Único.

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O relógio marcava uma e cinquenta da manhã. Eu aguardava ansiosa pelo retorno de Roberto após mais uma operação, sentindo meu coração palpitar num misto de ansiedade e saudade. Nos conhecemos em um bar, entre amigos em comum. Naquela noite, embriagados e alheios aos problemas do trabalho, nos permitimos cometer uma série de deslizes.

Posso afirmar que esses deslizes foram proibidamente deliciosos.

A campainha do meu apartamento soou, anunciando a chegada do militar. Arrumei meus cabelos, apertando as pontas para criar movimento. Caminhei graciosamente até a porta e a abri, sorrindo suavemente para a figura do Capitão à minha frente. Ele envolveu minha cintura com seus braços fortes, levantando-me do chão para depositar um beijo em minha testa.

— Oi, Beto — murmurei. — Entre, fique à vontade.

Roberto me colocou de lado e fechou a porta, trancando-a sem olhar, como se estivesse familiarizado com o ambiente.

— Que saudade eu estava de você — disse ele, com uma voz aveludada e rouca, que só se alterava quando precisava chamar a atenção de algum recruta ou malandro na rua. — Cheirosa, como sempre.

— Isso se chama paixão — acrescentei. — Do frasco vermelho.

Roberto era casado há alguns anos e pai de um menino. Entre cervejas e conversas, ele me confessou que há muito tempo não se sentia incluído em seu próprio relacionamento, especialmente após tantas brigas inúteis. Não desejava resolver os problemas e fazer as pazes, não era como se fosse adiantar. Dormia e acordava ao lado de alguém que só concordava em dividir o mesmo quarto para que o filho pequeno não precisasse lidar com essas questões. Nascimento já era ausente em sua própria casa, e qualquer outro fator seria prejudicial para sua imagem de pai.

— Pedi pizza. Você deve estar morrendo de fome.

Fomos para a sala e nos sentamos no sofá. Roberto parecia querer me dizer algo com os olhos. Seus olhos negros expressavam cansaço sem precisar de palavras.

— Agradeço, mas vou deixar para a próxima. É praticamente impossível sentir fome depois de um dia de trabalho naquele lugar — disse ele, massageando as têmporas e estalando o pescoço, gemendo de dor.

Sem que ele precisasse pedir, sentei-me sobre as pernas e comecei a massagear seu pescoço, apertando o local várias vezes. Sua expressão alternava entre alívio e dor.

Eu não me considerava uma destruidora de lares, já que os dois pareciam apenas estar encenando uma brincadeira de casinha. Tenho tantos problemas que não queria pensar nisso agora. Que se dane, pensei.

Beto passou o braço pela minha cintura, aproximando-me mais dele. Seu corpo estava quente, causando um choque entre nós.

— Tá com frio? Você tá gelada demais, vai pegar um resfriado se bobear por aí, moleca — disse ele num tom sério, mas com um sorriso invertido nos lábios. — Tá precisando que eu te esquente? — acrescentou, colocando a mão sobre a curva da minha bunda, apertando e acariciando o local.

O toque de Roberto me provocava sensações mistas; qualquer mulher se desmoronaria diante de um homem desses. Luto para que esse sentimento não se expanda.

— Você pode me dar um pouquinho desse calor seu, viu — Disse entre um risinho nasalado. — Também estou com frio. Você deve tá' quente por causa da adrenalina do trabalho, já já esfria.

— Você tem razão até porque eu solto fogo até pelas ventas naquele lugar. É foda, muito foda. — Ele suspirou e parecia realmente cansado, eu o compreendia.

Ele apertava minha bunda com a mão que abraçava minha cintura, aproximando sua cabeça da minha, fazendo com que a minha boca tocasse a pele do seu rosto e ele acariciace a lateral da face contra meus lábios, como um gato. Um gato preto de rua, mal-humorado e arisco que cedeu pela primeira vez a um carinho singelo.

Volúpia ; Capitão Nascimento. (one +18) Onde histórias criam vida. Descubra agora