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Cristian

Abro meus olhos. A dor é insuportável. Me forço a respirar.

Não vou ouvir seus comentários espertos.
Não vou ver seu revirar de olhos sempre que algo te incomoda.
Não vou sentir sua pele quente.

Qual é a verdade agora...? Não sinto nada...é apenas um momento de ignorância. Tentativas falhas.

– vejo que acordou. - ouço a voz de Santiago ecoar.

Não estou mais algemado. Porém...estou preso. Um quarto que pega pouquíssima luz e uma única porta de saída. Sua voz ecoa de algum lugar. Não ligo. Na verdade não poderia me importar menos.

– Vamos Cristian supere. - ele diz em algum tipo de alto falante.

Tento me sentar. Encaro as paredes. Tudo parece sem graça.

– vai ficar em silêncio? Era só uma buceta. Você pode encontrar outra. Melina Bryon era apenas uma,  como qualquer outra. - a raiva começa a voltar.

– tire a porra do nome dela da boca. Você não é digno disso. - me sinto falhar em cada respiração. Meu peito parece apertar mais.

O sentimento não vai embora. E me corrói e me derruba. O sinto em cada parte de mim. Quanto mais respiro mais sinto doer.

– você não conseguiu proteger ela. Não seja tolo. Supere isso. Eu não tenho um filho fraco. - Suas palavras parecem perder o efeito.

Ele tem razão. Eu falhei. Eu não protegi a única pessoa que eu amei.
É como um pesadelo interminável. Insuportável. O que adianta viver assim? Se a única pessoa que tornava a minha vida menos tediante era ela. Meu raio de sol. Agora sem ele há apenas dias nublados. Se eu sair daqui...e depois? Não vou ver mais seus cabelos azuis. Vai ser só uma lembrança de dias felizes.

~

Não sei mais se estou dormindo ou acordado. A sensação é de flutuar. Ou estar imerso a água.

– Cristian. - essa voz.

Levanto meu rosto e encaro uma figura que sei que não é real. Mas finjo ser. Ela se senta ao meu lado na cama.

– um sonho doce e cruel. - comento.

Mesmo que tudo não passe de um fruto do meu desespero eu gostaria de ficar aqui. A figura se deita, sua cabeça em meu colo. Encaro seus olhos castanhos. Sorrio levemente.

– eu posso ficar aqui? - aliso seus cabelos azuis.

A realidade parece inútil agora. Eu pesso então que fique aqui. No meus sonhos. Aqui posso te encontrar todos os dias.

– o que te adianta ficar aqui? Eu estou morta Cristian. Não seja um bebê chorão. Isso é culpa sua. - a figura começa a sumir.

Olho em volta desesperado.

– volta. Por favor. Desculpa. - tento gritar.

Não consigo. Me falta fôlego pra isso. O lugar ficar frio. Silencioso.

– Volta...volta pra mim. - meu peito contrai. As lágrimas rolam.

Abro meus olhos. Agora parece que o pesadelo é a realidade. É um novo dia. Não sinto fome. Tudo que restou foi algo quebrado. Um corpo fudido e uma alma estilhaçada. Quantas vezes é necessário queimar?

As palavras ecoam no meu cérebro me lembrando o quanto sou inútil.

Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua
Isso é culpa sua.

As lágrimas voltam a sair. Descontrolado. Me sinto assim. Poderia morrer agora? Pouco provável. Não devo servir nem pra isso nesse estado.

~

Votem! Bjss.

A moça do necrotério. (Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora