Capítulo um

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A luz natural que invadia meu quarto era a mesma luz que queimava sobre minha pele, sol nessa época do ano é algo incomum, olho no relógio e vejo que ainda marcava cinco horas da manhã, não estava atrasado para o treinamento, mas não queria correr o risco.

Ao chegar no alojamento, já havia soldados e alguns recrutas  em suas posições, não perdi tempo e também me posicionei. Após todos os recrutas chegarem e ficarem em suas posições, o que levou cerca de duas horas, a chamada começou.

- Recruta Atlas?

- Aqui Senhor.

- O que busca fazer aqui?

- Busco defender o país com minha vida senhor.

- e acha que consegue? sendo um fedelho desse você não será capaz nem de lavar suas próprias cuecas, está realmente pronto pra sujar suas mãos por este país podre?.

o comandante não humilhava todos os recrutas assim, alguns ele apenas ignorava, ainda não era capaz de entender tal coisa.

- recruta Cassini?

- Aqui senhor. - ele apenas me ignorou.

Ainda não entendia o por que dele ignorar alguma pessoas, mas após terminar toda a chamada ele ordenou que limpassemos todo alojamento, o que frustou todos os recrutas, esperávamos aprender a usar armas não a segurar uma vassoura.

- licença, você está limpando os vidros do jeito errado assim vai acabar riscando. - era o recruta de mais cedo, Atlas.

- não entendo o sentido de entrar pro exército e aprender a limpar casa, se eu quisesse ser dona de casa eu não entraria ao exército. - usei um tom ríspido e grosseiro, estava de fato irritado com isso.

- faz parte do treinamento, os soldados precisam avaliar nossa linguagem corporal e ver quem realmente vai ser útil aqui dentro. - o olhei um tanto surpreso não imaginava que fosse por um motivo assim, apenas achei que queriam nos fazer de empregados.

- não justifica o modo que humilharam alguns novatos, alguns chegaram a desmaiar após serem espancados.

- na verdade é bem justificável, recrutas que não passaram por nenhum trauma na vida, não passam de fracotes, eles são fracos e não servem como soldados, eles precisam se dar o trabalho de destruir esses recrutas para serem capazes de virar soldados, o que não acontece com aqueles que possuem o olhar diferente. - eu nem sequer cheguei a cogitar tudo isso, como ele sabe dessas coisas?.

- você é um deles não é Cassini? você já vivenciou o inferno de perto por isso tem o olhar diferente. - que porra esse moleque tá falando, como ele sabe de tudo isso, eu vou me retirar dessa porcaria antes que eu soque a cara dele.

- você não sabe de porra nenhuma então é melhor calar a boca. - disse num sussurro mas alto o suficiente para que ele escutasse. - terminei meu serviço senhor.

- ótimo Cassini, Lucy ira te levar para conhecer onde vai passar a dormir.

- vamos! me siga. - a jovem mulher disse num tom ríspido. - é aqui, seu colega de quarto será um garoto chamado Atlas, se brigarem eu vou deixar que se matem, então eu espero que se dêem bem. - ela bateu a porta de meu quarto e saiu em passos pesados.

Não estava nem um pouco contente em saber que meu colega de quarto seria aquele idiota, mas isso me traria vantagem para descobrir o que ele sabe, se ele conseguiu chegar aquela conclusão apenas analisando ao seu redor eu devo admitir que ele é um gênio, com certeza será um soldado de grande importância.

Estava cansado demais para pensar sobre isso em detalhes, precisava de um banho e um descanso, mas antes que isso pudesse acontecer a porta é aberta por ele, pela sua expressão facial ele estava tão surpreso quanto eu em saber que o cara que lhe ameaçou seria seu colega de quarto, era nossa obrigação se dar bem ou iríamos acabar nos matando, afinal isso não era incomum dentro do exército, até onde eu sei o número de mortes entre companheiros aumentou bastante nos últimos anos, após a guerra as pessoas enlouqueceram.

- Perdoe-me pelo incidente de mais cedo, não deveria ter comentado sobre algo tão pessoal. - não esperava essa atitude vindo dele, estava muito surpreso.

- está tudo bem, também peço desculpas pela forma que reagi. - não tinha outra opção a não ser deixar passar, afinal precisamos nos dar bem.

- o jantar logo será servido, o sargento pretende conversar com todos os recrutas, é melhor você se apressar. - apenas concordei com a cabeça e entrei para meu banho. Atlas seguiu para o banheiro público e fez o mesmo.

Depois de todos os recrutas se reunirem na sala de jantar o sargento Buck, que ganhou autoridade e respeito de todos os cidadãos após lutar na guerra e ser o único sobrevivente de seu esquadrão começou a falar sobre como funcionaria as coisas dentro do alojamento, nada do que já não fosse óbvio o suficiente, toda essa falação me deixa irritado mas infelizmente fazia parte.

Após a "palestra" de Sargento Buck, ele permitiu que todos fossem ao refeitório se servir, uma das estratégias deles com certeza era matar alguns soldados de fome, já estávamos a quase 10 horas sem comer nada e trabalhando sem parar, obviamente teria briga por comida.

- EI QUE PORRA FOI ESSA?. - escuto alguém gritar no início da fila, quando decido ver o que aconteceu, vejo uma garota cortando fila, Hazel Valentini, uma das recrutas que foi humilhada pelo sargento. Por incrível que pareça nada aconteceu com ela, nem mesmos os recrutas se deram o trabalho de fazer alguma coisa, devem está cansados demais pra isso.

- não é assustador pensar que o país está na mão de pessoas assim?, os soldados que morreram na guerra não pareciam agir dessa forma. - esse cara de novo com suas perguntas sem sentido, tenho a impressão que ele tá tentando tirar alguma informação de mim a todo custo.

- escuta aqui cara, qual é a sua?, pq faz essas perguntas idiotas sem sentido nenhum?. - ele pareceu chateado com a forma que respondi ele, mas não me arrependo, quem sabe assim ele pare de me encher o saco.

- realmente, peço desculpas. - fala sério, desculpas? esse cara tá no exército pra matar o inimigo com beijinhos ou com armas?.

- pare de se desculpar por tudo, isso não é coisa de homem muito menos de soldado. - antes que ele pudesse terminar de responder eu levantei para lavar meu prato, já havia terminado de comer e não podia deixar o prato na mesa.

Entrei no meu novo quarto e adormeci.

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