O Eco das Montanhas

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O vento frio das Montanhas Apalaches soprava pelas árvores altas e densas, suas folhas farfalhando suavemente como se sussurrassem segredos antigos.

Era o início de um novo semestre na Escola Woodhaven, um internato de prestígio localizado em uma clareira isolada, onde o ar sempre parecia carregado de mistério.
A escola, com suas torres de pedra cobertas por heras e janelas arqueadas, estava impregnada de história. Fundada há séculos, Woodhaven era conhecida por sua disciplina rigorosa e seu corpo docente distinto, entre eles o professor Seth Blackwood, um homem cuja presença parecia tão antiga quanto as próprias montanhas.

Seth era uma figura alta e imponente, com cabelos negros como a noite e olhos de um azul profundo que pareciam enxergar além da pele, direto para a alma. Seus modos eram elegantes e precisos, e os alunos o respeitavam tanto quanto o temiam.

Era o primeiro dia de aula e os alunos, antigos e novos, se reuniam na grande sala do refeitório para a tradicional cerimônia de boas-vindas. Seth observava tudo com um olhar atento, seus olhos se movendo lentamente de rosto em rosto, como se estivesse buscando algo – ou alguém.

No entanto, sua expressão permaneceu impassível, um reflexo de seu controle inabalável.Foi então que a viu.

No meio da multidão, entre sorrisos ansiosos e cochichos animados, estava uma nova aluna. Seu nome era Helena Marlowe, uma jovem recém-transferida de uma cidade distante. Havia algo em sua presença que parecia diferente, algo que atraía o olhar de Seth de forma sutil, quase imperceptível. Ela tinha longos cabelos castanhos que caíam em ondas suaves sobre os ombros e olhos verdes que pareciam refletir a luz do salão de maneira peculiar.

"Helena Marlowe, certo?" A voz suave e controlada de Seth cortou o burburinho ao se aproximar dela após a cerimônia, quando os alunos começavam a se dispersar para suas respectivas salas.

Helena ergueu os olhos, surpresa ao encontrar o professor que já tinha ouvido falar, mas ainda não conhecia pessoalmente."Sim, professor. É um prazer conhecê-lo."

Sua voz era firme, mas havia uma leve hesitação, como se ela não estivesse certa de como deveria se portar diante dele.Seth a observou por um momento que pareceu mais longo do que o necessário, como se estivesse tentando captar algo além das palavras.

"Espero que você se adapte bem aqui em Woodhaven. A vida nas montanhas pode ser um tanto... diferente do que está acostumada."

"Eu estou ansiosa para explorar mais. Gosto de lugares tranquilos," respondeu ela, com um leve sorriso. "E a escola tem uma atmosfera tão... única."

"Sim, Woodhaven certamente tem suas peculiaridades." Seth manteve seu olhar fixo nos olhos dela por mais um instante antes de desviar, olhando para o corredor à sua volta. "Se precisar de qualquer coisa, não hesite em me procurar. Estou sempre por aqui."

Helena agradeceu e seguiu seu caminho, enquanto Seth permanecia parado, observando-a desaparecer ao virar o corredor. Seus passos eram silenciosos, quase como se ela deslizasse pelo chão de madeira polida. Algo nela parecia distinto dos outros alunos – uma presença que não se misturava com a dos demais.

Os dias passaram e Seth, em seu papel de professor, observava Helena com uma atenção que ele disfarçava habilmente. Ele a via nas aulas, sempre atenta, suas anotações precisas e sua postura impecável. Ela era uma aluna exemplar, mas havia uma melancolia em seus olhos que Seth notava quando ela pensava que ninguém estava olhando.

Em uma tarde, após o término de uma aula, Helena se aproximou de Seth. O crepúsculo já havia caído, e as luzes da sala criavam sombras alongadas nas paredes de pedra."Professor Blackwood, posso lhe fazer uma pergunta?" Ela hesitou na porta, como se não tivesse certeza se deveria prosseguir.

Seth fez um gesto para que ela entrasse. "Claro, Helena. O que a intriga?"
Ela entrou na sala, mas permaneceu perto da porta, como se não quisesse se aventurar muito além da segurança da entrada.

"Woodhaven... sempre foi assim? Quero dizer, sempre teve essa... sensação? É como se as paredes fossem tão antigas, como se guardassem algo."Seth inclinou a cabeça ligeiramente, surpreso com a percepção dela.

