Capítulo 1.

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 24 DE JULHO DE 2018,

GRAMADO,

RIO GRANDE DO SUL — BRASIL

Devido às reformas intermináveis na residência do casal, Letícia e Fernando estavam vivendo num hotel, pois ela se recusava a morar na casa dos pais após se casar. Estacionando sua Ferrari vermelha na vaga indicada, desceu do carro, conferindo as horas em seu aparelho celular último modelo, quando percebeu uma movimentação estranha, sentindo-se observada.

Por instinto, Letícia girou o corpo todo olhando tudo ao redor, mas a única coisa que ouviu foram os barulhos de seus saltos altos ecoando conforme se movimentava.

— Letícia, você é uma mulher de vinte e quatro anos, então pare de sentir medo de um estacionamento, afinal isso não é uma locação de filmes de terror adolescente dos anos 90. — Falou mentalmente.

Continuou andando livre e despreocupadamente quando sentiu um objeto pontiagudo atingir de raspão seu pescoço. Olhou rapidamente para o lado e, quando seus olhos perceberam o que estava acontecendo, Letícia gritou, entregando o susto que sentira ao se deparar com uma pessoa com uma capa preta, um capuz preto escondendo seu rosto, coturnos e uma adaga afiada em mãos.

— Isso não é a porra de um filme de terror, filha da puta. — Esbravejou. — E seja lá quem for, é melhor ficar longe de mim.

Suas pernas tremiam devido ao susto, contudo a mulher tinha psicológico e discernimento o bastante para saber que o melhor a se fazer era correr rumo ao elevador para chegar à recepção do hotel e avisar a equipe de segurança local de que um maníaco munido de faca, revólver e com uma fantasia de filme de terror estava a perseguindo.

Chegou próximo ao elevador quando sentiu um tiro atingir uma de suas pernas, com isso ela caiu, perdendo as forças e gemendo de dor. O assassino se aproximou calmamente diante dela.

Letícia sentiu o medo aos poucos consumir e, apesar de não fazer ideia do motivo pelo qual estava prestes a morrer, sentia que quem quer que fosse por detrás daquela roupa ridícula se deliciava com a onda de pavor que consumia o corpo da herdeira dos Vilela.

O corpo da mulher fora levantado brutalmente e uma facada sem aviso, mas bruta o bastante para fazê-la gritar, fora desferida pelo assassino em suas costas. O objeto pontiagudo lhe atingiu fortemente a ponto de Letícia sentir o gosto do sangue subindo garganta acima.

Toda a gritaria acabou por chamar a atenção de uma das camareiras do hotel, que imediatamente desceu correndo para verificar o que estava acontecendo.

Manuela desceu a escadaria assustada, abriu uma das portas que ficara ao lado do elevador e, para o seu total espanto, seus olhos viam uma mulher sendo esfaqueada por uma figura desconhecida, ou melhor, irreconhecível por conta dos trajes estranhos e assustadores que ocultavam a identidade.

A pior parte era que Manu conhecia a vítima, mesmo não tendo contato diretamente, sabia que se tratava de Letícia Vilela, uma das herdeiras da vinícola Belíssimo Vino e esposa de Fernando Ferreira, conhecido pelo seu trabalho como engenheiro por todo o Brasil.

Enquanto Manuela ficará completamente em estado catatônico, sem conseguir se mexer ou gritar por ajuda, Letícia continuava sendo esfaqueada, recebendo outra perfuração, dessa vez na barriga, fazendo-a cuspir sangue boca afora.

Letícia fora morta com certa de vinte golpes de faca e cerca de três tiros, sendo dois deles na boca e um em sua perna direita. O assassino ainda se deu ao trabalho de pendurar o corpo da mulher em cima da Ferrari vermelha na qual Letícia chegara mais cedo.

Quando Manuela finalmente tentara voltar a si depois de presenciar uma monstruosa barbárie, recebeu um golpe forte em sua cabeça e rapidamente desmaiou, acordando apenas tempos depois com as armas do crime ao lado de seu corpo e com o delegado Olavo Bittencurt e outros dois homens fardados com o uniforme da polícia a encarando de maneira acusatória.

A garota negra se levantou, sentindo sua cabeça latejar, parecendo que abriram o local e um martelo colocado dentro, contudo, antes mesmo que ela pudesse perguntar o que estava acontecendo, sentiu mãos fortes segurando as suas e colocando as algemas.

— Manuela Oliveira, a senhorita, está presa pelo assassinato de Letícia Vilela.

X

25 DE JULHO DE 2018,

GRAMADO,

RIO GRANDE DO SUL — BRASIL

— Eu sou inocente — Manuela gritava dentro da delegacia do centro de Gramado.

— Como tem coragem de dizer que é inocente? — Olavo, o delegado de plantão, na ocasião, perguntara de forma irônica. — Todos os dias, senhorita Manuela Oliveira, temos casos iguais aos seus em que o criminoso, com a arma na mão e provas contundentes, alega veemente a inocência, mas em cinco minutos de investigação minuciosa nós descobrimos a verdade.

— Eu entendo, mas neste caso há um grande equívoco. — Manuela se manteve firme para se defender.

— Garota, você assassinou brutalmente uma das herdeiras da maior empresa de uvas e vinhos do Rio Grande do Sul e com essa conversa fiada acha que vai me convencer do contrário? Letícia Vilela era a filha mais velha dos empresários Ricardo Vilela e de Maria Luíza Vilela, donos da Belissimo Vino.

Manuela estava numa sinuca de bico porque suas memórias com relação à noite passada eram anteriores ao horário do crime, mas o que acontecerá após apenas vácuo. Entretanto, algo dentro de si dizia a ela que não era a culpada pelo assassinato de Letícia Vilela, contudo, sabendo o quão as pessoas no Rio Grande do Sul são elitistas e racistas, possivelmente sem um bom advogado e um argumento convincente, a jovem camareira de hotel poderá se complicar com a justiça. Além disso, com o desenrolar da investigação, ela teria muito a perder, começando pelo casamento com Pedro e todo o crescimento de seu filho Antônio, que só tem três anos de idade.

Todos dentro da bendita delegacia agiam unicamente para salvar seus próprios rabos e unidos pela hipocrisia por se tratar de morte de pessoa rica e famosa. Pois, seja em Gramado ou em Porto Alegre, qualquer Gaúcho sabe que todos os dias pessoas são assassinadas de forma premeditada, por conta de uma bala perdida da polícia ou de algum marginal no estado do Rio Grande do Sul. Contudo, a diferença é que, enquanto muito se fala sobre o Rio de Janeiro como violento, pouco se expõe o índice de barbárie da Europa Brasileira.

Dito isso, era óbvio que Olavo e todos dentro do local estavam a procura de um culpado para condenar pela morte de uma branca milionária e infelizmente a mulher negra, mãe de família e jovem camareira de hotel, fora a bola da vez, tudo porque estava no lugar errado, na hora errada.

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⏰ Última atualização: Jul 25 ⏰

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