Mapinguari

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Sou Saulo Azevedo da Costa, moro em Jacareacanga, fica no interior da Pará. Fica a uns 15 dias a pé de Belém e mais de 24 horas de carro. Bem na frente da cidade passa o rio Tapajós, é bem grande essa beleza.
Isso foi quando eu era menino, devia ter uns 13 anos, acho que isso foi em 73, mas enfim. O meu tio junto do meu vô me chamou pra gente pescar. Já que eu tava virando homem, precisava aprender as manha. Não sei da onde o abestado do meu tio tirou o intento de pescar de noite. "É melhor assim que os peixe não vê a gente." Era pra eu capa o gato na hora que escutei isso, mas não, tava querendo me provar ser macho mesmo. Eles tavam querendo fazer isso na Jacareacanga Velha, fica bem depois do rio, é um tempo até que bom de barco. Lembro direitin que a gente saiu quando o céu tava mei rosa, meio azul, tava bonita a visão. A gente chegou lá e tava a lua grandona parecendo uns zói de gato, bem grande lá em cima.

Tava frio que só a mulinga, meu não tio não tava conseguindo prender o barco e meu vô disse "dá teus pulos." saudades do meu veinho... A gente ficou um tempo lá no barco, acho que pegamo uns 5 peixe, um deles era meu, vovô fez uma festa de rocha pra mim, falou alto que só. O problema da gente começou quando descemos do barco, quando a gente foi pra terra firme.
Nós 3 descemos pra organizar o barco, arrumar direitinho e voltar pra casa, só que meu tio ouviu um negócio no mato, era uma moita se mexendo e puxou logo o facão, cortou o matagal ali e era só um sapo de chifre, bicho feio.
Eu apostei com meu tio e meu avô quem cortava mais mato em menos tempo, não ia ter perigo de fazer nada ali já que os bichos ficam mais dentro da floresta. Acho que foi meu vô que cortou mais, aí ele lembrou de uma trilha que fazia na minha idade e quis levar meu tio comigo junto, dizia que não era longe, só uns 5 minutos andando.

A gente tava indo com meu avô cortando o mato na frente dele, até que uma hora não precisou mais, a trilha tava parecendo que era usada todo dia, até os galhos lá de cima das árvores tavam quebrados. Meu tio pegou uma pistola e entregou pro meu avô que conhecia o lugar mais que a gente, eu fiquei bem encostado no meu tio, com medo, era só um pirralho. A gente ouviu um grunido logo atrás, meu avô tava na frente da gente e não podia fazer nada sem acertar nós dois. Eu me virei com o coração disparado, a lua nem brilhava mais atrás da gente, fazia a sombra daquela coisa estar na nossa cara. Meu avô foi o primeiro a virar, ele ficou assustado, assombrado, os olhos dele pareciam querer saltar da cara. A última vez que meu avô tinha se apavorado com algo foi quando minha avó morreu, e depois dessa noite, nunca mais.
Eu e meu tio nos viramos junto, mas bem devagarzinho, e tava lá a desgraça que Deus mandou pra me assombrar. 
Aquela coisa tinha uns 3 ou 4 metros de altura, era todo peludo, menos nos pés e nas mãos que as unhas eram garras grossas, tinha um olho na cabeça e uma boca na barriga. Sem orelha, sem nariz, apenas isso. Ele tentou meu pegar, mas meu tio se jogou e ficou no meu lugar. Aquela coisa levantou ele como um lanchinho e colocou apenas a cabeça naquela boca afiada. Ele puxou o corpo do meu tio e jogou ali, comeu a cabeça. 

Meu avô gritou pra eu correr e eu corri, aquela coisa estendeu os braços pra me pegar de novo e eu passei por baixo dele. "Grurr" era oque aquela praga fazia. Eu não olhei pra trás, não parei de correr, subi no barco e fiquei esperando meu avô. Eu ouvia o barulho da pistola disparando ainda, 3 tiros e parou. Os pássaros que tavam dormindo acordaram assustados e voaram pra longe. 
Eu esperei meu avô até o amanhecer, mas ele não voltou, fiquei chorando até o sol raiar. Com o barco voltei pra cidade sozinho, procurei ajuda. Só 2 dias depois acharam o corpo do meu tio e do meu avô, eu não queria ver e quem viu o corpo foi minha mãe e minha tia que ficou viúva com dois filhos pra criar sozinha. Disseram que uma onça tinha atacado eles e que eu devia tá sonhando acordado, mas eu sei oque vi.

Como toda noite eu tava tendo pesadelos, dias depois fui falar com um pajé, era um do povo munduruku. Contei pra ele dessa coisa, ele me disse que aquilo era um mapinguari, uma criatura que protege a floresta. Parece que aquela brincadeira da gente irritou ele.
Até hoje me chamam de doido quando conto, e você? Acredita em mim?

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⏰ Última atualização: Aug 02 ⏰

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