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A espaçonave parecia um velho e comprido submarino. Ninguém sabia qual a sua cor original, mas hoje ele reluzia em um "magnífico" marrom-ferrugem, a textura de ferro-velho ocupando cada centímetro de sua superfície.
Apesar disso, a última impressão que passava era a de uma lata-velha. Não apenas as protuberâncias aerodinâmicas próximas à cauda e o formato dos propulsores conferiam um ar veloz à sua silhueta como, ocupando todo seu bico como se atropelado por trás, via-se o símbolo que inspirava medo através da galáxia: uma Jolly Roger pintada em branco, a caveira sorrindo alegre sobre o "X" de ossos.
Causava um efeito, isso era fato.
Pena que ele tremia diante da nave estacionada ao seu lado.
Em comparação com o imenso cruzador de batalha tcharin, a Pirata Espacial Hilda parecia tudo menos perigosa. O visual quadrado e robusto, os vários canhões blaster ao longo da sua superfície, as saídas para mísseis... tudo propagandeava investimento militar de última geração.
Sorte da pirata que o cruzador não estava ali com intenções hostis.
Muitíssimo pelo contrário.
A alguns quilômetros abaixo das naves, um asteroide esferoidal brilhava sob a luz do distante sol, tendo sido trazido para a órbita geoestacionária do planeta Tchar para servir de depósito estratégico na guerra contra Zarin.
Armazéns militares pressurizados formavam um padrão regular em sua superfície rochosa, sendo o maior deles o palco para a negociação prestes a acontecer.
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— Eu queria saber como esse povo nomeia os planetas — comentaram as botas de Hilda, o eco de seus passos sobre o piso metálico evidenciando o tamanho do armazém. Ao redor, o zumbido baixo dos reforçadores gravitacionais era onipresente. — "Tchar", "Zarin", "Yurus"... Parece que o povo bate a cara no teclado e o que sai é o nome da criança!
O par de botas lustradas caminhando ao seu lado fungou uma risada:
— Verdade. Mas no caso de Zarin, é um nome alienígena, então talvez faça sentido para os zarinianos.
— Ah, mas tem que fazer! — Na voz de Hilda saiu um sorriso sacana. — Eles não podem bater a cara no teclado. Eles não têm nem cabeça!
As botas lustradas riram.
Hilda vestia-se a caráter, como todo bom pirata que se preze deveria fazer. Usava um quepe preto pintado com a caveira e os dois ossos, porém de um modo displicentemente estiloso. O símbolo começava na aba plástica e terminava na frente do quepe, sua posição cuidadosamente inclinada. Gotas escorrendo finalizavam seu ar "rebelde", elas e a grossa tinta branca usada na pintura de naves reforçando o estilo "faça você mesmo".
Sobre os ombros vinha uma enorme jaqueta preta, também como parte do marketing. Espinhos dourados espetavam o ar ao redor das mangas, da gola erguida e sobre os ombros, estes cobertos por enormes e caricatas dragonas. E, às costas, pintado sobre seu tecido esvoaçante, estava... adivinha.
Sim, outra Jolly Roger.
Enorme e, é claro, estilosamente inclinada e escorrendo tinta.
Debaixo desse modelito, vinha a própria.
A Capitã Hilda.
Visivelmente uma androide quente (consciente), aparentava ter não mais de 18 anos, embora sua idade real pudesse ser qualquer uma. De seus olhos de íris vermelhas, juntas na pele branca desciam como rastros de lágrimas até o queixo. Suas fartas madeixas de mel estavam presas em um coque, deixando a gola ridiculamente alta (até a metade de suas orelhas) envolver sua nuca.
