𝐀 𝐦𝐞𝐮 𝐟𝐚𝐯𝐨𝐫 - 𝐅𝐑

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Lorena

Eu não imaginava como era ser mantida em cativeiro, não fazia ideia de como era ver aquelas mulheres chorando após finalmente conseguir ver a luz do dia, agora essa merda toda tá marcada na minha pele com unhas e dentes.

Faziam mais de uma semana que eu tava presa aqui, a única coisa que eles me dão é leite em uma tigela que era possível ver cabelo boiando e um pão duro que era capaz de matar alguém se jogado da maneira certa no alvo, eu sempre vomitava.

Me sinto nojenta, podre por fora é por dentro, me sinto suja por estar sendo obrigada a passar por uma merda de situação por causa de terceiros. Eu tinha um emprego, não sei se ainda tenho, eu tinha uma vida que não sei se vou ser capaz de viver se houver alguma chance de finalmente ver a luz do dia, eu quero apenas amarrar uma corda no meu pescoço e dizer foda-se a isso tudo.

Como eu pude ter me sucumbindo a essa merda por causa de um homem, era embaraçoso pra minha cabeça, logo pra mim que trabalho, estudo e ainda tentava manter uma vida social agora tenho a certeza que chegar na rua vai ser difícil, que ouvir um barulho de tiro vai me fazer lembrar de tudo isso se eu sair viva.

Eu queria implorar pela ajuda dos meus pais, queria chorar no colo da minha mãe e dizer que a menininha dela foi abusada que o seu maior medo tinha acontecido, que a culpa era minha.

— Lanche da tarde, vagabunda.

E assim a comida foi arrastada até mim, um caldo de alguma coisa indecifrável e bitucas de cigarro estão a mostra, me recuso a comer isso.

Poxa mamãe é papai, queria tanto aprender a ser uma estrelinha e voar para onde ninguém possa me fazer mal.

Me pergunto como está minha melhor amiga, se ela ainda se importa em saber como estou, sinto tanta falta de Lara de chorar no colo quente dela, sinto falta do Flávio me pedindo conselhos para amenizar a briga deles, eu sinto falta da minha vida.

Todas as noites essas pessoas abusavam de mim, meu corpo está coberto de marcas roxas, meu cabelo todo desgrenhado e eles já tinham se acostumado com o fato de acharem que eu sou uma boneca sexual e simplesmente colocarem seus amigos dentro de mim e gemer de prazer da parte deles. Eu só sabia chorar e pedir a Deus pra que isso acabe de vez, que eu morra de vez.

— Não vai comer? – encaro o cara de cabelo roxo, apenas balanço a cabeça — Vai acabar morrendo de fome se não se alimentar, está ficando bem pálida.

Chuto a comida na sua direção e assim então ele parece analisar cada parte da sopa.

— Me recuso a comer isso, eu não sou um porco.

— Claro que não é docinho,  estão fazendo de sacanagem com você pelas minhas costas! – foi sua vez de ficar puto e chutar a sopa — Mesmo que eu abomine qualquer coisa do ret, não posso deixar você morrer de fome.

— Não quero nada que venha de você, me deixa ir embora! estou implorado.

— Engraçado da sua parte – então ele gargalha alto — A noite venho foder você, esteja pronta.

E assim que ele finalmente saiu eu consegui chorar, era um choro de agonia é de fome, eu não como a exatamente uma semana. Tentava arrumar um jeito de como me soltar dessa cadeira, mesmo que demore meses, eu ainda vou sair daqui.

A porta então é aberta brutalmente novamente dessa vez a imagem revelou uma mulher de cabelos longos sendo puxada por um homem careca e jogada como se fosse lixo do meu lado e assim ficamos as duas presas.

— Me chamo Manuela – tenta me olhar no escuro — O que te fez vim parar aqui?

— Bem Manuela, me chamo Lorena – respiro fundo porém não tão fundo para não passar mal com o cheiro ruim — Parece que eu sou "importante" para alguém que ele quer bastante morto, e agora eu quero também.

— Que coisa de louco, eu também estou aqui pelo mesmo motivo – ainda não consigo ver seus detalhes sem que a porta esteja aberta — sou da Penha.

Costumava fugir com a Lara pra lá quando achávamos que estávamos arrasando com a cara das inimigas, na verdade era ao contrário.

— Sou do Alemão, complexo do alemão.

— Mana que babado – escuto ela sorrir — O que esse doido quer com a gente?

— Eu ainda não tenho noção – abaixo o olhar sentindo meus olhos encherame de lágrimas — Porém tenho que descobrir o real motivo por trás, se tiver um.

E assim ficamos o dia todos, em silêncio absoluto.