1. Uma Dívida e Um Plano

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As nuvens no céu indicavam que em breve uma forte chuva cairia e Flora observava o vento da tempestade que se aproximava, sacudir violentamente as árvores que rodeavam a propriedade. Da pequena janela de seu quarto, ela não podia ver muito do mundo exterior.

Desde que se lembrava, vivia parcialmente presa na mansão dos seus tios. Não tinha liberdade para sair sozinha, mas pôde estudar na mesma escola que sua prima Amanda e a acompanhava em alguns passeios, mas sua vida costumava ser solitária.

Aos 23 anos, tudo que tinha era um segredo e a esperança de um dia conseguir fugir da prisão que chamava de lar. Apesar que aquilo estava longe de ser um para ela.

Uma empregada bateu à porta de seu quarto para informar que George LeBlanc, seu tio, a chamava para uma conversa, Flora tinha certeza que levaria a culpa por algum erro que Amanda cometeu, ela não se lembrava de um único dia em que foi bem tratada pela família, era sempre humilhada, agredida e tocada em segredo por seu tio, mas aprendeu a esconder sua dor e aguentar calada as atrocidades que passava, com esperança de que um dia tudo aquilo acabaria.

Ela e sua prima se sentaram de frente para o homem e sua esposa, Amanda sabia que nada tinha com que se preocupar, pois seus pais sempre a protegeriam, mas Flora já pensava em todas as possibilidades de punição que receberia no lugar da prima, para evitar mais problemas, ela abaixou a cabeça e ficou quieta, sem mover um único músculo.

— Donatello Puzzo quer que se casar com Amanda. — Flora levantou um pouco a cabeça se perguntando o que fazia ali, pois aparentemente se tratava do casamento da prima. — Mas ele deseja "conhecê-la", antes de oficializar a união, acho que ele deseja saber se ela é virgem e nós sabemos que não, por isso, Flora, em dois dias, você irá no lugar de Amanda.

Ela olhou para o homem à sua frente, sabia que sua vida não tinha valor algum para aquela família, mas não esperava ser usada dessa maneira. Todos sabiam que com 21 anos, Amanda, já havia tido mais parceiros que muitas ao 30, porém, seus tios não sabiam que Flora também não era virgem.

— Céus! Precisaremos de muita maquiagem para deixá-la o mínimo parecida com Amanda. — comentou a tia.

— Vocês não vão mesmo perguntar se eu quero me casar? — Amanda questionou.

— Não há escolha, filha. Donatello é um homem rico e poderoso, te dará uma vida de luxos se obedecê-lo e claro, esse casamento quitará a dívida que temos com ele e salvará a minha cabeça. — ele se virou para a sobrinha antes de concluir. — Portanto, Flora, espero que compreenda que é um preço pequeno a se pagar depois de tudo que fizemos por você, lhe demos comida, roupas, uma cama… por quase vinte anos!

— Sim senhor. — murmurou, pensando que provavelmente depois da tal noite, o senhor Puzzo pediria a cabeça de todos, não só de seu tio.

— Diga mais alto! — pediu a tia, se inclinando em sua direção, ouviu muito bem a resposta, mas queria novamente deixar claro que a sobrinha não era nada naquela casa.

— Sim senhor. — obedeceu a ordem da mais velha, sentindo sua garganta travar em seguida, era uma humilhação seguida da outra e a jovem estava cansada de ser usada como objeto por quem se dizia sua família.

— Ótimo, agora volte aos seus afazeres. — as duas jovens se levantaram. — Você fica, Amanda.

Flora saiu da sala calmamente, fechou a porta sem com cuidado e correu direto para o seu pequeno quarto, ali fechou a porta e caiu em prantos, juntamente com a chuva que passou a cair em torrencial. Estava farta de ser fraca e se deixar ser pisada e humilhada, mas ela não sabia ser diferente, desde pequena aprendeu que desobedecer era pior, mas já era uma adulta e eles tinham passado dos limites, por isso, depois de chorar tudo que pôde, ela lavou o rosto e tomou uma decisão: aquela seria a última coisa que faria pelos LeBlanc, depois que voltasse, ela iria fugir. Não importava se passaria fome ou dormiria na rua, podia até mesmo morrer tentando, qualquer coisa era melhor que viver naquela casa.

Inevitável - Chama Ardente Onde histórias criam vida. Descubra agora