Prólogo

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Prólogo

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O sangue pulsava entre os dedos que faziam pressão sobre o peito coberto pelo hanbok¹ cinza feito com seda de alta qualidade, um presente dado pelo nobre ao seu amado em tempos felizes. Dentro da pequena casa de madeira afastada na floresta, só se ouviam os gritos do homem que suplicava, implorando para que seu amado não o deixasse.

Seus olhos cobertos por lágrimas foram direcionados para o rosto do pobre rapaz ensanguentado no chão. A pele pálida que ele tanto admirava agora estava encharcada de suor. As pálpebras duplas que antes o faziam acreditar que viver valia a pena agora mal conseguiam se manter abertas. O jovem de cabelos escuros usou toda a força que ainda lhe restava para levar sua mão ao rosto do homem que chorava por ele.

Ele tentou sorrir, desejando confortar o nobre como fizera tantas vezes antes. No entanto, a dor em seu peito era tão sufocante que ele mal conseguia respirar.

Quando seus dedos calejados tocaram a pele lisa do outro, a mão coberta de sangue, que antes pressionava o ferimento, sobrepôs a dele delicadamente. “Você sempre cuidou bem de mim”, pensou o jovem.

— N-não chora… — se forçou a dizer.

— Me perdoe, tudo isso é minha culpa. — Seus soluços incontroláveis ecoavam pela casa, a dormência tomava conta das pernas longas dobradas em uma posição desconfortável. A última vez que lembrava de estar ajoelhado daquela forma foi quando seu pai o obrigou a se desculpar perante um ato imprudente. Porém, diante da pior cena que já pode presenciar, sentia-se como se a qualquer momento o seu peito fosse se rasgar ao meio, feito a imagem do seu amado que tinha em mãos.

Ao chegar naquela casa vazia e escura e ver a pessoa que tanto amava jogada ao chão com sangue escorrendo sobre a madeira empoeirada, ele desesperadamente o abraçou e se prontificou a buscar ajuda. O rapaz, com uma voz fraca e ofegante, implorou: "Não vá… por favor. Fique comigo." Apenas sua presença ali era suficiente para que seus últimos momentos de vida não fossem em vão.

Ele tossiu algumas vezes antes de ter seu corpo abraçado pelo amante.

— Não é sua culpa… — começou dizendo. — E-eu fui feliz graças a v-você.

— Não me deixe, por favor, eu não conseguirei viver neste mundo sem você. — Ele percebeu que o corpo do outro estava esfriando, perdendo o calor natural humano. Aquilo o fez sentir-se ainda mais sem chão.

O homem sabia que tudo poderia ter sido evitado se ele tivesse obedecido às ordens do seu pai. Tal fato intensificou a culpa que inundava seu coração.

Ele esticou as pernas e, com esforço do braço direito, recostou-se na parede de madeira fria da sala. Com cuidado, posicionou o corpo do outro sobre o seu, permitindo-se acariciar seus cabelos longos. Seu braço, por baixo da cabeça do jovem ferido, tremia em conjunto com os ombros, ambos movidos pela intensidade do choro.

O nobre tocou os lábios opacos do rapaz com as pontas dos dedos longos. O medo de nunca mais olhar para aquele rosto lindo fez com que ele aproximasse suas faces, dando-lhe um beijo que logo foi interrompido pelos gemidos sofridos do ferido.

Mesmo à beira da morte, ele demonstrava uma força incrível ao se manter firme sem gritar de dor. Quando o nobre afastou o rosto de si, ele soltou uma lufada de ar pela boca entreaberta. O mais novo sabia que ali era o fim, então antes que fosse tarde demais, disse:

— ...Obrigado por me amar. — As pálpebras caíram pesadamente, o coração deixou de funcionar. Diante de todo o desespero, o nobre custou a acreditar que aquelas foram as últimas palavras ditas pelo amor de sua vida antes de morrer.


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Hanbok: traje tradicional coreano.

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O que acharam?

O prólogo fará total sentido em um certo momento da história. Lembre-se bem dele.

Beijos e até mais. 💋

O Outono Em Que Me Apaixonei Por Um Demônio - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora