A sensação fria e metálica do anel, pressionado firmemente contra a palma de sua mão trêmula, era a única confirmação de que ele estava ali, de fato, presente em um corpo que flutuava, e mal parecia pertencer-lhe.
Era também a única recordação de sua solidão, das falhas, da incompletude. A lembrança material e eterna de que ele, e todo o amor que carregava dolorosamente consigo, nunca seriam suficientes. De que talvez, desde o começo, ele tenha idealizado sozinho uma história de amor que nunca conseguiria viver.
Culpava a adolescência por isso. Nessa fase da vida, todas as sensações e emoções se intensificam, todas as decisões são tomadas como se não houvesse amanhã, todos os amores, especialmente os primeiros, parecem imaculados, avassaladores e insubstituíveis. Se era assim que sua inexperiência o fazia agir, não o surpreendia que a ausência dele tenha parecido o fim do mundo.
Mesmo assim, ele se recusou a soltar a joia, embora as oportunidades não parassem de surgir. Pensou em jogá-la pela janela do ônibus, com um impulso que só a mágoa poderia proporcionar, ou simplesmente deixar que deslizasse por seus dedos, como se a perdesse acidentalmente. Então, algum outro passageiro enxergaria seu brilho entre os feixes de luz da lua, a tomaria nas mãos, se questionaria como alguém conseguiria perder um anel tão precioso, e ele, finalmente, se livraria daquilo que por tanto tempo considerou um tesouro.
Ainda assim, era ali que tudo se encerrava: aquele era seu pequeno tesouro dourado. O anel, o coração, o sorriso daquele garoto. O centro de seus pensamentos, a primeira coisa que lembrava quando acordava e a última imagem que via antes de adormecer. Ele sentia-se incapaz de abandonar o anel de seu amado, e mesmo que encontrasse coragem para o fazer, não significaria nada. Ele não conseguiria se livrar dos sentimentos, do cheiro dele ainda fresco em seus sentidos, e no fim, ainda haveria seu próprio anel, tão natural em sua mão como se já fizesse parte da pele.
Lentamente, ele abriu a mão para observá-lo outra vez. Dessa maneira, conseguia ver ambas as alianças; a sua, ainda agarrada ao dedo; a dele, sem propósito algum ali além de entristecê-lo. As duas, com suas iniciais gravadas em ouro.
Romântico incurável, ele guardava as memórias com muito apreço no baú de sua mente, e lembrava de todo o processo até ter as joias gêmeas em mãos. A euforia de recebê-lo no camarim com um buquê de girassóis; O desejo de ajoelhar-se ao vê-lo diante de si, mais belo que nunca, intocável como um anjo, reluzindo com todas aquelas penas e lantejoulas; A sensação de ter sentido as batidas do coração dele alinhando-se as suas, pois sentiam o mesmo um pelo outro, naquele momento; O calor de seu corpo quando o tomou em seus braços, rodopiando sem parar em felicidade genuína; A certeza de que um amor tão grandioso quanto o que nutriam seria para sempre.
Quatro meses guardando cada tostão de sua mesada. A mãe ajudando-o a escolher o modelo na joalheria. Sua mão trêmula ao tentar a perfeição na escrita da primeira letra do nome dele. A emoção ao vê-las prontas pela primeira vez. A união, a troca, os beijos, os juramentos que asseguravam uma longa e próspera vida em convívio.
Aquele anel, então, era tudo o que havia restado deles. Não podia evitar roubar um vislumbre de tempos em tempos, embora cada olhar machucasse mais e mais. Mal conseguia suportar seu peso esmagante sobre a própria mão. Sentia o peito sufocar, o ar parecia desaparecer. Quando sentia as lágrimas pesarem seus olhos, erguia a cabeça para o alto, para voltarem ao seu lugar de origem, no âmago de sua amargura. Não podia chorar, não ainda.
Não, não podia ser o fim. Ele se recusava a aceitar as implicações daquelas atitudes, das consequências daquela noite, porque sabia que ainda havia amor nos olhos chorosos daquele garoto, ainda havia toda aquela mesma devoção de tantos anos atrás, transbordando em seu peito.
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The Only Sun Left 𖤓°⋆.ೃ࿔* taekook
FanfictionRotinas sempre foram o alicerce da vida de Kim Taehyung. Professor disciplinado e ansioso, sempre evitou o imprevisível, buscando ordem até nos detalhes mais mundanos. Após assinar os papéis do divórcio e se isolar no apartamento que dividia com a e...