Cap 01.

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Maya 🌾

Minha história não começa com "Era uma vez", muito menos com "Em um reino distante", longe disso.

Meu nome é Maya e atualmente tenho 18 anos, mas ninguém me vê e diz que tenho essa idade mesmo. As vezes é vergonhoso as velhas tentando acertar minha idade e passando longe.

Eu moro no Vidigal com a minha mãe desde que eu tinha 5 anos. Saímos da pista por conta do meu pai, que conseguiu um emprego no morro de vapor auxiliar.

Ele ficou no cargo por 2 anos, até virar vapor mesmo. Foram 7 anos de trabalho, de preocupação, até que infelizmente aconteceu o que acontece com todos os envolvidos.

Sim, ele morreu.

Uma trocação de tiros que matou mais de 40 homens no Vidigal, incluindo o gerente da época. Ficou marcado na história.

Eu sinto uma falta imensa dele. Porquê apesar de tudo, ele era um pai do caralho. Nunca me deixou faltar nada.

As coisas começaram a desandar depois daí. Sempre fui extremamente fechada, e com a morte do meu pai, me fechei mais ainda.

Minha mãe então? Nem se fala. Ela passou praticamente 6 meses sem sair de casa, sem querer comer, sem querer fazer nada.

Não conversava, não queria ouvir. E foi assim que nós nos afastamos mais e mais.

Eu ia pra escola, aguentava os infernos das aulas, chegava em casa e ainda tinha que aturar ela. Sempre foi extremamente difícil.

Mas sinceramente? Eu preferia que tivesse continuado assim.

Minha mãe á algumas semanas atrás arrumou um namorado, que não incrivelmente, também trabalha na boca.

Não sei qual é o cargo dele, nem idade, nem nada, só o nome e pronto.

Mike.

Esse nome me dá arrepio sempre que ouço, e eu nem consigo explicar o porquê.

Ele nunca me machucou, nunca tocou em mim, mas ele me dá uma energia negativa enorme. Sinto olhares estranhos e sei lá, não gosto dele.

Minha mãe praticamente virou cadela dele, faz tudo que ele quer, é cega de amor. Se isso for amor né.

Ou talvez seja apenas carência.

Só sei que quero começar a faculdade logo, arrumar um emprego no contra turno e sair de casa, viver em paz.

Alexandra: Ouviu, Maya? - Chamou minha atenção e eu voltei á realidade.

Estávamos na mesa, jantando.

Maya: O que?

Alexandra: Amanhã eu vou na pista resolver algumas coisas, quero que você faça comida e arrume a casa. Mike vem jantar aqui amanhã a noite. - Falou enquanto olhava para o celular.

Maya: Novidade, como se eu já não fizesse isso. - Revirei os olhos.

Alexandra: Olha o respeito, menina. - Falou levando o prato até a pia. - Fique em casa amanhã e jante conosco.

Maya: Tem nem perigo, vou caçar algo pra fazer. Não gosto desse homem e você sabe.

Alexandra: Por pura birra, ele é ótimo. Você que não supera a morte do seu pai. - Falou seco e eu senti o coração acelerar.

Naquele momento, eu não sabia se sentia raiva ou tristeza.

Maya: Ou talvez você que esteja tão carente á ponto de aceitar qualquer um como namorado mesmo, tentando substituir o papel do meu pai. - Falei me levantando.

Ouvi ela reclamar e gritar meu nome, mas eu só subi pro quarto e tranquei a porta.

É imoral uma coisa dessas, né? Totalmente sem noção falar isso pra própria filha.

Deitei na cama e só consegui pensar naquelas malditas palavras dela, e me lembrando da falta que ele me faz.

Porra, me peguei chorando de novo.

Minha Salvação. | Filipe RetOnde histórias criam vida. Descubra agora