Fico bem sozinho

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O que eu mais aprecio nesse colégio é a arborização, o cheiro característico das belas árvores de carvalho-escuro me cativam cada vez que passo por aqui. Fico sentado novamente no banco de madeira próximo ao lago, o local mais silencioso da escola inteira. Pra um adolescente de 16 anos meio introvertido, provavelmente o lugar mais confortável que pode ser oferecido no momento.

Observo algumas pessoas andando, em seguida um casal. Um garoto e uma garota do 3B, se eu não me engano, conhecem a Lívia, já que ela namora o garoto mais popular da escola. Eu fico olhando eles e pensando pra mim mesmo:

"Sempre olho para esses tais casais e me pergunto quando que isso vai acontecer comigo. Nem sequer um beijo, nunca dei. Acho que já gostei de uma pessoa, mas ela acabou me dando um fora por causa da minha deficiência. E meio que me senti meio pressionado a gostar dela, então nem considero muito. Aquilo talvez tenha me machucado tanto que não consigo mais gostar de ninguém. Ou provavelmente a pessoa certa ainda não tenha aparecido."

Mas acho que fico bem sozinho.

Olho pro lado e vejo a Marina chegando, provavelmente estava falando com o Miguel, o vizinho dela:

- Estava falando com o Miguel? - pergunto
- Sim, ele é um fofo. Ele me falou, inclusive, que entraram 2 alunos novos na 2B, um menino e uma menina - ela diz
- Legal, mas o que eu faço agora com essa informação? - pergunto
- Não sei, espalha ou... olha, quem sabe você não tem uma chance com essa tal menina.
- Eu acho que não, talvez eu esteja bem sozinho, no meu canto - digo, rindo um pouco
- Fala sério, Luiz. Você não vai sair do colégio sem dar um selinho sequer, né?
- Se pelo menos alguém quisesse, né.
- Para de drama, você ainda vai gostar de alguém!
- Depois daquilo que a Eduarda (a menina que eu "gostava") fez comigo? Só se for realmente a pessoa. Inclusive, e você e o Miguel, hein? - pergunto
- Já disse que ele é um fofo, mas não sei se ele quer algo comigo. Eu quero? Sim. Mas não sei sobre ele.
- Tenta flertar, você não é a tal "cupido do amor"? - pergunto - Depois de ter feito a Lívia namorar o Lucas, o garoto mais popular da escola, eu não duvido mais de nada.
- Quem sabe eu atiro a flecha em alguém e arrumo pra você? - ela pergunta
Nós dois caímos no riso, e quando menos percebemos, os 10 minutos de intervalo passaram como 2, e já temos que voltar pra sala de aula.

Vamos pra sala e vejo Lívia e seu namorado, dois pombinhos fofos indo pra sala, e se separando que nem o Brian e o Toretto em Velozes e Furiosos 7, um indo pra um canto diferente.

- Eles são muito fofos, não acha? - Marina pergunta
- Sim, minha meta de relacionamento.
- Hmm, então você pensa em um relacionamento? - acaba que ela pega no ponto, mesmo eu ficando bem sozinho, as vezes sinto falta de ter alguém pra ter a qualquer hora, mas meio que isso acontece entre nosso trio
- Tá, eu confesso, penso sim.
- Ahh, eu sabia!
- Eu disse que fico bem sozinho, não disse que não ficaria bem com alguém.
- Você tem um ponto - ela diz
- Vamos logo pra sala, provavelmente o professor Ruan já deve ter chegado.
- Calma, o Ruan vai dar aula pra gente de novo esse ano?! - ela pergunta
- Sim, você não leu a planilha que eles mandaram pros nossos pais no mês passado? - pergunto
- Não, que incrível! Amo o Ruan - ele realmente é um professor muito bom, ao contrário do nosso professor de química no ano passado, é uma pessoa muito gentil e que explica bem

Agora temos aula de língua portuguesa. Me concentro pra voltar a entender os pronomes pessoais e possessivos, mesmo já lembrando de alguns conceitos que já tinha aprendido nos anos anteriores.

- Recomendo que vocês prestem bastante atenção nessa parte, porque esse assunto caí muito em concursos, já que ano que vem vocês já vão estar fazendo eles, não se esqueçam disso. - diz Ruan
- Ai, nem lembra. Já fico ansiosa só de ouvir esse assunto - diz Sandra, a garota mais inteligente da sala.
Confesso que as vezes tenho inveja dela, mesmo ela sendo uma das poucas pessoas que consigo conversar nessa sala, até porque não sei como que ela consegue manter tanta informação na mente dela, parece até o Sheldon de The Big Bang Theory.
- Sandra, não se preocupa que esse assunto não é tão difícil - diz Ruan
- Não é nem o assunto, professor, é você falar sobre os concursos mesmo - ela confessa
- Tudo bem. Alguém tem alguma dúvida? - o professor pergunta
A sala fica em silêncio, então ele só continua o conteúdo.

Olho pro relógio que fica encima do quadro branco, são 10:15, ou seja, faltam exatamente 45 minutos pra aula terminar. Não sei o por que, mas na maioria das vezes só fico olhando pro relógio e me desconcentro no que eu estou fazendo. Nesse caso, estudando.

Algo interrompe a minha desatenção na aula, duas batidas na porta. Em seguida, alguém a abre.

Sua Voz É Meu ConfortoOnde histórias criam vida. Descubra agora