Em uma tarde de sábado, quase à noite, um grupo de amigos decidiu visitar um museu, mais especificamente, o Museu do Louvre, onde ficava o quadro de Monalisa.
Rose, Jack e Marina. Eram adolescentes terríveis de lidar, queriam mais do que tudo, estragar aquele quadro, não apenas por diversão, mas porque queriam entrar para história de algum jeito, tanto bom quanto ruim, e nesse caso, era péssimo.
Assim que entraram, se esconderam, sem nenhum segurança ou câmera perceberem três adolescentes vândalos ali. Foi uma sorte grande, se fosse em outros casos já teriam expulsado quem quer que fosse.
Ao anoitecer foram até a sala onde ficava o quadro, e jogaram tinta vermelha bem na cara de Monalisa. Em seguida ouviram um choro, parecia mais uma lamentação, como de um fantasma, era baixo, dava um eco enorme pela sala e não se sabia de onde vinha.
— Ouviram isso? — Rose, a mais certa do grupo, que foi arrastada pelos outros dois, comenta.
— Que estranho, por que teria mais alguém aqui além de nós? Os seguranças nem devem poder chorar no trabalho — Jack falou enquanto cruzava os braços, tentando pensar em uma resposta para sua própria pergunta.
— Acho que não foi no museu… — Marina comentou desconfiada, e em seguida sentiu algo molhado nos pés, era água? — Está vindo do quadro.
As três cabeças agora estavam viradas para a obra na parede, que escorria água, formando uma poça embaixo dela, aterrorizando os adolescentes.
— Por que um quadro iria chorar? Isso não é normal, deveríamos sair daqui — Rose fala com medo. Parecia a mais sensata até agora, porque em seguida, Jack se aproxima do quadro.
— Jack, volte para cá, não se sabe em que outro tipo de confusão podemos nos meter — Marina também parecia com medo, mas tentava manter o controle.
— Eu lá tenho medo de um fantasminha, eu sou um homem, não tenho medo de nada, diferente de vocês, menininhas — Jack falou com orgulho, tocando no quadro e com um piscar de olhos, não estava mais ali.
As duas meninas entraram em choque, se encarando por alguns segundos, antes de Marina segurar na mão de sua amiga e se aproximar do quadro também.
— Mari, eu não acho que seja uma boa ideia — Rose fala encolhida, querendo ficar, mas seguindo Marina que segurava seu pulso.
— Rose, eu sei que você está doente, mas fique tranquila, podemos parar para descansar a hora que você quiser. — Marina disse com ternura, dando um sorriso mínimo para sua amiga, e em seguida tocando no quadro.
Marina acordou com pequenos tapinhas no rosto, Rose estava tentando acordar ele já fazia algum tempo, chamando por ela, na esperança de que Marina acordasse.
Assim que Marina abriu os olhos e tentou falar algo, Rose colocou um dedo sobre os lábios em sinal de silêncio e em seguida apontou para um homem, sentado em um banquinho, na frente de um quadro inacabado.
— Oh… está arruinado, está completamente arruinado — O homem, até então desconhecido, lamentava.
Rose fez uma cara empática, sentindo pena do pobre homem que agora tinha sua pintura arruinada.
— Perdão… O que, exatamente, está arruinado — Jack aparece atrás das meninas perguntando com uma voz confusa.
O homem olha para o grupo de amigos, e no mesmo momento respirações são presas. O homem não era qualquer pessoa ou amador da pintura, era Leonardo da Vinci, pintor da Monalisa.
— Meu quadro… — ele fala chorando — o quadro da minha noiva.
Noiva? Era o que os jovens se perguntavam. Até hoje, não se sabia por ninguém existente na Terra que Da Vinci havia tido uma noiva. Exigiam algumas hipóteses, mas nada comprovado por ninguém.
— Sua noiva? — Rose perguntou com uma voz baixa, em estado de choque.
