sob seu olhar | Rebeca Andrade & Simone Biles | Rebiles

2016, Rio de Janeiro

Notas da Autora:

Uma dificuldade que tive aqui foi de demonstrar a dificuldade linguística. A solução que encontrei foi em misturar português e inglês nos momentos em que Rebeca não entender o idioma e utilizar o itálico quanto estiver fluindo bem.

Espero que gostem! Lembrando que tudo aqui é apenas ficção e devemos o máximo respeito por ambas.

Todos os campeonatos e competições mencionados em que uma ou outra competiram são reais.

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Rebeca Andrade não surta. Isso é algo publicamente conhecido e que ela, particularmente, se orgulha muito. Então, veja, é de se compreender que Flávia Saraiva esteja  completamente desconcertada e Lorrane Oliveira queira lhe arrancar o celular da mão ao encontrá-la à beira de um colapso com a mais nova novidade do mundinho da ginástica.

Simone Biles casou. 

Em retrospecto, Rebeca se pergunta em que momento poderia ter evitado esse sentimento. 

Talvez em Tóquio, 2021, quando se perdia nos corredores, quartos e paredes do alojamento estadunidense com Simone já em um relacionamento com o atual marido.

(Isso era karma por compactuar com traição ao se relacionar com alguém que namorava, é isto!)

Na verdade, pensando bem, não. 

Provavelmente o que deveria ter acendido um grande sinal de alerta vermelho-brilhante, piscando e com sinais sonoros para Rebeca foi quando, em 2019, ela decidiu dias mais cedo à Stuttgart, para passar um tempo com Simone que, por sua vez, estenderia sua estadia na cidade alemã após sua apresentação para ir embora apenas logo antes da competição da brasileira.

Mas talvez ali, em 2019, já estivesse longe demais. Talvez ali Rebeca já não estivesse mais no controle de seus sentimentos e ações.

Talvez o ponto de virada na linha do tempo delas pudesse ter sido em 2018, durante o Campeonato Mundial de Ginástica no Qatar, onde beijos e carícias entre elas eram literalmente proibidos por lei e ainda assim elas deram um jeito. No Qatar, pelo amor de Deus!

Se Rebeca Andrade fosse realmente sincera, talvez o que trouxe ela a esse banheiro de bar, piscando repetidas vezes para evitar que as lágrimas caíssem, com as palavras de afirmação e acolhimento de suas amigas apenas de plano de fundo, tenham sido sentimentos que cresceram nela ainda antes de transbordaram em toques sutis, carícias proibidas e confissões movidas por álcool.

Talvez ela sempre estivesse destinada a se apaixonar de novo e de novo por Simone Biles.

2016
Rio de Janeiro, Brasil

A primeira competição internacional de Rebeca Andrade foi em 2012 e de lá pra cá ela já foi da Colômbia à Eslovênia, passando por Estados Unidos, Portugal e outros países de uma ponta a outra do mapa.

Já estava acostumada, sendo menor de idade, às burocracias para que pudesse viajar sem responsáveis, a barreira linguística que muitas vezes a impedia de se relacionar com atletas que tanto admirava e as longas horas em aviões que por vezes atrapalhavam seu rendimento.

Que sorte ela sentia de que sua primeira Olimpíada seria no seu país. Seu peito batia calmo a cada passo que dava na Vila Olímpica, e a voz de Flávia Saraiva, sua melhor amiga, confidente e companheira de sempre, era apenas plano de fundo. Seus olhos observavam a estrutura, muitos espaços coloridos de verde-amarelo-azul-e-branco, lembrando-a de que ali era, antes de tudo, sua casa apesar das diferentes bandeiras e cores que cobriam os uniformes dos atletas que cruzavam seus caminhos.