Herdeiros

o reencontro

-Esse merda! - o grunhido do alfa Park fora o único ruído na sala assim que a porta de fechou num estalo breve.

Jimin se prontificou em cumprir sua agenda da semana como filho do governador. Se mostrou um doce ômega, prestativo e amável.

Foi em sessões de fotos e reuniões de ONGs as quais o partido do pai apoiava. Ajudou com assuntos da campanha política, dando entrevistas para alguns jornais e revistas.

Mas dentro de si, fora daqueles holofotes e corridas políticas, ele somente podia pensar nas corridas de verdade.

Fazia tempo que não vestia sua face de Kitty. O motociclista só queria sentir aquela sensação novamente. A adrenalina na veia, o calor do capacete, o tremor da moto.

Jimin precisava voltar, mas a história com Min Yoongi não estava resolvida. Ao menos não soube do falecimento do filho do senador, o que indicava bons ares.

Estava acompanhando o irmão numa reunião breve com acionistas do partido, mas a visita inesperada do senador Jeon e seu filho foi o que desestabilizou todo o recinto.

A carranca de Jiyong permaneceu até o fim, enquanto o alfa JungKook somente tinha olhos descarados para o ômega.

-Sei que o odeia, mas precisa ao menos fingir simpatia. - suspirou o mais novo, caminhando com os braços cruzados até a vidraça larga.

A vista da cidade escondia suas bochechas vermelhas e o barulho dos carros lá embaixo acalmavam seu coração disparado.

-Não quando aquele merda sabe de algo. - grunhido mais feroz.

-Ele já teria usado a informação se quisesse nos ferir. - suspirou pesado, o coração apertado. -Me ferir.

-Se ele mexe com você, mexe com a nossa família. - disparou bruto. -E eu não vou deixar aquele pilantra nos atingir.

A forma como o irmão tornava tudo tão agressivo, fazia Jimin tremular. Conhecia bem o mais velho, sabia sobre suas tendências ferozes, era um alfa de alto porte, ele tinha sentidos aguçados demais. Porém, quando se tratava de JungKook, tudo parecia pior.

Jimin nunca vira Jiyong tão enfurecido.

-Ele não fará nada. - disparou firme, respirando fundo. -E se fizer, vamos dar um jeito. - a forma ameaçadora que usou pareceu alimentar o irmão da forma certa.

-Sim, iremos. - assentiu. -Vá, acho que você merece um descanso da política. - sugeriu.

Em silêncio, recatado, Jimin assentiu. Desejou um bom resto de dia para o irmão e se foi.

No corredor, ele respirou fundo. O vazio o consumia lentamente, porém, apenas de pensar que seu futuro seria semelhante ao do irmão, ele de sentia amargo.

Não tinha certeza se odiava tudo aquilo, mas tinha conhecimento de que precisava de algo a mais. Algo que o fizesse se sentir vivo.

-Seu cheiro é enlouquecedor, sabia? - ouviu o soprar em seu pescoço.

Seu corpo congelou, arrepiado. A voz quente surgiu rápida e sorrateira, indo embora do nada.

Atordoado, Jimin ergueu o rosto. Os olhos arregalados e assustados.

Era ele.

-Não foi embora ainda? - disparou de volta, tentando controlar seu corpo e mente.

JungKook estava dentro de um terno despojado. Os cabelos rebeldes incorrigíveis, belos, os olhos afiados. A beleza nada puritana dele era absurda.

Jimin o achava bonito demais. Perigosamente bonito demais.

-Não quando tenho a oportunidade de ouro em mãos. - respondeu.