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— Alô, Bela Bê? 

Roberto disse com um tom de voz determinado, como se tentasse não se abalar. Eu imaginava que era algo difícil para ele e por isso compreendia sua relutância anterior.

Em silêncio, eu permaneci ao seu lado, apenas observando-o. Estava disposta a não me abalar também, mas a ansiedade me preenchia por inteira. Eu tinha medo da reação de Bela Bê, mas mais do que isso, tinha medo que Roberto fraquejasse.

— Nós precisamos conversar. Sim, agora. 

Meu coração estava em minhas mãos, e eu as apertava em frente ao meu queixo, quase encostando-o. Eu não queria, mas não conseguia evitar de observar Roberto fixamente. Estava atenta aos mínimos detalhes de seu rosto e de sua voz. 

— Não, Beatriz. Não podemos nos encontrar… Escute, o que eu tenho para dizer é sério e precisa ser agora. 

Eu estava mordendo meu lábio inferior em uma tentativa de me acalmar, assim como estava tentando regularizar a minha respiração. Ela estava alta, quase ofegante. A dele se encontrava controlada, disfarçadamente controlada.

Quando Roberto levou seu olhar até mim, senti meu coração dar um sobressalto. Eu não sabia o que Bela Bê estava dizendo, e ele não deixava nada transparecer em sua feição. 

— Escute, por favor… 

A voz dele soou ligeiramente suplicante, e meu cenho se franziu delicadamente. Minhas mãos desceram até o meu colar de pérolas e as pontas de meus dedos o tocaram esperançosamente. Havia um silêncio em meu quarto. Apenas nossas respirações eram ouvidas, ao menos, por mim. 

— Beatriz, eu estou terminando com você.

Sem que eu percebesse, meus pés me levaram na direção de Roberto e meus dedos soltaram o meu colar. Eu queria tocá-lo. Queria pousar minhas mãos em seus ombros e virá-lo para mim, observar o seu rosto por inteiro. Mas não o fiz. Não tinha coragem o suficiente para interromper seu momento tão delicado.

Mais um silêncio pairou sobre o ar, e meu coração bateu desesperadamente dentro do meu peito. Meus punhos se fecharam e também pousaram no ar, incertos do que deveriam fazer. Eu me via dividida entre abraçá-lo com todas as minhas forças ou deixá-lo lidar com isso sozinho, como deveria ser. Eu era apenas uma espectadora de seu drama.

— Claro que não. Eu não estou fazendo isso para a provocar, Beatriz, tampouco estou brincando. Apenas me escute!

O olhar dele finalmente pairou sobre mim. Ele me observava com olhos doces e cintilantes, quase me fazendo esquecer de toda a tensão do momento. De alguma forma, eles me diziam que tudo iria ficar bem, e eu acreditava.

— Pode falar dele à vontade! Não me importa se você vai reatar o casório com esse filho de fazendeiro, Beatriz. Já não me importa nada, nada referente a você.

Meus lábios se afastaram em surpresa e meus olhos observaram todo o rosto de Roberto, atentos a clara seriedade em suas palavras. Ele estava sendo honesto, completamente honesto, talvez como nunca antes.

De repente, ele soltou um riso irônico e abaixou a cabeça. Não demorou para ele balançá-la para os lados e depois a levantar, passando seu olhar por todo o meu quarto. Seu olhar não estava fixo em nada, como se o que via não lhe fosse importante. Não de um modo desprezante, mas apenas como se sua atenção e indignação não fosse causada por nada que estivesse ali.

— Papagaio! Nós dois sabíamos que essa relação não duraria, Beatriz! Estávamos apenas empurrando com a barriga e enrolando o fim, você sabe disso. Nem conversávamos mais sobre casamento! Não é o que queríamos, não é o que eu quero…

« CLIENTE » Roberto DrummondOnde histórias criam vida. Descubra agora