Aonung sempre achou que as noites em Awa'atlu pareciam trazer uma paz que o dia não conseguia. As ondas costumavam dançar na praia, refletindo o bilho das grandes estrelas, e a brisa sussurrava histórias antigas que sua mãe o contava quando era apenas um pequeno na'vi. O rapaz se encontrava deitado em sua rede, encarando o teto da cabana, os pensamentos rodopiando como a tempestade mais severa que ele havia visto.
Faziam duas semanas que Neteyam havia acordado, milagrosamente, após um mês de muito sofrimento e dor para os amigos e familiares. Aonung se lembrava do monento em que soube da melhora. O alívio quase havia o derrubado.
Desde então, ele havia o visitado com os outros, breves interações educadas e alegres. Mas não eram o suficiente. Ele queria – não, ele precisava – de mais. E por isso estava tão inquieto naquela noite.
A verdade era que desde que ele descobrira sobre a melhora do Omaticaya, seu coração parecia procurar algo que ele não entendia. Um sentimento agoniante o fazia precisar de Neteyam por perto. E toda vez que ele o via, as palavaras partiam.
O peso das coisas não ditas o incomodava. Neteyam era forte, corajoso, alguém que Aonung sempre admirou em silêncio. E agora, acordado e vivo... Neteyam parecia um milagre que ele não poderia alcançar.
Em meio ao silêncio da noite, o jovem sabia que não poderia esperar mais. Ele não sabia de onde tinha saído aquele pingo de coragem. Talvez fosse a luz suave da lua ou o murmúrio das ondas, mas oque realmente importava era que ele iria.
Naquele momento ele agradeceu mentalmente a Ronal, por ter deixado Neteyam sozinho em uma marui, para que assim, de acordo com a mesma, ele pudesse descançar sem "a família barulhenta ". A cabana que ele estava era perto, oque o fez agradecer novamente, já que sabia que teria desistido se fosse minimamente mais distante.
Quando chegou, Aonung hesitou por um momento. Poderia voltar agora, inventar uma desculpa, continuar evitando. Mas não. Ele respirou fundo e entrou.
Neteyam estava sentado na outra ponta do marui com seus pés na água, sua silhueta recortada pelo brilho suave da lua. Seus olhos se voltaram para Aonung assim que ele entrou, com um leve sorriso de surpresa nos lábios. Aonung sentiu o coração acelerar.
— Aonung? — Neteyam disse, sua voz ainda um pouco fraca, mas cheia de vida. — O que faz aqui tão tarde?
Aonung coçou a nuca, uma expressão embaraçada no rosto. Ele queria dizer algo inteligente ou até sarcástico, algo que mostrasse que estava feliz por Neteyam estar vivo, que se importava mais do que as palavras simples poderiam expressar. Mas nada que ele pensou parecia adequado.
— Não conseguia dormir — ele respondeu, se aproximando com passos lentos. — Achei que talvez... você também estivesse acordado.
Neteyam assentiu, um brilho de entendimento nos olhos dourados. Havia algo mais naquela troca silenciosa. Ele parecia esperar por mais, mas Aonung ainda lutava para colocar em palavras o que sentia. Por fim, sentou-se ao lado dele, perto o suficiente para ouvir a respiração calma e serena de Neteyam.
— As madrugadas são boas para pensar — Neteyam afirmou. — E momentos para pensar são raros quando estou com a minha família, então me sinto na obrigação de aproveitá-lo.
Neteyam observou Aonung por um momento, o silêncio confortável entre eles, quebrado apenas pelo som suave das ondas.
Aonung sentiu um aperto no peito. Ele nunca foi bom com palavras. Sempre foi direto, até mesmo rude e inadequado, mas quando se tratava de Neteyam, era diferente. Ele não queria estragar o que sentia com a sua falta de jeito.
Aonung respirava fundo, o som do próprio coração batendo em seus ouvidos, cada batida parecendo mais alta na tranquilidade daquela noite. Ele sabia que, para dizer o que sentia, não bastava apenas encontrar as palavras, mas também o momento certo. E, por alguma razão, aquela noite parecia perfeita.
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Midnight
Fanfiction" As madrugadas foram feitas pra dizer coisas que você não diria no dia seguinte " Neteyam havia passado um mês desacordado desde que fora baleado durante a guerra contra o povo do céu. No entanto, a Grande Mãe foi generosa com ele. Há duas semanas...