capítulo único.

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Eu estava deitado na cama da sala 04 do hospital, aguardando a visita de algum familiar. Todos me abandonaram ao descobrirem o meu tumor no cérebro. Sinto falta do estresse diário da escola, da paixão por obras de Van Gogh e de ter uma vida fora desta cama hospitalar.

O dia já amanhecera há algumas horas, e eu esperava a enfermeira trazer meu café da manhã e um livro para ler quando estiver  entediado.

Minha rotina tediosa foi momentaneamente interrompida quando um rapaz adentrou pela porta da minha sala. Ele estava ligeiramente ofegante, com suor na testa.

—— Ah, oi! Eu não tinha visto que havia um paciente aqui. - ele diz, colocando as mãos nos joelhos e se abaixando para me cumprimentar.

—— Aliás, meu nome é Jay. - ele se aproxima da cama.

—— Prazer, Yang Jungwon. De quem você está fugindo? Parece nervoso. - Resmunguei enquanto aperto a mão do jovem.

—— Está tão evidente assim? Enfim, estou fugindo da minha mãe. Ela é paciente deste hospital e está tentando me fazer ir comprar algumas coisas para ela, mas eu não quero ir.

—— Queria ter a sorte que sua mãe tem de ter alguém para visitá-la. - resmunguei.

—— Vamos fazer um trato: eu venho te ver toda semana e você me ajuda a me esconder da minha mãe aqui no seu quarto, em vez de me esconder no jardim. - Ele diz, sentando no pé da minha cama.

—— Combinado então. O que você gosta de fazer, Jay? - Pergunto, tentando puxar assunto com o rapaz.

—— Eu adoro música, dança, cinema e pintura. Mas, por favor, não me chame de artista ou qualquer outra coisa assim. Estou cansado de ouvir essas baboseiras.

—— Imagino que você não seja lá essas coisas. - Falo, tentando manter a cara séria e não rir.

—— Quer testar minhas habilidades, hm? - murmurou Jay com um sorriso nos lábios.

—— Pode ser. Me mostre o que você sabe fazer, pinte um quadro para mim.

—— Entendido, senhor Jungwon. - Diz Jay com um tom irônico.

[...]

Esta foi a primeira vez que conversei com a melhor pessoa que já conheci, ele se tornou meu melhor amigo e o amor da minha vida.
No dia nove de fevereiro, há três meses, eu estava indo visitar Jungwon, pois era o aniversário dele. Quando cheguei ao hospital e pedi para vê-lo, percebi que as enfermeiras faziam uma cara um pouco estranha, então decidi ir à sala dele por conta própria.

O dia estava nublado, com nuvens cobrindo parte do céu e do sol. Eu não gostava muito de dias nublados até conhecer Jungwon. Ele era meu sol; apenas a presença dele no meu dia a dia já me deixava feliz. Mas algo mudou quando passei pela porta do quarto 04.

—— Feliz aniversário, pequeno e rabugento Jungwon! - Falo ao abrir a porta. No entanto, ao perceber que não há ninguém deitado na cama, nem mesmo na cadeira da escrivaninha, meu mundo desabou.

Eu deixo o buquê que antes estava em minha mão cair no chão automaticamente quando vejo uma flor em cima da cama, juntamente com uma carta.

Me aproximo da cama e pego a carta que estava lá. Ao abrir o envelope, vejo uma pintura minha dentro, junto com uma carta.

“Querido Jay,

Espero que nunca leia esta carta. Mas, se você estiver lendo isso, peço que me perdoe. Me perdoe por não ter conseguido aguentar, por não ter casado com você quando pude... Ou quando estava vivo. Eu só te peço uma coisa, Jay: não me esqueça, mas também saiba superar minha morte e viva como se isso não tivesse acontecido... Espero que você se torne um pintor famoso, pois você merece tal reconhecimento. Se existir vida após a morte, quero que saiba que estarei sempre ao seu lado, mesmo em outro plano espiritual. Lembre-se de que você sempre será o meu artista, independente de onde eu estiver. Eu amo você, e sempre irei amar.

Com amor, seu Jungwon.”

Após a leitura da carta, percebo que meu rosto está encharcado de lágrimas salgadas. Limpo as lágrimas, deixo o buquê de flores em cima da cama e pego a carta. Saio da sala 04 ainda chorando, passando pelos corredores vazios e repletos de tristeza até chegar à porta do hospital.

Além da morte da minha mãe, agora terei que superar a perda do amor da minha vida.
Jungwon, você não tem ideia de quanta falta você faz. Sinto muita falta de voltar da floricultura e ir te visitar no hospital, logo em seguida te presentear com flores e alguns doces. Ver sua felicidade ao receber tais presentes era o motivo do meu viver.

Obrigado por tudo, meu querido Jungwon.

my little star | jaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora