Seongju, 17 de maio de 1987Minhas mãos estão escondidas nos bolsos do casaco, e o capuz cobre minha cabeça, abafando o frio cortante da noite. O ar gelado parece cortar como lâminas enquanto me aproximo de um mercado de rua deserto. As barracas estão fechadas, as mercadorias já guardadas, e o único som é o eco dos meus passos no pavimento.
O relógio provavelmente já marcou mais de dez da noite. Respiro fundo, sentindo o peso da mochila nas costas. Minha mente corre a mil, mas meus passos são cautelosos enquanto me aproximo de uma loja de penhores. A fachada desgastada e as janelas sujas refletem a luz fraca dos postes.
Olho ao redor, certificando-me de que ninguém está por perto. O mercado está silencioso, exceto pelo som distante do tráfego. Agacho-me ao lado da porta da loja e retiro uma pequena chave de fenda do bolso. Minhas mãos tremem, mas forço-me para manter a calma.
Com cuidado, insiro a chave de fenda na fechadura enferrujada e começo a trabalhar. Ouço um clique suave e a porta se abre com um rangido. O cheiro de metal velho e poeira me invade quando entro. A escuridão é quase total, mas meus olhos se ajustam rapidamente.
Minhas mãos correm pelas prateleiras, vasculhando em busca de algo valioso. Relógios antigos, joias empoeiradas e objetos de prata. Encho a mochila com o que parece ter mais valor, tentando não pensar nas pessoas que talvez tivessem penhorado suas últimas posses aqui.
De repente, ouço um barulho vindo do fundo da loja. Congelo. É o som de passos pesados e uma respiração ofegante. Um segurança. A adrenalina dispara, e sei que preciso sair rapidamente. Corro para a porta, mas os passos se aproximam. Sem pensar duas vezes, empurro a porta com força, disparando para fora.
Do lado de fora, avisto uma moto estacionada perto de um beco. Uma Kawasaki antiga, com a pintura descascada e uma corrente pendurada. Minhas mãos tremem de excitação e medo enquanto corro até ela. Não tenho outra escolha; preciso de uma saída rápida.
Agacho-me ao lado da moto e rapidamente começo a trabalhar nos fios sob o guidão. As luzes do mercado piscam à distância, e o som dos passos do segurança se aproxima. Descasco os fios com pressa, juntando-os para criar uma faísca. O motor tossiu, mas não pegou de imediato.
"Vamos logo, porra", Um suor frio escorre pela minha testa enquanto tento novamente, desta vez com mais calma. Finalmente, o motor ganha vida com um rugido baixo.
Com o coração disparado, monto na moto e dou uma última olhada para trás. O segurança surge na esquina, gritando algo que não consigo ouvir. Acelero, deixando para trás a loja e o homem que agora está me perseguindo. O vento corta meu rosto enquanto o capacete me protege, mas decidi abrir o visor para respirar melhor. Desapareço na noite, as luzes da cidade se tornando um borrão enquanto ganho velocidade.
•••
A pequena casa do meu irmão está escondida em uma viela tranquila, longe do barulho do centro da cidade. Quando chego, ele já está esperando do lado de fora, com os braços cruzados e uma expressão preocupada. Desço da moto, sentindo o peso do que acabei de fazer.
"Você é doida?" ele pergunta, depois que contei tudo. Sua voz é baixa, mas cheia de preocupação.
"Depende de que tipo de doida você está falando," respondo, tentando aliviar o clima. Ele começa a andar de um lado para o outro, nervoso.
"Olha aqui, Lalisa Manoban, você está passando dos limites. Aonde você pensou que poderia melhorar nossa situação roubando uma loja de penhores e uma moto?" Ele para na minha frente, os olhos brilhando de preocupação e raiva.
"Eu só queria..." minha voz falha. "Eu só queria conseguir algum dinheiro. Para a mamãe."
"Mas isso não é jeito de conseguir dinheiro!" ele exclama. "Você sabe que isso é perigoso. E se tivesse dado errado?"
"Mas não deu," digo, desviando o olhar. "E mesmo se desse, talvez fosse melhor assim."
"Lisa, você não pode continuar assim. Doyun vai descobrir e então... então você vai acabar em um internato. Ou pior, na prisão."
"Eu não ligo," digo, minha voz fria.
"Não seja boba. Você não tem nem dezoito anos ainda," ele diz, tentando manter a calma. "Você precisa de ajuda, não de mais problemas."
"Ajuda? De quem? Dele?" minha voz sai mais alta do que eu queria, e meus olhos se enchem de lágrimas. "Ele é um completo escroto, e você sabe disso. Ele não está nem aí para a mamãe; ele simplesmente a internou e deixou ela apodrecendo naquele lugar."
Meu irmão suspira e passa a mão pelos cabelos. "Eu não sei o que fazer," ele admite.
"Você não ganha bem o suficiente para sustentar sua esposa e filha, e a nossa mãe," digo, tentando manter a voz firme. "Eu sei que você está fazendo o seu melhor, mas isso não é o suficiente. E eu não aguento mais. Ele está me sufocando. Ele acha que pode controlar tudo na minha vida, e eu só... eu só quero ser livre."
"Mas eu quero ajudar. Vamos fazer o seguinte, dorme aqui hoje, amanhã eu vejo como podemos resolver isso".
Olho para ele, sentindo um peso no peito. "Tudo bem," digo, finalmente. "Vou ficar. Mas só por hoje."
Entramos na casa, e o cheiro familiar de comida caseira me envolve, trazendo uma sensação de aconchego. Soojin, a esposa do meu irmão, me recebe com um sorriso caloroso, e por um momento, é como se o mundo lá fora não existisse. Sentamos à mesa, e a conversa flui naturalmente. Rimos das histórias do dia, falamos sobre coisas banais e por alguns instantes, a tensão parece se dissipar.
No entanto, mesmo enquanto sorrio e participo das conversas, uma parte de mim permanece distante. É difícil não pensar no que vem a seguir, nas consequências que eventualmente terei que enfrentar. Mas, por agora, me permito desfrutar desse pequeno respiro de normalidade. A companhia e o calor de uma família sempre proporcionam um raro momento de paz na minha vida.
Enquanto a noite avança, deixo as preocupações de lado o máximo que consigo, tentando absorver cada detalhe desse instante. As risadas de Soojin, o olhar protetor do meu irmão, a simplicidade do jantar compartilhado. Tudo isso me lembra do que é viver, mesmo que apenas por um breve momento. E, embora uma parte de mim continue alerta, outra parte agradece por essa breve pausa da realidade.
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ATRAVÉS DE VOCÊ
FanfictionPresa em um lar marcado por agressão e uma mãe à beira do colapso, Lisa só quer fugir da realidade sufocante e encontrar uma chance de liberdade. Quando seu pai a coloca em um internato, ela conhece uma garota que poderá mudar sua vida - mas será su...