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Havia se passado um mês desde o incidente na formatura.

Soraya evitava voltar para casa por causa de tudo o que tinha ouvido. Ela sabia que precisava conversar com sua mãe, mas não conseguia perdoá-la pelo tapa que recebeu, nem se desculpar por ter revidado. Nesse meio tempo, Simone mantinha contato diário, insistindo para que Soraya, ao menos, voltasse para buscar o resto de suas coisas e se despedisse de Maria de maneira adequada.

Enquanto Soraya inventava desculpas para Simone, alegando estar ocupada demais, a mais velha aceitava, ciente de que a irmã estava planejando muitas coisas importantes para seu futuro. Além disso, via que Soraya estava finalmente se dedicando ao que amava, e isso a acalmava.

Depois de se mudar para o apartamento, Soraya começou a pintar mais quadros, muitos dos quais traziam traços de Simone ou de ambas juntas. Ela gostava de pintar Simone nua, embora essa não fosse uma tarefa fácil, pois Simone raramente aceitava posar, e quando o fazia, era por pura chantagem.

Durante aquele mês, Soraya não deu mais aulas. Tirou umas merecidas férias e refletiu sobre o que fazer dali em diante: se continuava com o trabalho ou se, finalmente, assumiria algum negócio da família. Enquanto isso, em segredo, Simone fazia contatos com amigos influentes, pensando em organizar uma exposição para Soraya. A cada conversa com a irmã, sentia-se mais convencida de que a exposição seria um sucesso.

Antes de dar o primeiro passo, que seria convidar alguns amigos para ver os quadros pessoalmente, Simone sabia que precisava resolver o assunto pendente com os pais de Soraya. Embora não pensasse em casamento ou em formar uma família, nenhuma das duas queria se afastar da rotina que haviam criado juntas, nem dos hábitos que ainda cultivavam.

— Chega de desculpas. Vista uma roupa e vamos pegar o resto das suas coisas. — Simone falou, segurando levemente o braço de Soraya, já sem paciência.

— Não me trate como se eu fosse sua filha. Não quero ir, e posso muito bem pedir para Maria trazer minhas coisas aqui. — respondeu Soraya, em tom desafiador.

— Eu te dou dois segundos. Se não estiver pronta, você sai do jeito que está. E se precisar, eu te levo à força. Você precisa conversar com eles. — Simone apertou ainda mais o braço de Soraya.

— Meu pai é mais fácil de lidar, mas minha mãe... aquela mulher é muito teimosa. — Soraya resmungou, soltando-se do aperto firme de Simone.

— Vista-se. — disse Simone pela última vez, saindo do quarto.

Simone desceu as escadas visivelmente irritada, pegou as chaves do carro e a carteira, colocando-as no bolso da calça cargo preta que usava. Foi até a cozinha, tomou um copo d'água e tentou organizar os pensamentos sobre como enfrentaria aquela situação, algo que jamais imaginou ter que lidar, especialmente àquela altura da vida.

No quarto, mesmo resmungando, Soraya se vestiu e desceu para encontrar Simone, que a esperava sentada no sofá. Antes de sair, foi até a cozinha, pegou um cacho de uvas e, enquanto comia, cutucou Simone, caminhando em direção à porta.

— Eu realmente tenho que te amar muito para fazer isso! — Soraya resmungou, em voz alta, de propósito.

Elas desceram pelo elevador e foram até a garagem. Entraram no carro de Simone, um Civic preto, e partiram em direção à casa de Soraya, que estava claramente insatisfeita com toda a situação, mas sabia que, no fim, Simone tinha razão.

O trânsito estava tranquilo, e o percurso seguiu sem complicações, apesar da carranca de Soraya. Como sempre, Simone dirigia com a mão pousada na coxa esquerda de sua namorada. Mas, de repente, um arrepio percorreu sua espinha, deixando-a em alerta máximo.

DANGEROUSLY IN LOVEOnde histórias criam vida. Descubra agora