Entro no carro, o relógio marca 21h17 da noite. Cutuco minhas unhas rosas feitas com vibra de vidro. Olho na tela de meu celular, é dia 13 de Julho, Quarta-Feira.
Tiago acelera o carro, eu me seguro no porta luvas para não bater contra o vidro, lanço um olhar ignorante para ele, mas seu olhar está concentrado na rua a frente, na rotatória que me joga contra a porta do passageiro. Meto o dedo na trava ao lado da janela e enfio o cinto o mais rápido que consigo.
- Vai, Brida! Diz alguma coisa! - A voz começa calma, mas há falhas, há suspiros entre as palavras. - Você não me dá um dia de paz.
Tiago passa reto a rua de sua casa e acelera mais ainda o carro.
- Onde vai? - Sussurro o mais calma possível.
- Buscar uma coisa.
- Buscar uma coisa? Onde?
- Onde você não vai, vou te deixar na sua casa.
O que? Eu espero por ele o dia todo para receber uma resposta como essa? Eu ando até perto da casa dele e o que ele faz, é isso?
- Não, eu vou com você. - Eu digo firme, olhando para frente, escondendo o medo que sinto. Quando cruzo os braços, meu cabelo castanho se enrosca neles junto.
Tiago começa a rir e eu consigo ver a raiva tomar conta de seu olhar, de seus gestos, posso imaginar mil coisas das quais eu fiz que poderiam ter estressado ele, mas não uma nesse nível.
- Você é imatura, Brida, estúpida. - Diz o cara de 26 anos sentado ao meu lado dentro de seu corsa que quem paga é sua mãe, com quem ele mora.
Bom eu posso ser imatura. Ou talvez eu tenha apenas 18 anos. 18 anos que completei na segunda-feira.
- Tiago, há meses eu tenho feito de tudo pra te manter na minha vida, eu te dei presente do dia dos namorados mesmo quando você havia terminado comigo, mesmo você nunca tendo me dado absolutamente nada! Eu pago a gasolina desse carro para andarmos de cima para baixo para você me tratar como lixo! - Estamos entrando na pista que divide nossa cidade com outra na qual eu morava até dois meses atrás.
- Brida, cala a boca! - Tiago grita, dando uma surra no volante.
- Você vai gritar? Então eu vou gritar mais alto, pra ver se você escuta!
Há meses que estamos juntos, quase um ano, eu sempre estive quieta e acabei me acostumando com o silêncio, com os abusos, com as palavras que me machucavam e deixavam feridas. Aprendi a aceitar tudo que vinha de Tiago, mas hoje, quando eu contei com ele e ele me deixou na mão, eu vou falar.
- Havíamos feito um combinado. - Sussurrei. - Qual era?
- Eu ir na sua casa hoje as 18h, Brida. - O olhar de Tiago continua focado na pista a frente, a pista escura e em construção.
- Eu te liguei, mil vezes, pensei que havia dormido. E então a sua irmã me mandou mensagem dizendo que estava jogando. Sabe como eu me senti? Havíamos combinado a semanas!
- Eu queria jogar, Brida! Que inferno...
- Você joga TODOS OS DIAS, o dia inteiro, o tempo todo, você está jogando. Antes de arranjar esse emprego, era 24 horas jogando, e quando não era jogando, era dormindo, ou com a Joana, ou fazendo qualquer coisa que não fosse comigo! - Minhas lágrimas começam a escorrer frias no meu rosto, meu corpo começa a perder o sentido e minhas mãos formigam.
- CALA A BOCA BRIDA! - Tiago soca o volante do carro mais uma vez.
- Eu aceito tudo, eu faço tudo, e tudo o que recebo é isso! Sua ex grávida na tua casa, seu desdenho, minha solidão, você me fazendo sentir culpa por algo que não fiz, me batendo na frente de outras pessoas na balada e eu nem sabendo o que dizer. O pior de tudo, Tiago, é que se você simplesmente tivesse dito que não iria eu ficaria de boa, tranquila, mas invés disso me deixou lá, esperando...
- Fica quieta! - Tiago começou a socar o volante do carro repetidas vezes e vejo sua mão entrar com força onde fica a buzina.
Ele estaciona o carro no escuro e olha para sua mão que está sangrando. Meu coração acelera mais ainda, no escuro da estrada a única coisa que vejo é o farol ligado.
- Deixa eu ver sua mão. - Sussurro, tentando me aproximar, mas Tiago me afasta. - Deixa eu ver se posso ajudar...
Tiago avança em cima de mim e me gruda na porta e a única coisa que consigo fazer é tentar ficar calma, mesmo que seus olhos latejem raiva, mesmo que seu sangue escorra em meu braço.
- Você é uma ingrata de merda! O pior ser humano que eu já conheci na minha vida, uma mimadinha escrota, sai do meu carro, garota! - Ele se afasta e solta meu sinto.
- Me deixa ver sua mão, e eu vou. - Olho para a rua escura adiante, meu celular com 2% e sem internet. O desespero do qual eu já estava antes só aumenta.
- Sai de perto de mim! - Ele se encolhe no banco do motorista, parecendo uma criança indefesa. Por um momento eu me pergunto o que eu fiz.
E no momento seguinte Tiago está gritando para eu sair do carro enquanto me atravessa para abrir a porta com força na noite escura e fria.
E então, nesse momento infinito e que parece estar em câmera lenta, sinto as mãos de Tiago atingindo minha barriga e meu rosto, minha cabeça explode contra a guia da pista.
- Mano, olha como você é louca! - Ele grita. - Você se jogou do meu carro, Brida!
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Seven Days
RomanceBella está presa em um relacionamento tóxico com Thiago, que a isola e controla. Em busca de um momento de alívio, ela aceita um convite para uma festa de pijama e conhece um novo grupo de amigos acolhedores. Em meio a esse turbilhão de emoções, Be...