dois | chuva de primavera

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Seres humanos geralmente têm vidas caóticas e desordenadas.

Às vezes, seguem uma rotina já pré-estabelecida; outras, vivem como se esperassem pelo que o amanhã lhes reservasse. São criaturas peculiares, de fato.

Entretanto, há algo que realmente lhes foi reservado pelo destino: laços que os ligam às suas almas gêmeas. Meu trabalho é unir as duas pontas desses laços, fazendo-as se encontrarem para que não se soltem nunca mais. Mas há uma regra crucial no meu trabalho: jamais interferir no livre-arbítrio de cada indivíduo.

Não é porque uma pessoa está destinada a alguém que necessariamente ela escolherá estar com esse alguém. Faço o trabalho de deixar o amor florescer, mas viver esse amor é uma verdadeira escolha. Seres humanos são indivíduos únicos, com sentimentos e sonhos distintos. Não é fácil abrir mão da própria felicidade, muitas vezes, para suprir a felicidade do outro. Todavia, isso não significa que o amor, apesar de árduo, seja menos valioso. Na verdade, é essa escolha consciente, de se comprometer e nutrir o amor, que o torna extraordinário. O amor exige coragem, dedicação e sacrifício, mas é exatamente essa jornada que enriquece a vida e dá sentido à existência humana.

Não o vejo apenas como um sentimento, posso plantar uma faísca de sentimento nos corações dos humanos, mas a forma como ele se desenvolve... se torna algo completamente fora do meu controle.

O Parque del Retiro estava especialmente bonito naquela tarde. O sol se preparava para se pôr, lançando um brilho dourado sobre as águas do lago, onde casais remavam em pequenos barcos, sorrindo e trocando olhares apaixonados. Era o cenário perfeito para um encontro destinado.

Eu estava ali, invisível aos olhos humanos, observando a cena com atenção. Foi quando a vi, uma jovem mulher sentada em um banco perto da margem do lago. Ela tinha um livro aberto no colo, mas parecia perdida em pensamentos, os olhos fixos na superfície reluzente da água. Seus cabelos castanhos esvoaçavam suavemente ao vento, e uma aura de melancolia a envolvia.

Do outro lado do lago, percebi um jovem homem se aproximando. Ele carregava um violão nas costas e caminhava com passos hesitantes, como se procurasse algo ou alguém. Havia um brilho de esperança em seus olhos, e ele murmurava para si mesmo, ensaiando palavras silenciosas.

Reparei em algo, as duas pontas daquele laço que se arrastava entre o espaço-tempo, unindo-os muito antes que eles soubessem da existência um do outro.

Aproximei-me da jovem mulher, sentindo a energia do momento crescendo. Uma brisa suave passou por nós, e aproveitei o movimento para fazer com que uma rosa caísse de um arbusto próximo, repousando suavemente no banco ao lado dela. Ela levantou os olhos, surpresa, e então os fixou na rosa. Com um suspiro, pegou a flor e a trouxe ao nariz, inalando seu perfume doce.

Nesse instante, o jovem homem viu a mulher com a rosa. Ele parou, como se algo o puxasse em sua direção. Com um gesto quase involuntário, ele tirou o violão das costas e começou a tocar uma melodia suave, seus olhos encontrando os dela do outro lado do lago. As notas flutuavam no ar, carregadas de emoção e esperança.

A jovem mulher levantou-se, ainda segurando a rosa, e começou a caminhar na direção da música. Seus passos eram hesitantes, mas determinados. Eu podia sentir a conexão crescendo entre eles, como uma corrente invisível que os atraía um para o outro.

Fiquei ali, observando, enquanto os dois se encontravam na metade do caminho, sob a luz dourada do entardecer. A música do violão preenchia o ar, e eles trocaram um sorriso tímido. Não precisava fazer mais nada. O destino estava cumprido, e eu podia sentir a mágica do momento se desdobrando diante de mim.

Era por esses momentos que eu existia. Para criar oportunidades, para observar e proteger. E, acima de tudo, para trazer o amor ao mundo, mesmo que eu mesmo nunca pudesse tocá-lo.

sua sombra | park sunghoonOnde histórias criam vida. Descubra agora