correio de voz; Elizabeth W.

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Elizabeth Webber foi uma péssima namorada.

Brigas constantes que resultaram nela passando mais tempo no trabalho para evitar falar com você e se desculpar, quanto mais tempo no trabalho mais estresse Elizabeth acumulava, e quanto mais estresse ela acumulava, mais tempo ela passava bebendo em bares, quanto mais tempo ela passava bebendo, mais tarde ela chegava em casa, e quanto mais tarde Liz chegava em casa, mais brigas.

Mas você genuinamente gostava dela.

Os poucos momentos em que vocês passavam juntas, todas as poucas vezes que Elizabeth era sincera sobre seus sentimentos com você, todas as vezes em que ela lhe beijava, todas as vezes que ela despiu você em sua cama e lhe fez ficar acordada até altas horas da madrugada. Você realmente a amava.

Você genuinamente amava-a.

Todos à sua volta sabiam que esse relacionamento já estava acabado, bastava apenas alguma de vocês duas oficializar isso. Quando você saiu do apartamento vazio de Liz pela última vez um frio percorreu sua barriga e uma dúvida surgiu em sua cabeça se estava fazendo o certo em cortar esse laço com a mulher, mas as palavras de seus amigos foram mais altas que a dúvida, fazendo você trancar a porta do local e ir embora sem olhar pra trás.

[...]

Desde que havia largado sua ex, sua vida deu uma virada de chave. Se ignorar as 5 ligações que ela fez às uma e quarenta e sete da manhã no dia em que você terminou com ela perguntando o que diabos aquele post-it mal escrito significava, tudo ocorrerá bem. Seus dias deixaram de ser rondados por ansiedade e o estresse que Elizabeth lhe causava por causa de seu emprego já era praticamente inexistente.

Mas ela ainda insistia em te ligar de vez em quando, e toda maldita vez ela deixava um correio de voz. Ela sabia o quanto você odiava quando faziam isso, e mesmo assim ela fez questão de deixar um toda vez. Você até considerou atender apenas para ouvir se ela iria lhe cuspir motivos esfarrapados para o término de vocês, se ela iria pedir desculpas e implorar para você voltar ou lhe chamar pra transar, ou os três, nessa exata ordem. Mas você resilientemente ignorou todas as tentativas de contato da mesma, seria muito baixo aceitar uma chamada dela.

como se deixar o número dela desbloqueado não fosse, né?

Em uma noite nada particular em que você havia tido um mal dia no trabalho você viu seu celular tocar novamente. Você ponderou se valeria a pena, mas no final acabou recusando a ligação, por mais que você quisesse alguns abraços e um carinho nas costas. Porra, já fazia um ano que vocês terminaram, você vai mesmo ter uma recaída agora?

Mas, ao invés de deixar o correio de voz que ela sempre deixava, o número não salvo ligou de novo.

Você não conteve uma expressão de dúvida estranhando a situação e pegou o celular para ver se realmente era outra chamada do mesmo número. Com o dedo a milímetros do botão para recusar novamente a chamada, você deu o braço a torcer e atendeu a ligação. Elizabeth nunca ligava duas vezes seguidas por nada.

Relutantemente você aceitou a ligação já no terceiro toque.

— Alô? — Uma voz de um homem falou ligeiramente hesitante do outro lado da linha — É a [Nome]?

— Sim, com quem eu falo?

— meu nome é Arthur Cervero, eu era colega de trabalho da Liz e... você parecia ser importante pra ela e... — Você realmente considerou desligar assim que ouviu que não era Elizabeth ligando, uma pontada de tristeza que você se recusaria a admitir que estava ali, mas assim que Arthur faz menção em ser colega de Liz sua atenção redobra nas palavras do homem, que estava visivelmente complicado com o que iria dizer.

— E eu vim te dizer que a senhora Liz morreu — Da mesma maneira súbita que a coragem se veio para Arthur também havia parado seu mundo.

Um silêncio atordoante se formou por longos segundos enquanto você processava o que acabara de ouvir.

—... O que?

— Eu sinto muito que você tenha descoberto assim depois de tanto tempo... se você quiser saber mais sobre a gente pode, não sei, talvez se encontrar no antigo apartamento dela pra falar isso? — Arthur esperou até que você respondesse, talvez ele achasse que havia falado tudo muito rápido, o que de fato ele fez, e que você só estava tentando compreender sua fala, mas o silêncio do seu lado da linha telefônica se estendeu até que ele o quebrasse novamente — Bem, qualquer coisa é só retornar pra esse número se você quiser saber algo...

— Certo. Assim que eu puder eu... eu vejo algum dia pra isso.

— Tá certo então. Eu sinto muito mesmo. — O homem praticamente sussurrou a última frase, quase como se você não devesse ouvi-la, e desligou a chamada.

A última coisa que você se recorda antes de provavelmente apagar de cansaço é de encarar a tela do seu celular com a vista borrada enquanto algumas singelas gotas que rolavam suas bochechas e pingavam sobre a película de vidro.

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⏰ Última atualização: Nov 06 ⏰

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MORTEL; ordem paranormalOnde histórias criam vida. Descubra agora