— Sim, minha noiva. A minha Monalisa está arruinada — Leonardo falou e em seguida passou as mãos sujas de tinta pelo rosto, o manchando com cores diferentes.
O grupo se encara. Então era verdade, Leonardo havia tido uma noiva, não são apenas hipóteses.
— Eu sinto muito, mas por que essa tristeza toda? — Marina indagou, ainda achando a situação muito estranha.
— Minha noiva morreu de câncer. Quando descobri fiquei tão abalado que fiz esse quadro, os únicos detalhes que faltavam eram os elementos da paisagem, e agora está arruinado — Ele lamenta novamente, puxando os fios de seu cabelo.
Rose soltou um suspiro, ela também tinha passado pela doença, ainda quando muito nova. A leucemia fez com que ela mudasse até a aparência, então entendia muito bem a dor de Leonardo.
Jack faz uma cara de desconfiança e se aproxima de Leonardo, na esperança de observar o quadro melhor, e fica com uma expressão de culpa assim que vê a mancha vermelha bem no rosto de Monalisa.
Leonardo fica encarando a pintura, pensando no trabalho que teve para fazer o quadro, apenas para eternizar a pessoa que mais amava no mundo inteiro.
— Eu sinto muito pelo quadro… — Jack fala olhando para o chão, não tinha coragem de olhar nos olhos do pintor abalado — Fomos nós que jogamos a tinta.
Marina finalmente sentou no chão, ainda processando tudo que estava acontecendo. Como eles iriam sair dali? Mas por sorte, ela tinha feito algumas aulas de pintura.
— Sabe, eu fazia aulas com tinta a óleo, e minha professora falou que tudo na arte tem concerto. A tinta que jogamos não é a óleo, ela sai fácil — Marina fala, levantando do chão em um pulo, e levando um paninho qualquer que estivesse no meio das coisas de Da Vinci espalhadas por uma bancada, indo até o quadro e limpando a mancha com cuidado, sem borrar. — Viu?
Leonardo ficou admirado, não era uma novidade para ele, mas seu coração tinha se entristecido tanto que acabou esquecendo como poderia resolver o problema.
— Oh, obrigado — Da Vinci indaga, soluçando uma última vez, antes de limpar seus olhos e lagoa estavam com as pálpebras azuis e amarelas.
— Por nada — Marina dá um sutil sorriso.
— Com licença, mas como saímos daqui? — Rose se aproximou também, receosa, ainda estava com medo.
— Ah, sim, claro — Da Vinci gaguejou e apontou para um corredor — No final está a porta principal.
Os amigos ficaram confusos, mas decidiram não questionar, ele poderia apenas não ter entendido a pergunta direito. Rose até foi dar uma olhadinha, e quando abriu a porta ouvimos um grito agudo, o que nos fez correr até lá. Era mesmo a passagem de volta para nossa própria realidade.
— Adeus, crianças, voltem para casa assim que chegarem — Leonardo grita acenando com a mão, e retribuindo com um sorriso, Jack e Marina também atravessam a porta.
Rose já estava esperando pelos dois, sendo segurada pelo braço por um guarda que trombou com ela.
— Senhor, nós vamos embora, pode soltá-la — Jack falou se aproximando, e o guarda soltou Rose bruscamente.
— Se dirijam até a saída, não serão mais bem-vindos aqui — o guarda falou sério, e o grupo de amigos engoliu em seco.
— Sim, senhor — Jack falou e em seguida todos seguiram para a saída, querendo deixar aquele lugar o mais rapidamente possível.
Quando todos saíram do museu não falaram uma palavra, o silêncio parecia alto naquele momento.
— Acho melhor irmos para casa — Marina falou pensativa, e os outros dois concordaram.
Sem uma única despedida, cada um seguiu seu rumo, em direção a suas casas, com a cabeça completamente cheia, pensando que por apenas algumas horas eles conseguiram ter um pouquinho do que ninguém jamais iria ter novamente.