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A noite estava apenas começando, e eu admirava o brilhar da lua na vastidão do céu noturno. Ela parecia estar radiante e contente, como se as portas estivessem abertas para um novo futuro, o qual foi minimamente planejado e pensado.

As pessoas não observavam muito a lua por ali. Estavam sempre apressadas ou embriagadas, por vezes chapadas. Mas eu... Eu a admirava todas as noites da janela de meu quarto e sonhava pelo dia que finalmente poderia ir embora dali.

Fazia alguns meses que morava no Maravilhoso Hotel e recebia uma quantidade significativa de clientes na maioria das noites. Eles diziam que sou graciosa e elegante, por vezes selvagem e audaciosa. Alguns ainda me definiam como doce e gentil, isso quando não diziam inesquecível. Este último era o único concordado entre todos, quase como um tratado.

Eu gostava de tratá-los bem e atendê-los de um modo especial, tanto quanto me era possível. Usava novas lingeries e vestidos todos os dias, a cada novo cliente. Me alegrava em vê-los saindo de meu quarto com brilho nos olhos, como quem se desejava viver ou mesmo se aventurar nas doces águas de um rio.

Para aquela noite, não seria diferente. Estava vestindo um admirável e longo robe rosa perolado e um saltinho rosa bebê, com um delicado pompom nas pontinhas de cada pé. Diante do espelho, havia terminado de fazer o gatinho em meu olho direito e, agora, me concentrava em qual joia usar.

Minha destra passeava gentilmente pelo porta-joias e meus olhos fitavam algumas com atenção, antes de os focar em uma em específico. Pegando o colar de pérolas em minhas mãos, deslizei suavemente pelo quarto em pequenos rodopios, quase como uma daquelas princesas das animações antigas.

Colocando-o em meu pescoço, retornei para de frente o espelho, a fim de finalmente me ver novamente com o colar, e sorri quando percebi que nada havia mudado. Ainda parecia a pequena debutante de quinze anos de Santana dos Ferros, a qual adorava seus amigos mais do que tudo e não possuía palavras para os agradecer pelo presente mais querido de toda a sua vida.

Os três mosqueteiros, em especial Roberto, haviam trabalhado duro por meses a fim de finalmente poderem comprar este colar, e eu sentia que nunca poderia os agradecer o suficiente.

Sentindo-me nostálgica, terminei de me arrumar com um sorriso em meu rosto e logo todo o quarto também já estava organizado, apenas aguardando a visita do primeiro cliente. A grande cama de casal parecia confortável com lençóis limpos e cheirosos, assim como a minha pequena adega se mantinha cheia e acessível, como se estivesse se oferecendo a cada nova visita.

O relógio já marcava oito horas, e eu sabia que a qualquer hora chegaria meu primeiro cliente da noite. Estava levemente inquieta, um tanto animada, ainda pisando nas nuvens pelas queridas lembranças de minha infância. O dia definitivamente haveria de ser magnífico. Nada poderia mudar isso!

Enquanto observava o luar sentada na poltrona de que mais gostava, Jabuti, o querido dono do hotel, batia calmamente em minha porta e adentrava após a minha permissão. Meu primeiro cliente da noite havia chegado.

Inspirada e disposta a fazer o meu melhor, caminhei com passos leves até o biombo de meu quarto e me virei de costas. Aguardei o som da porta se abrindo e de passos adentrando o meu quarto, antes de ouvi-la se fechar novamente.

Com um sorriso sutil em meus lábios, saí de trás do biombo ainda sem olhar para o meu cliente e deixei que meu robe deslizasse sutilmente em meus braços. Ao mesmo tempo, meu corpo se virava lentamente em direção a porta, e o robe caiu no chão no momento em que vi o rapaz em minha frente.

— Boa noite.

Ele disse com seu rotineiro modo educado de se portar e um sorriso nascia em sua face, decorando-a sem pestejar. No entanto, ao contrário dele, minha feição não estava serena e nem mesmo divertida. Estava surpresa, até mesmo assustada, se me permite dizer. Nunca poderia imaginar que estaria com roupas íntimas diante do meu amigo de infância.

« CLIENTE » Roberto DrummondOnde histórias criam vida. Descubra agora