PARTE 1 - PÔR DO SOL
Enquanto o homem em sua frente folheava distraidamente o que parecia ser um caderno de anotações, Taehyung o encarava, com a mente efervescente em pensamentos.
Como se tivesse todo o tempo do mundo, ele observou: as redondas maçãs do rosto, de projeção central, davam ao homem uma aparência infantil, e, com um nariz delicado, meio achatado, parecia ser jovem demais para toda aquela imensa quantidade de especializações. Tinha a pele muito translúcida e aparentemente macia, pintinhas discretas enfeitavam o canto do olho e os braços. Enquanto ele procurava uma folha em branco, os lábios grossos se dobravam em um bico. Daquele ângulo, seu lábio inferior se mostrava maior que o superior, e seus olhos amendoados, grandes e de íris negras brilhantes, completavam um quadro de pura meiguice.
Taehyung sentiu o coração acelerar, e de repente, respirar normalmente já não era mais tão simples. Com as mãos unidas sobre o colo, ele espremeu as juntas e se forçou a desviar o olhar. Ironicamente, aquela não era a hora ideal para ficar ansioso. No entanto, quando o tão familiar nó na garganta surgiu, ele sabia que estava prestes a vomitar. Era apenas seu primeiro dia, e ele já estava, inacreditavelmente, causando uma cena. Ao contrário do que insistiam seus alunos, ele tinha certeza de que, naquele momento, não parecia nada temível e frígido.
— E então, Taehyung? Podemos começar?
A voz do homem, melódica e suave, capturou sua atenção de imediato. Com um sorriso gentil, Choi Yeonjun tamborilou a caneta sobre seu caderno, encarando-o de maneira atenciosa. De repente, a ânsia de vômito misturou-se a repulsa. Seu tom de voz suavizante tentava, naturalmente, confortá-lo, ainda que a ansiedade não tenha se feito aparente. Era um tom educado, e embora provavelmente fosse utilizado com a maioria de seus pacientes, Taehyung se perguntou se Yeonjun falava daquela maneira tão aconchegante também em seus relacionamentos pessoais.
Taehyung tornou-se consciente da chave do quarto do hotel em seu bolso, e com um queimor nos olhos, se arrependeu profundamente.
Era estupidez, e ele, nada além de um tolo. Nunca deveria ter ido tão longe, e ainda assim, aquele era apenas o começo.
— Taehyung?
— Posso beber um pouco de água antes? — ele pediu, tentando disfarçar a voz trêmula.
Com uma sobrancelha inclinada, Yeonjun fechou imediatamente o caderno, direcionando seu foco para a expressão desorientada de Taehyung.
— Claro! Como você prefere, gelada, natural, morna...?
— Natural, por favor.
Yeonjun atravessou uma porta no consultório, e Taehyung presumiu que fosse a cozinha. Encontrando-se sozinho, ele soltou um suspiro exasperado e afundou na poltrona, coçando a têmpora. Choi Yeonjun, doce e limpo. Caloroso. Fácil de gostar, e assim, para amá-lo, um passo seria suficiente. Taehyung fechou os olhos quando voltaram a arder. Seus pés formigaram para que ele aproveitasse a saída do médico e escapasse dali, mas ele sabia que não deveria, nem poderia fugir daquelas circunstâncias. Ele tinha certeza de que se arrependeria no momento em que retornasse para casa, e percebesse que, daquela vez, ele seria o único culpado por condicionar sua infelicidade. Depois de uma busca incansável, uma longa viagem e uma quantia expressiva que não retornaria, era tarde demais para desistir.
Ele já estava ali. Agora, deveria ir até o fundo, embora não soubesse o que gostaria de encontrar.
— Você gosta de biscoitinhos de canela, Taehyung? — ele inquiriu, entregando a água e oferecendo um pote de vidro.
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The Only Sun Left 𖤓°⋆.ೃ࿔* taekook
FanfictionRotinas sempre foram o alicerce da vida de Kim Taehyung. Professor disciplinado e ansioso, sempre evitou o imprevisível, buscando ordem até nos detalhes mais mundanos. Após assinar os papéis do divórcio e se isolar no apartamento que dividia com a e...