"Woodhaven é antiga, sim. E certamente carrega muitas histórias. Mas o que exatamente está sentindo, Helena?"
Ela baixou os olhos, parecendo ponderar suas palavras.

"Não sei ao certo. É como se este lugar tivesse vida própria, uma vida que é difícil de explicar. Algo profundo, quase como um eco do passado."Seth a observou em silêncio, sentindo a sinceridade em suas palavras. "A história tem uma maneira peculiar de deixar sua marca em lugares como este. Talvez seja isso que esteja percebendo."

Helena assentiu, ainda parecendo incerta. "Talvez... Eu só sinto que há algo mais, algo que não consigo ver."

"Nem tudo o que é importante pode ser visto, Helena," Seth respondeu com uma suavidade que fez com que ela erguesse os olhos para ele. "Às vezes, os maiores mistérios estão nas coisas que sentimos, mas que não conseguimos explicar."

Ela o olhou por um momento, como se estivesse buscando algo em suas palavras. Então, finalmente, sorriu. "Obrigada, professor. Eu acho que precisava ouvir isso."

Seth apenas inclinou a cabeça em um gesto de despedida, e Helena saiu da sala, seus passos ecoando suavemente pelo corredor vazio. Ele ficou parado ali, por um longo tempo, perdido em pensamentos que ninguém mais poderia compreender.

Os dias que se seguiram foram marcados por encontros sutis entre os dois. Helena parecia encontrar maneiras de buscar a companhia de Seth, mesmo que fosse por uma breve troca de palavras ou por uma pergunta inocente sobre suas aulas. Seth, por sua vez, mantinha uma fachada de normalidade, embora sua mente estivesse sempre atenta a cada detalhe, cada movimento que ela fazia.

Certa noite, quando a lua cheia pairava alta no céu, Seth caminhava pelos terrenos da escola, envolto no manto de escuridão. Ele sempre preferiu a quietude das noites, onde podia refletir sem as distrações do dia. Foi então que, em meio às sombras das árvores, avistou Helena.

Ela estava sentada em um banco de pedra, olhando para a lua, perdida em seus próprios pensamentos. Ele não tinha certeza de quanto tempo a observou antes de finalmente se aproximar."Helena," ele chamou suavemente, e ela ergueu a cabeça, surpresa ao vê-lo ali.

"Professor Blackwood," ela respondeu, um pouco desconcertada. "Eu... gosto de caminhar à noite, ajuda a clarear a mente."

"Entendo perfeitamente," disse ele, sentando-se ao lado dela. "A noite tem uma maneira de trazer à tona pensamentos que o dia esconde."
Eles ficaram em silêncio por um tempo, a lua iluminando suas faces, lançando sombras alongadas no chão. Finalmente, Helena quebrou o silêncio.

"Às vezes, sinto que este lugar está me puxando, professor. Como se eu pertencesse a ele de alguma forma que não consigo entender."Seth a olhou, sua expressão permanecendo serena, mas algo dentro dele se agitou com as palavras dela.
"Talvez, de alguma forma, você pertença a este lugar, Helena. E talvez este lugar pertença a você."

Ela franziu a testa, confusa. "O que quer dizer com isso?" Seth hesitou por um momento, antes de responder com uma voz que parecia carregar o peso de eras. "Às vezes, o destino nos leva a lugares que são tão parte de nós quanto nós somos parte deles. Talvez Woodhaven seja um desses lugares para você."

Helena o olhou nos olhos, e por um breve instante, Seth viu algo neles – uma faísca, uma compreensão momentânea que logo se apagou. Ela sorriu levemente, embora ainda parecesse confusa. "Talvez você esteja certo. Eu só... gostaria de entender mais."

"Às vezes, o entendimento vem com o tempo," Seth disse, levantando-se. " E o tempo, Helena, é algo que temos em abundância."

Ele ofereceu a mão para ajudá-la a se levantar, e ela a aceitou, embora houvesse um leve tremor em seus dedos. Juntos, caminharam de volta para a escola, os passos de Seth silenciosos como a noite ao seu redor.Enquanto se aproximavam da entrada, Helena virou-se para ele. "Boa noite, professor. E... obrigada, mais uma vez."

Seth apenas sorriu, um sorriso que não chegou a seus olhos. "Boa noite, Helena. Durma bem." Ela entrou na escola, e Seth permaneceu do lado de fora, observando até que a última luz se apagasse. Apenas então ele se virou e desapareceu nas sombras, tão silencioso e invisível quanto o vento que soprava pelas árvores.

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