A ideia de liberdade ainda viera com mais abundâncias coloridas que o normal, derramando uma ótica fraudulenta que escalava boa parte dos sonhos do menino. Todos eles, iguais, se atrelaram a um limite sem bons adjetivos. Quando a hora avançava, o "Adeus" era sacrificado a um nível capaz de achar a serenidade sobre um toque de mãos.
E então ele acordava.— Eren…
Seria a voz de um anjo caído que veio salvá-lo deste curral? Certamente não; o diabo não usufruiria do calor daquele cachecol tão familiar quanto a amanhã em pecados e não também passaria o tempo tentando acordar aquele que tirava vantagem para se sentar, acolhendo o sono nítido em todos os pontos das pálpebras.
O nome repete-se, desta vez com adição de palavras e não mais uma pincelada ternurenta:
— Eren, acorde. Vamos pra casa, já está anoitecendo.
— Mikasa, seu cabelo… Ele está maior, não está?
Ela pareceu, por um momento, esquecer que possui a capacidade de fala enquanto seu coração se revirava contra a caixa torácica com a pergunta, reunindo toda a boa postura e se afastando. As mãos de marfim não abandonam o transporte de lenha em suas costas e, em um dos pulsos, um segredo á faixas.
— O sono estava tão profundo para você falar um absurdo assim ao acordar?
Eren era a arte que nem mesmo o universo conseguia interpretar. Mesmo ao se levantar, mesmo seu corpo ganhando a forma ereta e, à primeira vista, julgando ser indefeso, Mikasa podia descrevê-lo como uma entidade velha, curiosa, sempre olhando pelo buraco da fechadura para achar algo.
E̶l̶a̶ ̶n̶u̶n̶c̶a̶ ̶o̶ ̶e̶n̶t̶e̶n̶d̶e̶u̶.̶ ̶E̶ ̶t̶a̶l̶v̶e̶z̶ ̶j̶a̶m̶a̶i̶s̶ ̶o̶ ̶e̶n̶t̶e̶n̶d̶e̶r̶i̶a̶.̶— Bem, é como se eu estivesse em um sonho incrível e bem longo, sabe… mas eu não consigo me lembrar do que se…
Sob o manto escuro de fios, assim como suas íris, compunham sua figura materializada. Apreendidas, rolaram com os globos oculares até ele por alguns milissegundos, até os pensamentos serem tomados por névoas de mil tons de cinza. Uma noite jamais teria tantas névoas; entretanto, Mikasa, por outro lado, tinha de todas as categorias, todas as texturas, desde as densas até as molhadas, cheiros e cores das quais deslizaram pelas veias, sangue, amontoadas no pulmão, ossos e todo tecido de átomos, órgãos desconhecidos e respirações, uma vez – pela primeira vez – avaliando lágrimas tropeçarem acima das bochechas nunca rosadas.
— Eren, por que você está chorando?
A árvore que tudo via cuspiu um milhão de folhas rodopiantes sobre aquela desculpa esfarrapada de mundo, onde a morte seria uma libertação, e uma sequência de formas de como viver separava Eren e Mikasa a uma distância sufocante entre a paz e a destruição.
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Perdão por qualquer erro e a todos que leram até aqui, muito obrigado!♡