Através de um espelho - Saga Exílio

Prólogo

Era um sábado qualquer, no início de setembro. Podia-se dizer que ainda fazia frio, para os padrões deles, mas não o suficiente para encorajá-los a ficar em casa. Nesse dia, ela planejou todo o roteiro para o que seria o melhor vídeo dos últimos tempos. Uma casa abandonada que ninguém havia explorado, eles e a câmera do seu melhor amigo. Perfeito.

Resolveram gravar a noite, seria mais fácil se não precisassem editar a atmosfera depois. Ele é o editor, essa ideia foi dele. Foram de carona até o local.

Ela encontrou a casa na internet, em um fórum qualquer sobre lugares abandonados na região, e achou que parecia perfeita para sua nova série. Eles poderiam gravar uma introdução na entrada, próximos ao portão de ferro quebrado, contando os boatos sobre a história do lugar. Depois, explorariam cada cômodo, como ela sempre fazia, mostrando coisas estranhas e peculiares, enquanto ele, atrás da câmera, daria risadinhas nervosas, com medo. Ela não era nada sem ele e sabia disso.

Resolveram começar no salão principal, o maior, onde provavelmente passariam mais tempo. Ele ainda estava posicionando sua câmera no tripé quando ela disse que iria dar uma olhada no resto, antes de começarem. Mal haviam se passado dois minutos, quando o escutou chamar por ela.

- Bela?

- Tô aqui! Acho que dá pra fazer um corte bom nesse cômodo. – Ela grita de onde está.

Ele não respondeu e ela revirou os olhos. Ele sempre fazia isso, quando ela gritava de volta, para obrigá-la a ir até ele. Mas não dessa vez. Ele não gostava de gritos. Dizia que gritos acordam os mortos.

A primeira coisa que ela viu foi o sangue, já virando uma poça ao redor do corpo dele. Ela se aproximou correndo, achou que estava gritando ou chorando, mas não tinha certeza. Tentou chamar o nome dele, mas não conseguiu formular uma palavra.

Percebeu o ferimento na garganta. Tentou pressionar a ferida, tentou estancar o sangramento, tentou chamar por ajuda, ligar para alguém, mas já era tarde demais. Os olhos dele ainda estavam abertos e o sangue que encharcou as roupas de Bela ainda estava quente, quando a polícia a encontrou, deitada no chão da casa abandonada, abraçada ao celular e ao corpo, já sem vida, do melhor amigo.