Despertar

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  Uma pedra que é lançada em um lago cria ondas que se espalham, tais como o destino que cria ramificações para cada escolha feita. É com uma pedra que começaremos nossa história de hoje, mas antes que você mergulhe fundo, permita-me uma breve introdução: não sou um narrador comum. Prefiro não me apresentar formalmente e adotar um tom mais descontraído, como um velho amigo contando uma história.

  Hoje contarei a história de uma garota comum, como qualquer outra. Uma jovem com lindos cabelos ruivos, sendo puxada por algum bicho qualquer. Enquanto arrastada, sua cabeça ia de encontro com uma das várias pequenas pedras naquele solo frio e duro, despertando-a com uma dor repentina em sua testa, região onde a pedra teve seu encontro. A primeira sensação que sentia era a de dor, logo em seguida um frio inexplicável.
  Seu corpo inteiro estava coberto por água, como se acabasse de sair de um longo banho. Sentindo pequenas coisas tocando seus pés, notaria que estava sendo arrastada por algo ou por alguém, mas sem conseguir dizer do que se tratava. Assustada, ela se debatia com braços e pernas, fazendo seja lá o que estivesse a puxando se assustar e correr. A garota não conseguia ver o que estava lhe tocando, mesmo que estivesse claro o suficiente pra ver. Ter acabado de despertar fez sua visão ficar turva, embaçada e confusa, como um míope sem óculos. Até porquê realmente era míope e estava sem seus óculos. Suas mãos deslizavam pelo gélido chão úmido em busca de sua visão, até finalmente encontrar seus óculos redondos, cuja armação preta dava um belo contraste com seus cabelos "fogo" e seus olhos castanhos escuro. Ao colocá-los em seu devido lugar, finalmente a cor daquele mundo voltara ao normal, agora enxergando mais uma vez. 

  Em uma tentativa de encontrar algo que lhe desse uma luz naquele momento, ela olharia para cima, notando um grande buraco no teto cujo estava coberto de uma grossa e estranha camada de gelo que gotejava por todo o ambiente e próximo de onde estava, talvez esta seja a causa de estar encharcada agora? Pelo sim e pelo não, não dava pra continuar com aquelas roupas do jeito que estavam. A garota olhou ao redor, notando coisas bem peculiares a sua volta. No local haviam diversas prateleiras como se fosse um mercado, alguns em pé, intocadas, algumas outras poucas caídas no chão ou inclinadas, mantidas firmes por uma camada glacial. Nas prateleiras haviam diversos tipos de alimentos e outros mantimentos diversos, incluindo, convenientemente, uma grande caixa com diversas peças de roupas próxima ao chão. Tão confusa quanto quando acordou, a pequena moçoila sentia a água em seu corpo a incomodando cada vez mais, principalmente por causa do frio que todo aquele ambiente causava, parecia que acabou de enfrentar uma chuva forte que a derrubou. Sua testa doía e ela não se lembrava onde estava, nem como foi parar ali.
  Sem pensar muito foi imediatamente até a caixa, procurando peças que fossem de seu tamanho, mas sem sucesso. Aquelas roupas eram grandes demais, tendo principalmente uniformes militares velhos da guerra passada que foram largados por ai. Por sorte, na prateleira de mantimentos havia uma agulha com alguns tubos de linha e sua querida mãe já havia lhe ensinado a costurar a tempos atrás, então ela pegou-a junto a tesoura velha que estava ao lado, enferrujada, mas ainda funcional e partiu para preparar algo que pudesse ser usado. Remendou algumas peças, cortou outras, costurou e deu seu jeito para ter alguma coisa que pudesse lhe ajudar ali, mas sem baixar a guarda por não saber o que era aquela coisa que a estava arrastando quando acordou. Convenientemente, enquanto balançava a agulha de um lado para o outro, ouviu um pouco mais ao longe daquela sala um barulho de algo se movendo, caindo no chão e quando olhou na direção do ocorrido, viu uma pequena lata de feijão rolando pela sala, sendo levada por aquela mesma criaturinha de antes carregando o suprimento. Arregalou os olhos em surpresa, nunca havia visto nada como aquilo e nem imaginou que fosse possível. Seu corpo congelou ao ver um pequeno cogumelo com olhos brilhantes e membros finos se movendo. Do tamanho de um cachorro pequeno, o fungo tinha uma cabeça que mais parecia um chapéu do que uma face, e seu corpo, longo e fino, lembrava um brócolis. Ironicamente, seus olhos e boca estavam localizados no tronco, enquanto a cabeça, com formato de chapéu, completava seu aspecto peculiar. Sem entender o que estava acontecendo ou o que era aquela coisa a sua frente, a garota em pânico jogou as roupas que tinha em mãos junto com a caixa inteira em direção ao cogumelo, deixando ambos assustados. Enquanto o fungo corria para um lado, assustado pela criatura gigante que de repente despertara e o atacou selvagemente, a garota corria para o outro lado gritando de medo, sentindo a adrenalina do momento correndo por suas veias enquanto seguia indo em direção a escadaria que subia, escadaria esta que não parecia ter fim. Se atrapalhava nos degraus, errando alguns, pulando outros, mas nunca parando até chegar ao topo onde duas portas a prendiam sob sua cabeça. Pelo designe do local, parecia estar em um porão, mas aquelas portas de metal deixavam a dúvida em sua mente. Talvez tenha sido sequestrada e drogada por algum maluco psicótico, talvez seus "amigos" estivessem pregando uma peça nela (de novo), ou quem sabe já havia morrido e esta era sua punição no pós vida, ficar ali sozinha, presa com aquela... Coisa.
  De qualquer forma, a garota estava sem esperanças, não havia como sair e com certeza seria devorada por aquela coisinha... Ou não, ela apenas tentou empurrar a porta com uma das mãos e notou que ela estava aberta, pois foi possível ver um pequeno feixe de luz entre elas. Quase desistiu de sua própria vida por conta da sua falta de atenção e racionalidade em momento de desespero. Usando de sua força quase nula para empurrar as portas com ambas as mãos e usando até mesmo o corpo inteiro, fazia seus pés de apoio para conseguir levantar aquelas grossas camadas de empecilho e finalmente conseguir sair.

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⏰ Última atualização: Aug 10 ⏰

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