A Sobrevivente

Chegada na corte- prévia da história.

      Ao subir por tais longas escadas, não poderia deixar de sentir-me nervosa. Minhas mãos tremulavam um pouco, pois, em alguns longos minutos, eu iria me apresentar para a Rainha da Inglaterra como sua nova dama de companhia.   Mas, para tentar distrair meus pensamentos desses fatos, eu tentava observar que o novo lugar em que eu iria morar se distanciava muito da minha antiga casa e vida, apesar das condições de minha família pequena.

    Eu morava com o meu pai, que era um comerciante próspero e um nobre influente que constantemente tinha um contato privilegiado com os próprios Reis e Rainhas da Inglaterra, estando prestes a se tornar um conselheiro real. Logo, desde a minha infância, ele sempre dizia querer o mesmo para mim : poder, sucesso e destaque frente a Rainha, como sua futura dama de companhia.

      Enquanto isso, minha mãe havia morrido logo após o meu nascimento e, devido a tal fato, a única figura materna que tive foi a lady Eugenia, que sempre se encarregou da minha perfeita educação, me incentivando a cultivar as melhores habilidades que uma dama poderia ter para que, quando o momento chegasse, eu pudesse desfrutar da oportunidade triunfantemente. E acho que esse dia havia finalmente chegado em meu lar.

        Desde que meu pai anunciou essa possibilidade, portanto, não tive muita paz. Todos estavam em êxtase e já começavam a me felicitar, dizendo que sempre souberam que eu tinha muito potencial na vida. Quanto a mim, tudo que eu sentia era uma indiferença ideal.

       Em decorrência do meu alto nível de educação e do meu costumeiro modo de viver, sempre fui acostumada a nunca expressar emoções, mas sim a agir racionalmente em cada decisão; e era isso que eu precisava aplicar.

    Durante minha vida, como acabara de mencionar, a ausência do amor materno, conjugada com a postura firme e disciplinada do lorde Mounteen, moldaram a minha personalidade calculista e serena. Afinal, já que nunca tive irmãos, é como se todas as expectativas de uma continuidade familiar se voltassem para mim.

      Mas, de fato, seria muito vantajoso para minha pequena família que eu ingressasse na corte e, já que eu não era conhecida por ser um menino e herdeiro de meu pai, ao menos deveria honra-lo de outra forma. Além disso, também poderia orgulhar minha mãe falecida, apesar de não ter conhecido-a , já que todos me diziam que nós éramos idênticas fisicamente. Ela era uma mulher honrada, altamente educada e que certamente estaria feliz em ver sua princesinha dando os primeiros passos rumo à honra.

     No entanto, voltando para o momento presente, eu estava sendo conduzida por aqueles corredores. As paredes eram todas decoradas com pinturas do Rei, que não pareciam demasiadamente impressionantes para mim. Além disso, cabeças de cervos também caíam acima de cada porta, como era a tradição dos mais ricos que a Inglaterra poderia ter.

      A caça era um costume comum e era até mesmo estranho o fato de que meu pai nunca se interessou por tal ofício, mesmo tendo dinheiro o suficiente para manter essa atividade.

      Bom, de qualquer forma, dando continuidade às minhas observações, pude observar as flores, dando um ar de delicadeza ao ambiente, e um cheiro de comida que passava nos pratos segurados pelos inúmeros criados, correndo de um lado para o outro.

     Quando estava o mais distraída possível com toda aquela estrutura grandiosa, percebi que já estava dentro daquele quarto, tendo os olhares de outras damas agitadas com a minha presença, anunciada pelo homem ao meu lado, em olhares trocados.

—Lady Eleanor. Peço que aguarde naquele espaço e não fale nada até que a Rainha se dirija a senhorita. Isso apenas caso a senhorita tenha muita sorte. — Uma mulher ruiva orientou-me, fazendo-me assentir e apenas obedecer.

   Nesta medida, eu percebia cada vez mais que tudo aquilo era real, mas tentei afastar todo o nervosismo que eu vinha acumulando.  Uma ansiedade imensa por saber que estaria distante do meu lar e do meu cotidiano, em um ambiente estranho para mim. Um lugar imerso em pressões e desafios, especialmente para mulheres jovens e bonitas. Mesmo tendo me preparado a minha vida inteira para tal função, ainda assim era muito difícil vivenciar esta realidade.