cá estou eu, sendo escolhida para mais uma missão.

Paro a alguns passos de distância da mesa e observo o homem à minha frente: pele clara, cabelos grisalhos, com o terno ajustado ao corpo e os óculos quadrados na ponta do nariz. Quem não o conhece pode dizer que é apenas um homem de idade tentando mexer em um computador, mas eu, melhor do que ninguém, sei o quanto as aparências enganam, e o homem a alguns passos de mim é um dos maiores assassinos que já existiu.

A sala é decorada com precisão, cada detalhe no lugar certo. As paredes são adornadas com obras de arte clássicas, e há uma estante de mogno cheia de livros raros. O ar tem um leve perfume de couro e tabaco, sugerindo um gosto refinado.

Ele levanta o olhar do computador e fixa os olhos nos meus. Apesar da idade, seus olhos são afiados e cheios de um brilho calculista, avaliando cada movimento meu. Sinto um arrepio percorrer minha espinha, mas mantenho minha postura firme. Giovanni Bianchi, com sua aparência tranquila, é uma força a ser temida, e sei que a missão que ele está prestes a me confiar não será simples.

Arrumo a postura e sinto o olhar dele sobre mim, me avaliando.

- Tenho outra missão para você. - Quebrando o silêncio, ele finalmente disse. Por mais que aparentasse ter mais de quarenta anos, sua voz era grave e confiante, causando um leve arrepio na espinha ao escutá-la. - Preciso que você capture e mantenha esse cara preso por alguns dias. - Ele jogou alguns papéis sobre a ponta da mesa em minha direção. Peguei os papéis; minha mão estava trêmula e sem força devido ao treino de alguns minutos atrás.

Avaliando a papelada à minha frente, me dei conta de que era uma ficha sobre Michael Russo, um italiano de aparência jovial, com cabelos escuros e olhos verdes. A foto era granulada e mal iluminada, tornando difícil discernir mais detalhes. Além da foto, havia uma lista de conhecidos associados a ele e alguns locais que ele costumava frequentar.

- Este homem é um ladrão de joias e está com algo muito valioso para mim. Quero que você o encontre, descubra onde ele escondeu o colar de rubi, o silencie e traga para mim o objeto. - Ele fez uma pausa, permitindo que as instruções afundassem. - O colar não é apenas valioso, mas também um símbolo de poder. Não podemos permitir que fique nas mãos erradas.

As palavras de Bianchi ecoavam na sala silenciosa. Olhei de volta para a ficha, agora com uma sensação de urgência. Michael Russo, com sua expressão despreocupada na foto, não parecia ter ideia do que estava por vir. A missão era clara, mas a execução seria delicada. Russo tinha a reputação de ser escorregadio, sempre um passo à frente das autoridades.

O escritório de Bianchi, com suas paredes decoradas e o aroma de couro e tabaco, parecia ainda mais opressivo enquanto eu assimilava as instruções. O capanga de terno escuro, que me chamou anteriormente, permanecia impassível ao lado da porta, observando cada movimento meu e de Bianchi.

Eu sabia que cada detalhe era crucial. O colar de rubi era mais do que uma joia; era uma peça-chave em um jogo de poder que se desenrolava nos bastidores. Capturar Russo não seria fácil, mas falhar não era uma opção. Encarei Giovanni Bianchi, seu olhar implacável me lembrando da seriedade da missão. Respirei fundo e endireitei a postura novamente, pronta para enfrentar o desafio que me aguardava.

- Pode deixar, senhor Bianchi. Vou encontrá-lo e trazer o colar de volta. - Minhas palavras saíram firmes, e um leve sorriso de aprovação apareceu no rosto dele.

Com um último aceno, me virei e saí do escritório, sentindo o olhar atento do capanga me seguindo até o corredor. Caminhei rapidamente para o meu quarto, o som dos meus passos ecoando pelo chão de mármore. Ao entrar, fechei a porta atrás de mim e me apoiei contra ela por um momento, deixando o ar escapar dos meus pulmões em um suspiro profundo.

O quarto era simples, mas funcional. A cama estava impecavelmente feita, e uma pequena escrivaninha ocupava o canto oposto. Abri o guarda-roupa e puxei uma mala de viagem, começando a colocar dentro dela roupas que poderiam passar despercebidas em qualquer multidão. Calças jeans, camisetas básicas, um casaco escuro... tudo para garantir que eu pudesse me misturar facilmente.

Enquanto arrumava a mala, meus pensamentos estavam focados na missão. Precisava encontrar um apartamento para alugar perto dos lugares que Michael Russo frequentava. Peguei meu laptop e comecei a pesquisar rapidamente por imóveis na área. Encontrar o lugar perfeito era crucial para manter um olho constante nele sem levantar suspeitas.

Meus músculos doíam do treino recente, e o suor ainda umedecia minha pele. Decidi que um banho seria revigorante antes de prosseguir com os preparativos. Entrei no banheiro adjacente, liguei o chuveiro e deixei a água quente relaxar meus músculos tensos. Enquanto a água caía, lavei o cabelo e o corpo, sentindo a tensão do dia escorrer pelo ralo.

Após o banho, vesti roupas limpas e confortáveis: uma calça jeans escura, uma blusa de manga comprida simples e um casaco leve. Com a mala pronta e após um telefonema rápido e algumas mensagens trocadas, marquei um encontro com um dono de um apartamento naquela noite. Peguei minha mala e desci até a garagem, onde meu carro estava estacionado. Dirigi pelas ruas movimentadas da cidade, passando por edifícios imponentes e praças lotadas, até chegar ao endereço combinado.

O prédio era modesto, com uma fachada simples, mas bem cuidada. Toquei a campainha do apartamento indicado e esperei, tentando parecer o mais tranquila possível. Logo, um homem de meia-idade abriu a porta. Ele tinha um sorriso amigável e estava vestido de maneira casual.

- Boa noite, sou a senhorita Meyer. Vim para conversar sobre o apartamento. - disse, estendendo a mão.

- Boa noite, senhorita Meyer. Sou Carlo. Por favor, entre. - Ele apertou minha mão e me convidou a entrar.

O apartamento era pequeno, mas acolhedor. A sala estava bem iluminada, com móveis simples e uma decoração neutra. Carlo me mostrou cada cômodo, explicando as condições e o aluguel. Concordei rapidamente, apreciando a localização discreta e conveniente.

- Parece perfeito, Carlo. Gostaria de alugar por algumas semanas, se possível. - Falei, enquanto observava a vista da janela.

- Claro, podemos acertar os detalhes agora mesmo. - Ele respondeu, pegando um contrato.

Depois de assinar os papéis e acertar o pagamento, Carlo me entregou as chaves e se despediu, desejando-me uma boa estadia. Fiquei sozinha no apartamento, finalmente podendo relaxar um pouco. Deixei a mala no quarto e desabei na cama por alguns minutos, sentindo a exaustão do dia me alcançar.

Mas ainda havia trabalho a ser feito. Levantei-me e comecei a organizar minhas coisas, preparando tudo para a missão. O apartamento seria minha base, e eu precisava garantir que estivesse pronta para qualquer eventualidade.

Olhei pela janela mais uma vez, observando as luzes da cidade brilhando lá fora. Sabia que as próximas semanas seriam intensas, mas estava preparada. Michael Russo não sabia o que estava por vir, e eu estava determinada a completar a missão com sucesso.