Era a primeira sexta-feira desde a nossa eliminação da Eurocopa. Saí de Munique ainda na terça-feira e peguei um voo para a Itália. Eu tinha até o dia 21 de julho livre, antes de precisar voltar para a Espanha e viajar mais uma vez antes dos jogos da pré-temporada.
Meu primeiro destino foi Milão, onde passei os dois primeiros dias, e logo depois fui para Florença, que era o meu principal objetivo. Nunca tinha passado tempo o suficiente na cidade, onde eu queria andar com calma, conhecer museus, galerias, restaurantes e o que mais eu tivesse tempo.
Visitei o Palazzo Strozzi no início da tarde e antes de voltar para o apartamento alugado eu decidi caminhar um pouco pela redondeza, onde eu tive uma das melhores surpresas da minha viagem.
Fui para Florença e uma das coisas que eu tinha certeza de que precisava comprar lá era uma cópia de A Divina Comédia, obviamente escrita em italiano. Claro que era obrigação comprá-la ali, já que era a cidade onde, Dante Alighieri nasceu, viveu e escreveu a obra que hoje é considerada a base da língua italiana conhecida atualmente, e para a minha felicidade, a caminhada sem destino me levou ao Giunti Odeon.O Giunti Odeon era o lugar perfeito. Era um cinema, junto de uma livraria, ou ao contrário. A entrada era gratuita, e assim que você passava pelas portas se deparava com a livraria em formato de anfiteatro, e subindo um lance de escadas ficavam algumas fileiras de poltronas confortáveis, onde qualquer um poderia se sentar e assistir aos filmes, ao mesmo tempo que assistia as pessoas no primeiro andar escolherem seus livros. Era genial.
Encontrei meu livro, e mais cinco. Consequências de gostar de ler, e decidi que era uma boa ideia dar uma olhada no andar de cima e aproveitar para assistir um pouco do filme, só o que eu não esperava é que tantas pessoas tivessem tido a mesma ideia que eu. Enxerguei uma poltrona vazia na primeira fileira em frente a grade que limitava o andar e me sentei enquanto encarava a tela, que passava um filme com quase o quadruplo da minha idade, e que eu não tinha reconhecido ainda.
Acomodei a sacola com os livros em meu colo e olhei para o meu lado direito, que só tinha o corredor vazio antes do restante da fileira, o que me fez olhar para o lado esquerdo e ver o assento ocupado por uma moça que lia um livro e tinha um par de fones no ouvido. Olhei para ela algumas vezes na tentativa de tomar sua atenção, mas não tive sucesso, então eu fiquei ali por quase vinte minutos.
Dividi a minha atenção entre a tela que mostrava o filme e o celular, enquanto eu lia as besteiras escritas por meus colegas de time, que aparentemente estavam com tempo de sobra e não tinham criatividade para aproveitá-lo da melhor forma.
Olhei para ela mais uma vez antes de desistir do filme e decidir ir embora, e só depois daquele tempo todo ela ergueu os olhos e me encarou antes de tirar os fones. – Tudo bem? Você..., precisa de alguma coisa? – Foram as palavras dela, que me fizeram abrir e fechar a boca algumas vezes até encontrar as minhas palavras.
– Eu ia perguntar..., o nome do filme. Desculpe se a desconcentrei, eu já estou de saída...
– Sem problemas...., mas eu também não sei como se chama. Sei que durante todo o dia os filmes são protagonizados por Paul Newman, é em homenagem a ele. – Ela sorriu, e eu fiz o mesmo. – Mas confesso que estou aqui há tanto tempo que talvez o filme já tenha mudado e eu...
– Entendo, o lugar é encantador e convidativo..., sabe o que vai passar amanhã? Ou é turista também?
– Sim, e sim. Amanhã são animações da Disney, e eu sou turista. – Ela deu de ombros e correu os olhos pelo ambiente silencioso. – Mas eu adorei o lugar, é a minha terceira vez aqui desde que cheguei, há dois dias...
– Acho que entendo você, com certeza vou voltar. – Sorri mais uma vez e me virei para desocupar a poltrona, mas algo me fez olhar para ela mais uma vez. – Obrigada, e desculpe interromper a sua música e sua leitura..., posso perguntar o seu nome?
