A Assassina E O Baile

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Helena esperava no meio da multidão que se acotovelava na entrada do Palácio de Osso, um dos vários lares do adorado e venerado imperador de Gregoriana, Stephanos Mileto.

Naquela noite, a capital estava em êxtase!

Algumas semanas atrás, a notícia de que o imperador realizaria mais uma de suas luxuosas festas, dessa vez para saudar a chegada da primavera e pedir à deusa por colheitas prósperas para o povo, espalhou-se pela capital do império como alguma praga contagiosa se espalha pelos tripulantes de um navio.

Obviamente, apenas a aristocracia estava convidada para o banquete. O imperador Stephanos não era tão generoso ao ponto de abrir seu magnífico palácio para a ralé, querida.

No entanto, os comerciantes sabiam que a a água salgada e valiosa daquela maré de festas aristocráticas respingaria neles também. Afinal, os célebres convidados precisariam de jóias novas para a ocasião. Quero dizer, não precisariam de verdade. Mas seu consumismo exacerbado os convenceria do contrário.

Precisariam de vestidos novos, túnicas novas, sapatos e qualquer outro tipo de adorno. E os vendedores estavam prontos para lhes fornecer tudo aquilo e garantir seu próprio lucro.

Sendo assim, naquela noite em que a oferenda enfim aconteceria, a cidade faiscava feito fogueiras de solstício de inverno.

Artesãos corriam para todos os cantos para entregar as últimas encomendas de seus clientes;

Mascates amontoavam-se na rua do Palácio oferecendo chapéus, casacos e luvas para os convidados que aguardavam no frio do início de inverno pela abertura dos portões do Palácio de Osso;

E haviam até mesmo barraquinhas montadas nas calçadas com gente vendendo copos de vinho quente e pratos de torta aos curiosos que, mesmo não sendo considerados importantes o suficiente por Stephanos para estarem em seu banquete, estavam ali para ver ao menos de longe os fogos de artifício, escutar à distância o som doce da flauta e da lira e sentir o cheiro tentador do cordeiro assado, dos temperos refinados e do pão quentinho que seria acompanhado pela manteiga mais saborosa do império e que seria servido no salão de festas, bem afastado dali, somente aos ricos.

Helena não estava inclusa em nenhuma dessas categorias mencionadas, querida.

A garota não era comerciante. Não levava jeito para vendas. Odiava lidar com pessoas e, certamente, acabaria brigando com todos os seus clientes.

Também não era artesã. Suas mãos não tinham a delicadeza para tal, ao passo que sua mente não tinha a paciência.

Não era curiosa... Quero dizer, até era, mas não do tipo que ficaria passando frio na calçada apenas para tentar ouvir de longe a festa que aconteceria do lado de dentro das grandes paredes do Palácio em poucos minutos.

E, finalmente: também não era da nobreza.

Oh, não, benzinho. Definitivamente não havia uma única partícula de sangue aristocrático nas veias da menina.

Ela era, basicamente, uma sombra bem vestida. Alguém que tinha conseguido invadir a mansão de um dos convidados poucas horas atrás, roubar seu convite, prender os empregados do homem no porão e encher o chá da tarde dele e da esposa com uma dose especialmente forte de sedativo para que ambos estivessem nas profundezas do sono enquanto ela usava um dos refinados vestidos da mulher e o convite da família do homem para entrar na festa se passando por alguma sobrinha distante dele, encontrava o leal conselheiro do imperador em algum lugar do Palácio, e matava-o rapidamente.

Bom, pelo menos, esse era o plano. E, até agora, tinha corrido perfeitamente. Ela já estava lá, aos pés dos portões do Palácio de Osso, vestindo "seu" gracioso vestido de babados e lantejoulas, esperando chegar sua vez na fila para mostrar "seu" convite aos guardas e ter sua entrada permitida.

Faltava pouco. Muito pouco.

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Notas da autora:
"Stephanos" significa "coroa" e/ou "coroado" em grego.

Ah, e "mascate" é um termo beeeeem antigo p falar "vendedor ambulante". Mas não é mais usado, e é melhor q continue assim, pois hj se sabe q é ofensivo. Só usei pra remeter à época q a história se passa.

**Uma fada morre cada vez q Você passa por um capítulo dessa história sem deixar seu voto e comentário. Por favor, não mate as fadas.

O Guia de Helena Glinskaia Para Jovens AssassinasOnde histórias criam vida. Descubra agora